A CâmeraSete abre nesta quinta-feira (14/3), às 19h, exposições dos vencedores do 4º Prêmio Décio Noviello, promovido pela Fundação Clóvis Salgado. O projeto Núcleo Nômade de Fotografia, criado por André Baumecker e Marcelo Castro, aposta na construção coletiva imersiva, com base em caminhadas urbanas e imagens. Já “Terra vinga”, com fotos de Marlon de Paula, dialoga com as marcas da colonialidade no território mineiro, ou seja, as consequências da lógica predatória que persistem após séculos de exploração predatória por parte dos colonizadores.

 


Até 25 de maio, “Núcleo Nômade de Fotografia – Fotolivro em movimento” poderá ser conferida no espaço 1, enquanto “Terra vinga” ocupará o Espaço 2 da CâmeraSete.

 



 


O Núcleo Nômade de Fotografia se propõe a transformar o caminhar em ato artístico por meio da imagem e de experiências de seus integrantes. O projeto de André Baumecker e Marcelo Castro parte da realização de residência de duas semanas, em que autores de todas as idades trabalharão na produção de fotolivros.

 


“Há dois anos, eu estava fazendo mestrado em performance e comecei a pesquisar o caminhar como prática estética. O André tem uma pesquisa com fotolivros e trabalha a parte gráfica. A ideia nasceu do nosso encontro, em que unimos as duas coisas”, afirma Marcelo Castro.

 


Nesta quinta à noite, a mostra se inicia com a galeria quase vazia. Artistas residentes vão criar fotolivros aos poucos, expondo o que for produzido a partir de suas experiências em caminhadas urbanas.

 


“A abertura é o primeiro dia da residência. O que estará exposto é uma máquina de xerox, onde vamos imprimir e criar o processo gráfico com os participantes, além de três mesas com alguns livros. Durante duas semanas, vamos trabalhar todos os dias, e o público poderá acompanhar, em tempo real, o processo de criação dos fotolivros e das imagens da exposição”, explica Marcelo.


São João del-Rei

 

Em “Terra vinga”, Marlon de Paula explora paisagens que carregam a marca da chamada colonialidade. O título do trabalho faz alusão ao território que perdura, depois de séculos de exploração, mas que também devolve à humanidade as violências cometidas contra ele, o que explica a crise ecológica atual.

 


A experiência vem da vivência de Marlon na região de São João del-Rei. “Ali, passei a ter um olhar mais interessado na transformação dos cenários que a colonização causou naquele território para além das questões da arquitetura da cidade”, explica.

 

 

Neste contexto, o chamado “maravilhoso geográfico” reúne mitologias de influência europeia e indígena a respeito dos mistérios e maravilhas da colônia na América. Já o cobiçado Sertão dos Cataguases – que hoje corresponde ao território de Minas Gerais – foi amplamente explorado pelo colonizador europeu em busca de riquezas, como ouro e pedras preciosas.


Marlon lembra que todo esse processo culminou na escravização dos indígenas e na degradação do território.


“Gosto muito de um pensamento do geógrafo Milton Santos, que separa o território como recurso e o território como abrigo. É interessante pensar como essas paisagens, que eram abrigo para as populações autóctones, passaram a ser vistas como um recurso a ser explorado”, comenta.

 

Fora do convencional


O artista destaca a importância da dimensão histórica e social de seu projeto, explorada por meio de fotografias que fogem do convencional.


“Tento gerar muita fricção nas minhas imagens. A fotografia, por si só, jamais terá a capacidade de traduzir a experiência de estar em um território degradado e explorado, em que o observador se vê diante do cenário catastrófico formado por um colonialismo gritante. Por isso, só consigo contar esta história indo além da capacidade representativa que a fotografia pode fornecer”, explica o autor de “Terra vinga”.

 

 

NÚCLEO NÔMADE DE FOTOGRAFIA E “TERRA VINGA”


Trabalhos vencedores do 4º Prêmio Décio Noviello de Fotografia. Abertura nesta quinta-feira (14/3), às 19h, na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais (Avenida Afonso Pena, 737, Centro). Em cartaz até 25 de maio, de terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h. Entrada franca.

 

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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