Um sucesso da música popular pode se tornar uma maldição? Essa maldição pode ser redentora? A resposta afirmativa a essas duas questões baliza a trama de “Evidências do amor”, longa protagonizado por Fábio Porchat e Sandy Leah, que estreia nesta quinta-feira (11/4). Com direção de Pedro Antônio, que também assina o roteiro com Luanna Guimarães, Álvaro Campos e Porchat, é uma comédia romântica singela, despretensiosa e que por isso mesmo funciona bem.
O filme foca na história do casal Marco Antônio (Porchat) e Laura (Sandy), que se apaixonam instantaneamente, após cantarem juntos em um karaokê a música “Evidências”, sucesso nas vozes de Chitãozinho e Xororó. O relacionamento termina de forma aparentemente abrupta após três anos de namoro. Passado um ano, Marco Antônio percebe que toda vez que ouve a música que uniu o casal volta ao passado, onde presencia, sempre, situações desagradáveis e discussões que teve com a ex-namorada.
O roteiro costura claramente – e de forma engenhosa, diga-se – referências de pelos menos três filmes: “De volta para o futuro” (1985), “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” (2004) e “Feitiço do tempo” (1993). Outras obras cinematográficas são evocadas de forma tangencial, como “Hair”(1979), a partir da cena da algazarra no banquete.
Apesar das alusões, “Evidências do amor” não soa como mera cópia ou pastiche. É um filme que tem vida própria, o que se deve, em grande medida, às soluções sagazes para caminhos do roteiro que poderiam levar a um beco sem saída. Por exemplo, quando Marco Antônio, em uma de suas viagens no tempo, descobre que, se encostar no seu eu de outrora, pode assumir o lugar dele, o que lhe permite mudar acontecimentos passados – essa mudança, no entanto, não se efetiva na vida real, fica só no plano da memória.
BOAS SACADAS
O filme entrega o que promete: como uma comédia romântica pede, tem momentos emocionantes e outros engraçados. De modo indireto, “Evidências do amor” também flerta com o sobrenatural e com a ficção científica. Outro mérito do longa é ter boas sacadas. Uma delas é a presença de José Augusto, autor (com Paulo Sérgio Valle) da música que move a trama.
A participação do cantor e compositor é fugaz, não chega a um minuto e meio de projeção, mas ressoa ao longo de todo o filme. Em uma das primeiras cenas, Marco Antônio e Laura chegam juntos para comprar a ficha do karaokê – Laura diz que quer cantar “Evidências”, de Chitãozinho e Xororó, e Marco Antônio fala, ao mesmo tempo, que sua escolha é “Evidências”, de José Augusto. O orgulho de saber quem é o autor do sucesso emerge em diversos momentos.
Outro achado é a relação do trabalho de Marco Antônio, um desenvolvedor de aplicativos, com a “maldição” que o acompanha. Ter como par romântico Sandy – filha de Xororó – também enriquece o conjunto da obra. A chave cômica do filme está praticamente toda com Porchat, ao passo que cabe à cantora e atriz a “parte fofura” da trama, como o próprio ator e corroteirista sublinha.
Ele está presente na tela em praticamente 100% do filme, que, basicamente, se sustenta em torno da dupla de protagonistas. A atriz Evelyn Castro, cuja personagem é amiga de Marco Antônio e uma espécie de faz-tudo no prédio em que ele mora, e a cantora e compositora Larissa Luz, que faz a chefe da empresa de tecnologia em que ele trabalha, até têm espaço generoso na trama. O restante do elenco, contudo, apenas compõe o cenário, aparecendo muito pontualmente.
Porchat e Sandy conseguem imprimir em seus personagens uma química de casal que funciona muito bem. O relacionamento de Marco Antônio e Laura é crível, pé no chão. Os motivos que levam à separação dos dois são abordados com a sabedoria de quem já passou por eles ou de quem tem um olhar acurado para identificá-los como comuns em qualquer relacionamento. É com as viagens de Marco Antônio ao passado que os problemas do casal vêm à tona, de forma escalonada, ao longo da trama. São eles que revelam ao espectador que a decisão de Laura de terminar com Marco Antônio não foi, afinal, mero rompante, como ele a princípio acredita.
O que está no cerne de “Evidências do amor” é o desenvolvimento do protagonista, que é levado da condição de mera vítima de um relacionamento fracassado a um homem em busca de redenção e amadurecimento. O percurso que a personagem de Sandy cumpre também é bem elaborado, na medida em que evita a armadilha dos estereótipos das mocinhas de comédias românticas. Mesmo afastada das telonas há 10 anos, ela mostra desenvoltura para carregar uma protagonista, oferecendo uma atuação envolvente.
- Leia também: Gisele Bundchen revela 'segredo da beleza'
APURO TÉCNICO
Os efeitos especiais usados para mostrar as viagens no tempo do protagonista são criativos e bem-feitos. Em algumas tomadas, são dois Fábios e duas Sandys em cena. “Faz a cena, volta, bota chroma key, refaz”, explicou o diretor do longa. A fotografia é impecável e os muitos cenários que a trama percorre – da suntuosa festa na casa dos pais de Laura à roda de samba em um quintal periférico qualquer da cidade onde a história se passa – contribuem para prender a atenção do espectador.
“EVIDÊNCIAS DO AMOR”
(Brasil, 2024, 105 min.). Direção: Pedro Antônio. Com Fábio Porchat, Sandy Leah, Evelyn Castro e Larissa Luz. Em cartaz em salas das redes Cineart, Cinemark, Cinépolis e no Centro Cultural Unimed-BH Minas.