A exposição “Avistamentos”, que abre para o público nesta quinta-feira (7/3), no RH Espaço Arte, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, é um retrato do artista plástico, escritor e jornalista Walter Sebastião feito ao longo de quase 10 anos, desde quando se mudou, em 2015, de BH para Vitoriano Veloso, distrito do município de Prados, próximo a Tiradentes, também conhecido como Bichinho.
A mostra reúne cerca de 30 obras produzidas neste período, divididas em duas séries. Uma delas, batizada “Topografias”, se ocupa das paisagens de Minas, mais precisamente as montanhas, que são um símbolo do estado. “Ainda morando em Belo Horizonte, eu já fazia montanhas. Existem serras maravilhosas em praticamente todas as cidades mineiras, Tiradentes, Juiz de Fora e mesmo na capital, que tem a Serra do Curral. Parece óbvio, mas não deixa de ser muito interessante”, diz Sebastião.
A outra série é a que batiza a exposição. “Avistamentos” contempla uma maior diversidade temática e conceitual, abarcando desde “coisas dramáticas até o puro prazer visual”, de acordo com o artista. Ele destaca que, nessa série, incorpora ou produz deliberadamente tudo aquilo que é tradicionalmente eliminado da linguagem visual: as rasuras, as manchas, as falhas, os defeitos, as dúvidas.
VISUAL ÁSPERO
“Para mim, tudo é matéria, a cor, a moldura, tudo, então, nesse sentido, é um visual mais áspero que apresento nessa série. Às vezes, tem coisas muito delicadas, mas construídas com um visual áspero. Incorporo como se fosse tudo parte de uma mesma grafia. Avistamento significa 'até aonde a vista alcança', e é isso o que esses trabalhos oferecem. Eventualmente, alguém diante de uma dessas obras pode ver mais coisas até do que eu mesmo vejo”, ressalta.
Ele diz que os suportes e materiais empregados nas criações são variados. O conjunto em exposição traz pinturas em acrílico, gravuras, colagens, interferências e desenhos em papel. O período dilatado ao longo do qual foi produzido explica não só essa diversidade de recursos, mas também o fato de não haver apenas uma fonte de inspiração ou um mote central em torno do qual as obras giram, segundo Sebastião.
“A ideia é precisamente essa, pegar um panorama mais ampliado, tentar mostrar não só o que foi feito na semana passada, porque, dessa maneira, as pessoas podem ver o desenvolvimento de uma década, as diferenças, as afinidades e as voltas aos mesmos temas”, pontua. Curador da mostra, o poeta, tradutor e historiador Ronald Polito observa como a arte produzida por Sebastião ao longo da última década e reunida na série “Avistamentos” se relaciona com o ambiente do qual ela brota.
CERCAS QUE APARTAM
“Há também algo de rural em tudo isso. Aos elementos vegetais se somam os animais do campo, os céus constelados. Mas uma vegetação quase sem flores. E com cercas por todos os lados, dividindo, apartando, obstruindo o livre espraiamento da natureza. Cercas que eventualmente são cruzes, sinais de morte, duplicando o luto dos fundos negros”, escreve, no texto de apresentação da mostra. Ele também recorre a expressões como “lirismo soturno” e “circunspecção que evita a leveza e a gratuidade”.
Sebastião assente que há algo de tristonho neste conjunto de obras. “Não sou pessimista; sou militante, e não existe militante triste, mas busco um elemento mais reflexivo. Estamos vivendo num tempo que não é fácil, seja em função de coisas minúsculas que acontecem na nossa rua ou de coisas globais, que deixam a gente perplexo”, diz.
Durante a abertura da exposição, amanhã, o artista aproveita para lançar seu novo livro de poemas, “Errante grafia” (Mandala Produções, 2023).
PRODUÇÃO ARTÍSTICA
Artista plástico autodidata, Walter Sebastião apresentou seu trabalho pela primeira vez no 1º Salão de Arte da Prefeitura de Juiz de Fora – sua cidade natal –, em 1972. Posteriormente, participou de outros salões e mostras coletivas. Ele também foi repórter, das editorias de Cultura dos jornais Tribuna de Minas (Juiz de Fora) e Estado de Minas.
“AVISTAMENTOS”
De Walter Sebastião. Abertura da mostra nesta quinta-feira (7/3), às 19h, no RH Espaço Arte (Estrada Engenheiro Gentil Forn, 1.805, 2º piso, Morro do Cristo), em Juiz de Fora. Em cartaz até 30 de março. Visitação de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h, e aos sábados, das 9h às 13h. Entrada gratuita