Considerado pintor pioneiro da paisagem brasileira e primeiro paisagista das Américas, o holandês Frans Post (1612-1680) ganhou, em 2006, um catálogo raisonné, organizado pelo casal de curadores, colecionadores e pesquisadores da história da arte Pedro e Bia Corrêa do Lago. Naquele mesmo ano, o volume ganhou uma edição em inglês, que se tornou referência mundial. Em 2009, veio à luz uma reedição da obra. Agora, passados quase 15 anos, acaba de ser lançado um novo catálogo, revisto e ampliado.


Esta terceira edição, intitulada “Frans Post – Obra completa (1612-1680)”, é acrescida de dois quadros a óleo e de 34 desenhos da fauna brasileira, descobertos apenas em 2014, com animais que aparecem, nas pinturas do artista, inseridos na paisagem, mas que agora podem ser vistos como unidades. Pedro explica que foi precisamente essa descoberta que ensejou a feitura dessa nova edição do catálogo.

 




“Com esses dois quadros, autenticados depois do lançamento de 2009, e com os 34 desenhos fabulosos de animais, consideramos que tínhamos um material que justificava uma nova edição. Some-se a isso o fato de que as duas anteriores já estão esgotadas há muito tempo. A lógica dos catálogos raisonné é essa, a gente renova à medida em que surgem novas peças importantes”, explica.


Sobre os desenhos, ele diz que eram obras preparatórias para os quadros do artista, e que não se tinha notícia de que algum houvesse sobrevivido à passagem dos séculos. “A gente já sabia que Post levou do Brasil muitos cadernos de desenhos, que serviram, depois, como referência para muitos dos quadros que pintou. Praticamente todos esses desenhos preparatórios se perderam, por isso essa descoberta é muito interessante”, diz.


Pintor do Brasil

 

Ele chama a atenção para o fato de que os contemporâneos de Frans Post, no chamado Século de Ouro da Pintura Holandesa, tinham, cada um, sua especialidade: uns se dedicavam a representar tabernas, outros tinham o foco nas florestas e ainda havia aqueles que se especializaram nas paisagens nevadas de seu país. “Ao longo dos anos, Post fez carreira como 'o pintor do Brasil'. Ele era o único que tinha estado na 'lua', no caso, o Novo Mundo ou as Índias Ocidentais, como era chamado na época”, pontua.


O trabalho de Pedro e Bia em torno da vida (sobre a qual praticamente não há registros) e da obra do artista holandês teve início em meados dos anos 1990. O projeto de um primeiro catálogo raisonné de Post brotou por volta de 1995 e demorou cerca de 12 anos para ser concluído, até o lançamento da primeira edição. A demora se deu pelo fato de que suas obras estavam espalhadas por mais de 80 museus e coleções particulares ao redor do mundo.


“Sempre tive interesse por pesquisa histórica, trabalhava como representante da Sotheby's no Brasil desde os 28 anos. Comecei a observar que Post despertava interesse lá fora, apesar de o tema de suas pinturas ser sempre o Brasil. Ele foi, aliás, o único artista a pintar o Brasil que alcançou essa repercussão internacional”, observa Pedro.


O colecionador diz que os incansáveis estudos sobre o artista permitiram criar uma divisão de sua obra em quatro fases distintas – o que considera uma contribuição decisiva para a apreciação de seu legado. “A última fase compreende 40 quadros produzidos quando ele já tinha problemas de visão e também com o alcoolismo, o que uma carta descoberta em arquivos revela. Post morreu com 68 anos, o que, para a época, era bastante idade.”

 

Última fase


Os quadros dessa última fase “são fracos”, conforme aponta. “Se ele tivesse que ter a reputação baseada só na última fase, não seria considerado um pintor importante. Termos conseguido isolar essa quarta fase e mostrar a excelência das outras três é muito importante. Diziam que era um pintor menor, que só brasileiros compravam. Hoje ele está na sala principal dos paisagistas holandeses do Metropolitan de Nova York”, cita.


Pedro situa que, ao longo dos últimos 30 anos, a reputação de Post se fortaleceu bastante e que o catálogo raisonné lançado em 2006 contribuiu decisivamente para que ele alcançasse outro nível de prestígio e reconhecimento ao longo dos últimos 20. “A edição em inglês se tornou uma obra de referência. Não surgiu, depois disso, quem contestasse as decisões do nosso comitê de autenticação”, afirma.


PRESENÇA HOLANDESA

“Frans Post – Obra completa (1612-1680)” reúne mais de 400 imagens, entre as quais 160 óleos, 93 desenhos e 35 gravuras, registradas de museus e coleções particulares em todo o mundo.

Desembarcado no Brasil holandês de Maurício de Nassau em 1637, com 24 anos de idade, o artista tinha como missão registrar “o exótico, o diferente, o novo, o surpreendente, aquilo que não deixaria de excitar a curiosidade, de chamar a atenção das elites europeias”.

A terceira edição de seu catálogo raisonné apresenta o painel da passagem de Post pelo Novo Mundo, bem como revela, nas imagens e na história do artista, a presença dos holandeses no Nordeste do Brasil, uma singular circunstância no mundo colonial.

“FRANS POST – OBRA COMPLETA (1612-1680)”
• Editora Capivara (448 págs.; 3ª edição)
• R$ 195

 

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