São Paulo, 1986, Masp. Mais de um século depois de composta, a “Pequena missa solene” (1863) teve sua primeira audição no Brasil. A apresentação foi comme il faut o compositor Gioachino Rossini (1792-1868) havia previsto: dois pianos, harmônio e vozes.

 

Belo Horizonte, 2012, Palácio das Artes. A “Pequena missa solene” teve sua segunda audição no país, agora em versão orquestral, assinada pelo italiano três meses antes de sua morte.

 

Roberto Tibiriçá se apresentou nos dois concertos – no primeiro, ao piano; no segundo, como regente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG). “A música é muito bonita. Rossini, conhecido como compositor bufo, estava mais velho. Então a inspiração aqui é mais contemplativa”, comenta o regente.

 


Doze anos mais tarde, Tibiriçá encabeça novamente uma apresentação da “Pequena missa solene”. Serão dois concertos – nesta terça-feira (19/3), às 12h, e na quarta (20/3), às 20h – no Palácio das Artes, com OSMG, Coral Lírico de Minas Gerais e os solistas convidados Lorena Pires (soprano), Edineia de Oliveira (mezzo-soprano), Daniel Umbelino (tenor) e Sávio Sperandio (baixo-barítono). O programa integra a série “Concertos da liberdade”.

 



 

Pecado mortal

 

O “pequena” é alusão à formação original da peça, não a seu tamanho (ela tem 90 minutos). Rossini a chamou de “o último pecado mortal de minha velhice”. “Ele engatou as óperas, uma atrás da outra: ‘O barbeiro de Sevilha’, ‘Semiramide’ (foram quase 40). A maioria tem um lado meio cômico. Mais tarde ele caiu nesta fase, em que vai se redimir dos pecados”, brinca o regente.

 

“É música santa ou santa música o que acabo de concluir? Nasci para a opera buffa, bem sabes! Pouca ciência, um pouco de coração, eis tudo. Sê pois, então, abençoado e concede-me o paraíso”, escreveu Rossini ao final do manuscrito da “Pequena missa solene”. A estreia ocorreu em março de 1864, em uma capela privada. Já a versão orquestral, que o compositor criou antes que outro o fizesse, no Théâtre Italien, em Paris – ele não chegou a vê-la.

 

 

O concerto de quarta-feira terá um sabor especial. Tibiriçá, que em 2024 atinge 70 anos de idade e 50 de carreira, será homenageado não só por sua trajetória, mas por uma conquista recente. Depois de quase dois anos – e a documentação de 5.460 páginas, ele conta –, o maestro paulistano receberá da Universidade Federal de Minas Gerais o título de Doutor por Notório Saber. A diplomação será realizada pela UFMG no segundo semestre, mas no concerto a Diretoria de Música da instituição vai fazer o anúncio oficial.

 

Como regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Roberto Tibiriçá comanda concerto gratuito no Parque Municipal de BH, em maio de 201O

Euler Jr/EM/D.A Press/9/5/2010

 

Atualmente à frente da Orquestra Sinfônica do Paraná, Tibiriçá, regente titular da OSMG entre 2010 e 2013, começou na música por influência familiar.

 

“Minha avó foi uma grande pianista, chegou a tocar no cinema mudo, e minha mãe também tocava. Aos 5 anos, ganhei meu primeiro piano e, aos 8, minha avó gastou todo o dinheiro que tinha para comprar ingressos para um concerto da Guiomar Novaes no Teatro Municipal de São Paulo. Aquele foi meu primeiro divisor de águas”, ele conta.

 

O segundo viria um tempo depois. Pianista do coro do Festival de Campos do Jordão, teve sua grande chance quando o musicista que acompanhava o maestro Eleazar de Carvalho em suas aulas adoeceu. Foi levado “morrendo de medo” para substituir o pianista.

 

 

“Ali me apaixonei pela regência e não larguei o velho. Fiquei 18 anos estudando com ele”, conta Tibiriçá, que foi galgando os degraus da carreira.

 


Depois de vencer, por duas edições seguidas, o Concurso para Jovens Regente da Osesp, assumiu as orquestras Sinfônica Brasileira, Petrobras Sinfônica, Sinfônica Heliópolis, OSMG, Sinfônica de Campinas, Filarmônica de São Bernardo do Campo e Sinfônica do Sodre, em Montevidéu, no Uruguai.


Piano fechado

 

Tibiriçá não cursou universidade de música, daí a importância do diploma por Notório Saber. “Sou ex-aluno salesiano. Fugi do colégio jovem para fazer música. E minha mãe me deu todo apoio.” Após a morte da mãe, fechou o piano. “Tocava mais para ela, e a regência foi ocupando todo o meu espaço.”

 


Começou a dar aulas particulares de regência há duas décadas. A experiência lhe rendeu o livro “Regente sem orquestra”. “É direcionado exclusivamente ao exercício da independência das mãos do regente.” Com edições em português e inglês, vem sendo utilizado em universidades, inclusive no exterior. Com a vivência em Belo Horizonte, o maestro criou raízes. “Um pedaço do meu coração está em Minas”, conclui Tibiriçá. 

 

“CONCERTOS DA LIBERDADE”


“Pequena missa solene”, de Rossini. Regência: Roberto Tibiriçá. Com OSMG, Coral Lírico de MG e solistas convidados. Quarta-feira (20/3), às 20h, no Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro,
(31) 3236-7400. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria e na plataforma eventim.com.br. A apresentação de terça (19/3), às 12h, sem a presença dos solistas, tem entrada franca
(não é necessário retirar ingresso).

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