O cineasta francês Laurent Cantet, que ganhou a Palma de Ouro em 2008 com o longa “Entre os muros da escola”, e diretor de filmes rodados em Cuba e no Haiti, morreu nesta quinta-feira (25/4) aos 63 anos. O falecimento decorreu de uma doença, afirmou Isabelle de la Patellière, agente de Cantet.
Autor de nove longas-metragens, o diretor trabalhava atualmente em um novo projeto, “L’apprenti”, com lançamento previsto para 2025.
Em 2012, o cineasta participou da obra coletiva “7 dias em Havana”, junto de seis diretores, entre eles Benicio del Toro. A produção capturou o cotidiano da capital cubana ao longo de sete episódios.
Dois anos depois, o cineasta francês voltou a Havana para filmar “Retorno a Ítaca”, filme conjunto sobre as memórias de cinco amigos após o regresso do exílio de um deles. Os atores Isabel Santos e Jorge Perugorría faziam parte do elenco.
“Entre os muros da escola” se passa em um colégio de Paris. Com olhar de documentário, o filme narra o dia a dia de um professor de francês que leciona para adolescentes rebeldes de um bairro da periferia parisiense.
Outros trabalhos conhecidos de Laurent Cantet são “Recursos humanos” (1999), sobre as relações trabalhistas em uma empresa francesa, e “Em direção ao sul”, ambientado no Haiti e filmado em 2005 com Charlotte Rampling e Karen Young. Admirador do Cinema Novo, o diretor veio algumas vezes ao Brasil.
O Festival de Cannes, cuja 77ª edição terá início em 14 de maio, citou o cineasta como “humanista feroz, que buscou a luz apesar da violência social, que encontrou esperança apesar da dureza da realidade”.
Foi um diretor e roteirista “cujo trabalho coerente e humanista desenha um cinema sensível, à flor da pele e à margem da sociedade”, acrescenta a declaração emitida por Cannes.
Cancelamento
O último filme de Cantet, “@Arthur.Rambo – Ódio nas redes”, aborda a cultura do cancelamento disseminada na internet, com base no caso do influencer francês Mehdi Meklat. Considerado porta-voz das periferias parisienses, ele é autor de tuítes racistas, misóginos, homofóbicos e antissemitas publicados sob pseudônimo.
“As redes sociais simplificam nossa forma de pensar”, disse o diretor à Agência Folha quando o longa foi lançado. “Elas tomam tanto espaço na nossa vida, mas não pensamos na forma como as usamos.”
“Ódio nas redes” discute também o espaço do jovem descendente de imigrantes na França contemporânea. Raivosos, eles vão de encontro à obediência e passividade que marcaram a geração dos pais. A raiva, explicou Cantet, “é uma condição para existir ali”.