"A paixão de Joana D’Arc", clássico de Carl T. Dreyer protagonizado por Maria Falconetti, é o filme de abertura, hoje, em sessão comentada. ciclo tem ingressos a preços populares 

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As bruxas estão presentes na história do cinema desde seus primórdios, mas a forma como são vistas foi mudando ao longo dos anos, sobretudo nas últimas quatro décadas.

 

Com o objetivo de investigar essa personagem instigante, que nunca saiu do imaginário popular, a 2ª edição da mostra “Mulheres mágicas: Reinvenções da bruxa no cinema” ocupa o CCBB-BH, a partir desta quarta-feira (24/4) até 20 de maio, com sessões a preços populares.

 


Será exibido um conjunto de 28 produções de várias época e países, incluindo diversos tipos de abordagens e propostas estéticas, da ficção ao registro de performances, passando pelo documentário e pelo experimentalismo. A programação prevê debates e uma oficina ministrada pela professora e pesquisadora Roberta Veiga.


A primeira edição da mostra, em 2022, circulou pelas demais unidades do CCBB no país, com exceção da capital mineira, por questões de agenda. A iniciativa partiu de Tatiana Mitre e Carla Italiano, que respondem pela coordenação geral e assinam a curadoria desta segunda edição, ao lado de Juliana Gusman.

 

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A programação percorre a iconografia clássica das mulheres “más”, passando pelas histórias de perseguição no período medieval e no alvorecer da idade moderna até o resgate da bruxa como símbolo de empoderamento feminino na passagem para o século 21, segundo Juliana. Ela diz que é precisamente desse arco temporal que as “reinvenções” indicadas no título da mostra tratam.


“Desde suas origens, o cinema aborda essa personagem, a princípio de formas francamente estereotipadas, com construções pejorativas, e também, mais recentemente, tentando fissurar imaginários constituídos”, diz. A curadora destaca que há, na mostra, títulos que acionam diretamente os estereótipos para tentar subvertê-los, como no caso do cinema de horror.


Processos de cura

Ela aponta que há também filmes que tentam ressignificar a ideia de encantamento do mundo, passando pelas relações com a terra e com processos de cura, que, no passado, levaram várias mulheres à fogueira, mas que já apontavam para um futuro de emancipação. E há, ainda, produções que lidam com os desejos dos corpos femininos que foram duramente recalcados durante séculos.


A mostra se divide em dois eixos temáticos – “Lado A – A bruxa através dos tempos: imagens clássicas” e “Lado B – Bruxas contemporâneas: corpos indomáveis, saberes ancestrais”. O primeiro grupo conta com títulos como “Casei-me com uma feiticeira” (1942), de René Clair, e “A bruxa” (2015), de Robert Eggers.


O “Lado B”, por sua vez, reúne filmes que expandem a ideia de mulheres mágicas e apresentam perspectivas críticas – entre eles, “Retrato de uma jovem em chamas” (2019) e “Orlando, minha biografia política”, adaptação documental de uma das obras mais conceituadas da escritora inglesa Virginia Woolf.


Juliana diz que o “Lado A” traz as bruxas representadas no cinema de horror, nas comédias românticas e em produções que lidam com processos históricos de caça às mulheres enquadradas como tal. “Mesmo nesse eixo, evitamos filmes que fossem evidentemente machistas, sexistas ou racistas, porque existe uma dimensão racial forte em produções sobre bruxas. Tivemos a preocupação de não reforçar determinadas imagens; são obras que lidam com estereótipos, mas que permitem uma abordagem mais reflexiva”, diz.

 

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Já o “Lado B” traz produções assinadas por mulheres ou que trazem os corpos de mulheres historicamente perseguidas como bruxas, conforme aponta. “Não temos aí a questão específica da bruxaria, mas são filmes que podem acionar esse imaginário, então foi um trabalho de pesquisa até mais desafiador”, diz.


Além da adequação aos eixos, outros critérios orientaram a seleção. Um deles é o historiográfico, com ao menos um representante de cada década, a partir da virada do século 19 para o século 20. Outro critério é o geográfico. “Temos, por exemplo, três filmes de terror da década de 1960: 'Viy – O espírito do mal', da antiga União Soviética, o mexicano 'O espelho da bruxa' e o britânico 'A filha de satã'. Assim, podemos ver como a bruxa é representada, num mesmo contexto temporal, em diferentes geografias”, aponta.


A sessão de abertura, hoje, às 18h30, será com “A paixão de Joana D'Arc”, clássico do cinema silencioso dirigido pelo dinamarquês Carl Theodor Dreyer em 1928. Após a exibição, haverá debate com as curadoras. “É uma obra que traz essa figura histórica que foi queimada como bruxa e herege por ter alegado falar com Deus. O filme trata de uma tentativa sistêmica de encaixar essa mulher dentro de um regime e de como ela resiste à imposição de um discurso. É uma produção que ilumina os caminhos da mostra”, diz Juliana.


SESSÕES COMENTADAS

Além da abertura, haverá sessões comentadas nos dias 4, 16 e 17 de maio. No dia 4/5, às 16h, o artista Jomaka debaterá sobre “Orlando, minha biografia política” (2022), de Paul B. Preciado, uma carta cinematográfica a Virginia Woolf.

 

No dia 16/5, às 18h30, o clássico do horror mexicano “O espelho da bruxa” (1962), de Chano Urueta, será comentado pela crítica Yasmine Evaristo. Em 17/5, às 14h, Tatiana Mitre conversa com o público infantil sobre “A fada do repolho” (a data da produção é controversa: 1896 ou 1900), de Alice Guy, e o clássico “Branca de Neve e os sete anões” (1937).


“MULHERES MÁGICAS: REINVENÇÕES DA BRUXA NO CINEMA”
A partir desta quarta-feira (24/4) até 20 de maio, no Teatro 2 do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários – 31.3431-9400). Ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), disponíveis na bilheteria e no site do CCBB-BH, onde a programação completa, os respectivos horários e a classificação indicativa podem ser consultados.