A Companhia das Letras anunciou neste sábado (06/7), em redes sociais, que o romance “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório, voltará às escolas do Paraná e de Goiás, após recolhimento dos exemplares a pedido de secretários estaduais de Educação. O movimento foi visto como censura por escritores, artistas e profissionais da educação.
“É com muita satisfação que informamos o retorno de ‘O avesso da pele’ às escolas do Paraná e de Goiás, após seu injustificado e ilegal recolhimento. Felizmente a decisão foi revista pelas Secretarias Estaduais de Educação e o livro volta a estar disponível para os alunos de Ensino Médio”, publicou a editora no Instagram.
A publicação ainda ressaltou que “O avesso da pele” foi inscrito e avaliado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) de 2021 para ser trabalhado no Ensino Médio, e que o título foi aprovado por uma banca de educadores, especialistas e mestres em literatura e língua portuguesa.
Também pelas redes sociais, Tenório comemorou a decisão, lembrando que “esse episódio serve para nos deixar mais atentos a qualquer tentativa autoritária em relação aos livros e a arte”. “Os livros voltaram para onde deveriam estar: nas mãos dos estudantes. Viva a literatura!”, escreveu ele.
Relembre o caso
Embora tenha sido aprovado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) e tido cerca de 90 mil cópias compradas e distribuídas pelo Ministério da Educação (MEC), “O avesso da pele” começou a ser recolhido das escolas devido a uma campanha de desinformação que se iniciou na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, a 150 quilômetros de Porto Alegre.
No início de março, a diretora de uma escola local publicou um vídeo reclamando da adoção do livro na rede pública, com o argumento de que a obra descreve cenas de sexo e contém expressões de baixo calão, inadequadas para estudantes do ensino médio (entre 15 e 17 anos).
Com a viralização do vídeo, o secretário de Educação do Paraná, Roni Miranda Vieira, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), anunciaram a retirada do livro das bibliotecas das escolas estaduais.
Somente no Paraná, cerca de dois mil exemplares foram recolhidos, de acordo com o secretário estadual de Educação. A justificativa foi a de que a tal cena de sexo infringe o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Caiado, por sua vez, também decretou o recolhimento da obra, mesmo tendo admitido em entrevista ao UOL que não chegou a ler o romance de Tenório.
Racismo, violência policial e um sistema educacional falido
Vencedor do prêmio Jabuti de 2021, “O avesso da pele” tem como cerne a violência policial, o racismo e um sistema educacional falido. Com uma narrativa simples, mas sensível - e, em alguns momentos, brutal - Tenório joga luz num país marcado por essas mazelas ao mesmo tempo em que traça um denso relato sobre as relações pai-filho.
O ponto principal do romance, no entanto, são as frustrações existenciais de dois homens negros num país racista na tentativa de encontrar a redenção, superação e liberdade de maneiras distintas.