Victor Dequech e crianças indígenas. Expedição Urucumacuan não achou ouro onde 
hoje está o estado de Rondônia, mas o jovem geólogo descobriu um outro Brasil -  (crédito: Murillo Abreu/reprodução)

Victor Dequech e crianças indígenas. Expedição Urucumacuan não achou ouro onde hoje está o estado de Rondônia, mas o jovem geólogo descobriu um outro Brasil

crédito: Murillo Abreu/reprodução

 

No início da década de 1940, o jovem geólogo e engenheiro Victor Dequech, então com 25 anos, abraçou a oportunidade de chefiar uma expedição rumo aos confins inexplorados da Amazônia em busca de Urucumacuan, região que seria uma espécie de Eldorado, com abundância de ouro. A empreitada foi minuciosamente documentada, e ele chegou a publicar artigos no jornal Alto Madeira, de Porto Velho (RO). A intenção era escrever um livro, mas Victor morreu em 2011, aos 95 anos.

 

Coube a Moema Dequech, que ficou com a guarda da documentação deixada pelo pai, realizar o sonho dele – que diz ter se tornado seu. O resultado é “Victor Dequech e a expedição Urucumacuan – A história de um brasileiro visionário”, cujo lançamento será realizado neste sábado (13/4), a partir das 12h, na Livraria da Rua, em Belo Horizonte.


A obra reúne diários de viagem, mapas, fotos, entrevistas, telegramas trocados durante a expedição e relatórios para o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão ligado ao Ministério da Agricultura no governo Getúlio Vargas, além de artigos que Victor escreveu entre 1941 e 1943.

 

 

Lenda de Urucumacuan

 


Havia uma lenda em torno de Urucumacuan, onde o general Cândido Rondon (a insígnia de marechal viria anos mais tarde), organizador da expedição, imaginava encontrar ouro.

 


A história remonta aos primeiros anos do século passado, quando o militar comandou a instalação de linhas de telégrafo para ligar o Sudeste ao Mato Grosso e ao Norte do país. Acreditava-se que a região do futuro estado de Rondônia guardava jazidas de ouro protegidas pela floresta e por povos originários. A expectativa era de que aquele metal precioso pudesse pagar a dívida externa brasileira. A busca, que durou dois anos, se revelou infrutífera.

 


Dequech conviveu com tribos indígenas ainda intocadas pela civilização e enfrentou muitos desafios: a densidade da selva, a comunicação ineficiente, alimentação exótica e animais perigosos, além das dificuldades para conduzir trabalhadores e equipamentos por rios encachoeirados e sobre “colchões de capim”, que dificultavam a navegação.

 

Canoa atravessa com dificuldade rio da Amazônia

Travessia de rios, árdua e cheia de perigos, foi um dos desafios da Expedição Urucumacuan

Pedro Lima/reprodução


Sem ouro

 

Moema observa que o resultado da expedição desagradou a muita gente – especialmente Rondon. “Existiu a divergência entre o prospector, que, com base em análises técnicas, conseguiu chegar a essa conclusão, e aquelas pessoas que acreditavam na lenda”, aponta. Para ela, mesmo sem ouro, o saldo foi muito positivo não só para Dequech, mas para o Brasil.

 


Responsável pela concepção e coordenação do livro, que contou com equipe formada por nomes ligados à pesquisa histórica e à literatura, Moema Dequech destaca o pioneirismo e a tenacidade do pai.

 


“Ainda hoje a selva amazônica é inóspita. Imagina há 80 anos, sem comunicação, sem meio de transporte, sem estrada, sem nada. Um jovem de 25 anos ter encarado esta saga é realmente muito impressionante.”

 

Povos originários

 

Além da missão de encontrar ouro, Victor somou à expedição o desejo de ampliar conhecimentos sobre a região, o que passa pelas áreas de geologia, geografia e antropologia. Escreveu páginas e mais páginas sobre a cultura dos povos originários, com suas festas, ritos e costumes. Tudo isso a partir da convivência pacífica, aponta a filha.


“Meu pai conseguiu reunir tribos inimigas entre si, com os respectivos chefes concordando em fazer as pazes. Isso aí foi um legado que ele deixou. Ninguém conhecia a selva, ninguém tinha informações sobre aquele território. A expedição foi muito importante para desbravar e prospectar a região”, ressalta.

 

O editor e artista visual Guilherme Horta, responsável pela pesquisa e organização do livro, conta que, além do acervo preservado por Moema, teve acesso a vasto material iconográfico pertencente à família do geólogo Murillo Abreu, que se especializou em fotografia e acompanhou Dequech na expedição.


“Fizemos pesquisas em vários livros que registram eventos da primeira metade do século passado, livros em que o doutor Victor costumava fazer marcações, escrever anotações e apontamentos. Também recorremos ao Museu do Índio, no Rio de Janeiro, e ao Museu de Rondônia, que nos forneceram informações e documentos”, diz.

 

Ouro Preto

 

Nascido na divisa do Paraná com Santa Catarina, Victor Dequech se formou engenheiro de minas e engenheiro civil na Escola de Minas de Ouro Preto. Lá, conheceu Murillo Abreu, que o acompanhou como fotógrafo na Expedição Urucumacuan.

 

Dequech iniciou a carreira profissional como geólogo no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Na década de 1950, fundou a Geosol, empresa especializada em sondagem e prospecção geológica.

 


“VICTOR DEQUECH E A EXPEDIÇÃO URUCUMACUAN”


• Concepção de Moema Dequech
• Fundação Victor Dequech
• 304 páginas
• R$ 170
• Lançamento neste sábado (13/4), das 12h às 14h, na Livraria da Rua (Rua Antônio de Albuquerque, 913, Savassi). A renda obtida com a venda de exemplares será destinada ao Lar dos Meninos São Vicente de Paulo