Nome respeitado do blues brasileiro, Adriano Grineberg chega a seu quinto álbum com “Eufótico”, que traz nove canções do compositor baiano Dorival Caymmi (1914-2008). O disco conta com a participação especial da cantora Badi Assad em “O vento”. Como trabalho autoral, o músico paulistano já lançou quatro discos.
Grineberg explica que, em ecologia, a palavra eufótico se origina de zona eufótica, camada mais superficial do oceano, na qual penetra a luz solar. “É nela que ocorre a maior incidência de vida marinha, na qual as plantas verdes fazem fotossíntese e moluscos e outros animais marinhos vivem. Na zona eufótica, navegamos. É a única na qual se pode mergulhar sem correr algum risco de morte”.
Antes de o disco sair na íntegra, o cantor e compositor lançou os singles “É doce morrer no mar”, “Promessa de pescador” e “Canoeiro”. “Gravamos o álbum no final do ano passado, são canções praieiras de Dorival Caymmi, da primeira fase dele. Fiz uma lista há cerca de 10 anos, quando me apaixonei pela obra dele. E fui desenvolvendo dentro de mim o sonho, o impulso e a vontade de transformar isso em disco. Cheguei a essas músicas que traduzem melhor meu sentimento e a minha conexão com elas também”, afirma.
O músico explica que as canções praieiras, embora tenham significado enorme dentro da música brasileira, foram pouco visitadas pelos compositores. “Também pela própria assinatura que Caymmi colocou nelas. Foi um desafio colocar essas canções em outras vertentes, outros ritmos. Fizemos um trabalho rítmico das levadas, respeitando as melodias, porque não tem muito o que mexer nelas. Mexi pouco nas harmonias também.”
Cultura africana
Grineberg afirma que por ter uma história de 30 anos ligada ao blues no Brasil sempre via uma ponte de ligação com as canções do baiano. “O próprio Caymmi falava sobre blues nas suas entrevistas. Ele ouvia muito e tinha até uma coleção de discos de blues. Portanto, sabia bem a diferença entre jazz e blues. As melodias de Caymmi me levaram por caminhos de harmonias diferentes.”
Ele conta que Caymmi foi um compositor com o qual se sentiu à vontade para abraçar tudo aquilo que fez em seus outros discos. “É curioso isso, você pega um compositor de fora que abraça todas essas partes. Então, a minha ligação com a cultura africana, que já fiz no ‘Blues for Africa’, está presente também nesse disco e nas outras linguagens ancestrais da pesquisa que faço com a música de vários países. E foi uma alegria cantar em português, coisa que fiz pela primeira vez.”
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Para ele, quando se ouve Caymmi cantando, com sua voz e seu violão, percebe-se a similaridade com blueseiros norte-americanos. “Você ouve aquilo e subentende vários ritmos e levadas. Fui nesse caminho. É igual quando alguém reinterpreta algo de Robert Johnson (1911-1938) e muda a levada. É um compositor que lhe dá liberdade para isso.”
Onda folk
Adriano Grineberg destaca que, ao passear pelas canções praieiras de Caymmi, algumas o pegaram de uma forma diferente. “‘Promessa de pescador’, por exemplo, tem a versão de Caymmi quando faz um ritmo africano. Senti isso naquela melodia e harmonia que mantive e transformei-a em blues. Você vai mudando um pouco os acentos mais fortes da música e aí ela vira um blues. Toquei com piano, um violão, mas naquela onda do folk e blues.”
Caymmi, segundo o artista paulistano, falava que a música dele era extremamente fotográfica. “Procurei manter essa característica na minha própria leitura, e cada canção veio se construindo dessa forma. Um dos desafios foi que nos originais Caymmi muda o ritmo e o andamento das músicas. Dentro de uma coisa que é da cultura da música de New Orleans (EUA), do blues e da própria música brasileira, coloquei isso tudo num trilho. Então, elas seguem no mesmo andamento do começo ao fim.”
Liberdade para criar
Grineberg revela que usou muitas harmonias do blues. “É uma coisa que, naturalmente, Caymmi usava também em muitas músicas, algo interessante que, até então, não se tinha ouvido na música brasileira. Embora eu tenha uma ligação com o blues, sempre fui pouco tradicionalista. No Brasil, tem aquela coisa do blues brasileiro ser muito fiel ao norte-americano. Sempre me entendi como um artista de blues querendo colocar a sua própria voz dentro de um gênero.”
Para o artista paulista, fazer releitura de Dorival Caymmi foi desafiador.
“Caymmi é um gigante da música mundial e meus discos, de certa forma, me credenciaram para poder fazer isso. Foram 10 anos de pesquisa. Cheguei a fazer duas ou três versões diferentes de cada música gravada para chegar nesse resultado, mas foi bastante prazeroso”, conta.
Em “Eufótico”, Grineberg está acompanhado por Edu Gomes (guitarra/violão), Fabá Jimenez (guitarra/violão), Fabio Sá (baixo), Carlos Bala (bateria) e Mestre Dalua (percussão).
O cantor e compositor Adriano Grineberg já gravou e participou de shows de nomes com André Christovam, Ira!, Wanderléa, Ana Cañas, Filipe Catto, Gilberto Gil, Corey Harris, Magic Slim, John Pizzarelli e Big Time Sarah.
REPERTÓRIO
- “A LENDA DO ABAETÉ”
- “PROMESSA DE PESCADOR”
- “O VENTO”. Participação da cantora Badi Assad
- “MORENA DO MAR”
- “CANOEIRO”
- “CANTO DE NANÔ
- “VOU VER JULIANA”
- “NOITE DE TEMPORAL”
- “É DOCE MORRER NO MAR”
“EUFÓTICO”
• Disco de Adriano Grineberg
• 9 faixas
• Disponível nas plataformas digitais