Duda Beat, na capa de

Duda Beat, na capa de "Tara e tal", álbum que traz ritmos eletrônicos do passado e do presente

crédito: Duda Beat/reprodução

 

Entre o final da década de 1990 e início de 2000, auge da cultura clubber no Brasil, Duda Beat, nome artístico de Eduarda Bittencourt, era adolescente e costumava frequentar as festas no Recife, sua cidade natal.

 


Ela virava noites dançando ao som de DJ Marky e Kaleidoscópio, expoentes do drum and bass, estilo de música eletrônica marcado por batidas rápidas, e do funk do DJ Malboro. Mas quando chegava em casa, seu pai, roqueiro de carteirinha, estava se deliciando na vitrola com o solo de guitarra de bandas como Pearl Jam e System of a Down.

 


A disparidade dessas influências deságua agora em “Tara e tal”, novo álbum de Duda. Faixas como “Teu beijo”, “Por aí mozão” e “NiGHT MARé” são guiadas pela batida eletrônica, mas com toques pesados de guitarra, como se as festas recifenses da adolescência de Beat e o gosto musical de seu pai se chocassem novamente.

 

 


“O momento que vivo hoje me lembrou aquela fase da vida, quando estava saindo de uma fossa e me descobrindo como mulher, deixando de ser adolescente para virar adulta”, diz a cantora.

 


Eletrônica e guitarra

 

“Tara e tal” é o terceiro álbum da carreira de Beat, sucessor de “Sinto muito”, de 2018, e “Te amo lá fora”, de 2021. É um disco mais leve, solar e despretensioso – assumidamente feito para as pistas de dança. Além da influência de ritmos eletrônicos do passado, tendências atuais estão no processo de criação, como o drill, jersey club, lo-fi e EDM.

 


Em um primeiro momento, parece algo distante do universo já ocupado por Duda Beat no imaginário dos fãs. Dona da pecha de “sofrência pop” desde que estourou com “Bixinho”, a cantora agora surge madura. “Se eu vivia chorando os meus lamentos, nem me lembro, foi com Deus”, ela canta em “Na tua cabeça”, faixa que encerra o disco.

 


“Não quis fugir da sofrência, mas dar novas cores a esse meu mundo. A vulnerabilidade continua presente. Esse disco é sobre uma mulher que se arrisca para o novo, mas confessa que continua insegura nessa posição”, ressalta.

 

 


É justamente nesse equilíbrio entre o escapismo da música de pista e a vulnerabilidade das canções de amor que se constrói “Tara e tal”. Entre histórias de flertes, términos, apego e desapego, Duda Beat desempenha o papel de cronista dos amores contemporâneos. Tudo parte de suas próprias vivências. “Meus discos são todos autobiográficos, olho muito para dentro. Nesse caso, é uma crônica da minha própria vida.”

 


Para a dupla de produtores Lux & Troia, parceiros de longa data de Duda que assinam o novo trabalho, “Tara e tal” é o disco “mais pop” da cantora. Ele tem estranhezas necessárias, mas é mais simples, direto, dizem.


Liniker, a diva

 

As “estranhezas”, em parte, vêm dos arranjos surpreendentes, que por vezes criam climas distintos ou quase opostos em uma mesma faixa. Isso gera empolgação no ouvinte, de acordo com os produtores.

 


Um exemplo é “Quem me dera”. A introdução emula uma balada romântica pop dos anos 1980, mas o restante se revela um samba, que conta com participação da cantora Liniker. A iniciativa da parceria partiu de Duda, admiradora de longa data da colega. “A Liniker é a maior diva da minha geração. Foi maravilhoso trabalhar com ela”, celebra.

 


Outra participação especial é de Lúcio Maia, da Nação Zumbi, que toca guitarra em “Drama”, faixa de abertura. Uma alegria especial para Duda, cujo nome artístico faz referência ao movimento Manguebeat, do qual a Nação Zumbi foi expoente.

 


“Eu me sinto um pouco mais próxima de Chico Science e de todo o movimento que eles criaram em Recife. Sempre que puder quero trazer eles para mim”, diz.

 

Leia também: A trajetória gigantesca de Chico Science em poucos anos de vida

 


Ao observar sua trajetória até aqui, Duda se diz satisfeita com o que vem construindo dentro do cenário atual do pop brasileiro. “Cada vez mais, o pop alternativo vai virar mainstream. Bato no peito para dizer que puxei tudo isso aí, me sinto parte desse movimento de fazer do nosso jeito e conseguir furar a bolha”, afirma.

 


Ela confessa que as imposições do mercado, que tem privilegiado cada vez mais os números e visualizações no lugar da música em si, causam desânimo: “Às vezes dá vontade de desistir. Parece que é tudo sobre números agora. Mas tento ficar o mais fiel possível a mim mesma.”

 

 


Sem urgência

 

O segredo para atingir isso é a maturidade. “Comecei minha carreira com 30 anos. E quando você começa um pouco mais velha, não tem tanta urgência. Consigo entender que as coisas vão e vêm, ninguém fica no alto o tempo inteiro, tudo é cíclico.”

 

Leia também: Duda Beat e Juliette foram acusadas de plagiar Emicida

 


É com essa maturidade que ela construiu “Tara e tal”, disco que começa eufórico e vai se amansando aos poucos, em mistura de ritmos que Duda descreve como “o encontro da neve com o sol”. “Tem a textura metalizada da música eletrônica, mas o sabor solar dos ritmos brasileiros e latinos.”

 

 

É, em síntese, um disco feito para divertir e emocionar – um álbum pop, ela conclui. “Para mim, ser pop no Brasil hoje é se divertir cada vez mais e não ter vergonha de rir de si mesmo, nem mostrar suas vulnerabilidades. É a mistura de sentimentos muito importante.” (Folhapress)


“TARA E TAL”


• Álbum de Duda Beat
• Universal Music
• 12 faixas
• Disponível nas plataformas digitais