A atriz britânica Sara Poyzer, que viveu Donna Sheridan no musical “Mamma Mia”, revelou que foi substituída de um trabalho por uma inteligência artificial em uma produção da BBC, TV pública do Reino Unido. A atriz compartilhou a história nas redes sociais e chamou a situação de preocupante.
Ela compartilhou um print de um e-mail em que uma produtora, que não foi identificada, avisa da substituição. “Desculpe pela demora. Tivemos a aprovação da BBC para usar a voz gerada por IA, então não precisaremos mais de Sara”, diz o texto. Poyzer marcou a emissora e o sindicato trabalhista Equity. A atriz não especificou qual a produção nem se se tratava de um projeto de áudio ou TV.
A publicação repercutiu entre diversos profissionais da área, como Miltos Yerolemou, “É hora dos atores e criativos britânicos traçarem um limite na areia. Como nossos irmãos e irmãs americanos, é hora de resistir a isso”, postou o ator que viveu Syrio Forel em Game of Thrones no X.
Voice Squad, agência de locução que trabalha com Poyzer, declarou repúdio em comunicado enviado ao Daily Mail “Ficamos muito decepcionados ao receber a resposta da produtora, principalmente por se tratar de um projeto da BBC.
A BBC sempre defendeu a qualidade em suas transmissões factuais e dramáticas. Como agência de locução, sentimos que a IA é um perigo para toda a indústria – removendo o trabalho de artistas que treinaram durante três anos na escola de teatro e passaram muitos anos aprimorando seu ofício”, escreveu.
O sindicato trabalhista Equity lançou, em 2022, a campanha chamada “Stop AI Stealing the Show” (pare a inteligência artificial de roubar o show). Na época, a BBC apoiou a causa. Recentemente, a emissora anunciou que vai parar de usar a tecnologia para promover ‘Doctor Who’, após receber reclamações dos telespectadores.
Ao mesmo tempo, na semana passada, o diretor-geral da BBC, Tim Davie, disse que a emissora iria implantar proativamente a inteligência artificial, apoiando os direitos dos profissionais e sem comprometer o “controle criativo humano”. Davie afirmou, ainda, que vai manter os padrões editoriais da BBC.
“Agora estamos trabalhando com uma série de grandes empresas de tecnologia em pilotos específicos da BBC, que implementaremos os mais promissores nos próximos meses”, acrescentou.
Ao Deadline, a BBC trouxe um contexto delicado para a decisão. "Estamos produzindo um documentário altamente sensível que apresenta um colaborador que está chegando ao final da vida e agora é incapaz de falar. Estamos trabalhando em estreita colaboração com a família dele para explorar como podemos representar melhor a voz do colaborador no final do filme, quando as palavras que ele escreveu serão lidas”, afirmou.
"Nestas circunstâncias muito particulares e tendo em mente os desejos da família, concordamos em usar a inteligência artificial por um breve período para recriar uma voz que agora não pode mais ser ouvida. Isso será claramente identificado dentro do filme”, explicou.