Em 2022, a primeira edição da Feira do Livro de São Paulo foi realizada no esquema de mutirão. Com poucos recursos e sem patrocínio, ela só ocorreu porque editores e livreiros contribuíram de alguma forma – com os próprios braços, ajudando a montar os stands, e com garra, para viabilizar o evento.

 


“Cada um pegou com a mão, carregou livro e ajudou a idealizar o festival. Os autores que participaram o fizeram porque tinham interesse em participar da criação da feira”, conta Paulo Werneck, editor da Associação Quatro Cinco Um, idealizadora da feira em parceria com a Maré Produções. “Mas não dava para continuar fazendo assim”, pondera. “Trata-se de um mercado profissional, e a dignidade faz parte do trabalho. As pessoas têm de ser bem pagas.”

 


A Feira do Livro chega à terceira edição com mais aportes financeiros, vindos de incentivos públicos e privados. O evento será realizado entre 29 junho e 7 de julho, na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, na capital paulista.

 



 


Além de cerca de 150 editoras e livrarias, vão participar as escritoras argentinas Camila Sosa Villada, Camila Fabbri e Claudia Piñeiro, a antiguana Jamaica Kincaid, o norte-americano Jabari Asim e os brasileiros Bernardo Esteves, Caetano W. Galindo, João Moreira Salles, Natalia Timerman e Tatiana Salem Levy, entre outros.


Bibliodiversidade

 

A ideia, de acordo com Werneck, é transformar a feira em alternativa no circuito nacional de eventos literários. Os dias de programação foram ampliados, passando de cinco para nove, e a expectativa dos organizadores é receber 50 mil pessoas – 15 mil a mais do que ano passado.

 


“O mercado editorial brasileiro está vivendo momento interessante, há uma bibliodiversidade enorme. É isso que a gente tenta mostrar na feira. Planejamos programação conectada com os livros que caíram no gosto do público, viraram assunto e estão sendo discutidos. São obras que tratam de temas que fazem parte da nossa vida como leitores”, afirma Werneck.

 


Entre os temas em destaque estará o luto, que desde a pandemia tem encontrado na literatura ponto de apoio para ajudar a enfrentar perdas, além de dilemas familiares, masculinidade, maternidade e a luta contra o racismo.

 

 


Também estarão na pauta debates sobre o autoritarismo no Brasil e a ameaça à democracia. “O livro personifica a democracia, porque ele representa um ponto de vista. Na época do autoritarismo, não era permitido publicar certos livros. Editores eram presos e livrarias fechadas. O Brasil viveu isso. E, de novo, está flertando com esse momento”, ressalta.

 


“Não existe nenhuma democracia forte no mundo que tenha mercado editorial fraco – França, Espanha, Portugal, EUA... A vitalidade democrática desses países tem muito a ver com a vitalidade do mercado editorial. E, de verdade, acredito que o Brasil também integra esta lista”, conclui Paulo Werneck.

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