O escritor, chargista e jornalista Ziraldo, que morreu neste sábado (6/4), aos 91 anos, além de criador de centenas de histórias e personagens, como o “Menino Maluquinho, influenciou a formação de muitos outros artistas e cartunistas. Um deles é Márcio Leite, ganhador de diversas premiações em salões de humor nacionais e internacionais. Ele é mineiro de Montes Claros, no Norte de Minas, tal como Ziraldo (natural de Caratinga, no Leste do estado).
Márcio Leite e Ziraldo conviveram diretamente, participando de salões de humor e cartum, e viajaram juntos para o exterior. O cartunista de Montes Claros também colaborou com o jornal “Pasquim 21”, lançado por Ziraldo no início dos anos 2000 como uma recriação do “Pasquim original”, que foi o mais famoso periódico da imprensa alternativa dos anos 1970 e 1980, nos tempos da ditadura militar.
“Tive a satisfação de ganhar inúmeros prêmios em salões de humor e cartum nacionais e internacionais. Tudo isso vem da inspiração de um porto seguro, que foi minha convivência com o Ziraldo e outros grandes cartunistas, sobretudo, no Pasquim 21. Isso acrescentou muito para mim, fazendo com que eu me tornasse um artista mais crítico, trabalhando minhas obras e produções com mais profundidade. Devo muito ao Ziraldo”, afirma Leite, citando também os nomes dos cartunistas Nani (que morreu em 2021) e Jaguar.
“Hoje é um dia muito triste por causa da perda do Ziraldo. Por outro lado, entendo que ele deve estar muito bem, muito feliz, porque fez muito bem ao Brasil. Além de nos fazer rir com os cartuns, Ziraldo nos fez refletir por causa das questões que ele abordou nos livros e nos desenhos", destaca o artista mineiro.
“O Brasil perdeu um dos dos maiores cartunistas do mundo. O Ziraldo é uma das pessoas mais criativas que conheci. Ele tinha uma capacidade de produzir que raramente um artista possui. Ele escrevia muito bem, com inúmeros livros publicados. Fazia quadrinhos, cartazes, pôsteres, marcas... Fez murais”, descreve Márcio Leite.
O cartunista recorda que começou a ser influenciado pela obra de Ziraldo ainda na adolescência, aos 16 anos, quando passou a fazer e publicar seus desenhos e conheceu “a Turma do Pererê” e outras obras marcantes do artista nascido em Caratinga. No início dos anos 2000, conta, ele teve a oportunidade de conhecer Ziraldo pessoalmente em um salão de humor em Montes Claros. A partir daí, os dois se aproximaram. “Surgiu uma grande amizade entre nós e visitei Ziraldo várias vezes no Rio de Janeiro”, relata Leite.
Márcio Leite lembra que, em uma das oportunidades, se encontrou com o criador do “Menino Maluquinho” ao participar e ganhar dois prêmios no XVIII Salão Carioca de Humor, na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, em 2007.
O cartunista natural do Norte de Minas também recorda de uma viagem que fez junto com Ziraldo à China, em 2011, quando ambos foram convidados para mostrar suas criações. “Permanecemos na China juntos durante 15 dias. Foi uma experiência incrível. Pude acompanhar e ver que o mesmo magnetismo que o Ziraldo tinha no Brasil, ele tinha junto aos chineses, especialmente junto às crianças. Todo mundo ficou encantado com ele”, observa.
“O Ziraldo deixou um legado muito grande e uma produção maravilhosa. O que eu desejo é que todos nós possamos propagar toda a produção que o ele fez no decorrer da sua vida, fazer com que essa produção chegue às crianças e, no futuro, as pessoas possam entender e compreender toda a obra e trajetória do Ziraldo”, conclui Márcio Leite.