Entre notas e tons bem marcados de violões e violas interioranas, o corrido mexicano surgiu no século 18. Inicialmente difundido em folhetos que se assemelham aos cordéis do Nordeste brasileiro, aqueles contos populares viraram música, contando histórias pessoais, discutindo política e denunciando a injustiça social.
Neste século 21, o corrido mexicano se juntou ao rap. E o narcocorrido, que fala do tráfico de drogas e suas mazelas, tornou-se popular entre o público hispânico. Agora, o estilo ganha versão brasileira dos produtores mineiros MC Papo e Dedé Santaklaus no single “No clarão da lua”, que chegará às plataformas digitais na sexta-feira (5/4).
“Começamos a perceber que o corrido mexicano começou a aparecer de outra forma, mais urbana, na música e nas redes. Já temos o pé na música latina, principalmente o Papo, um dos pioneiros do reggaeton aqui em Minas e no Brasil. Esta música se parece muito com o modão, com a música sertaneja antiga”, afirma Dedé Santaklaus.
O single dos mineiros traça paralelos entre o sertanejo brasileiro e o ritmo contemporâneo dos mexicanos Peso Pluma, Chino Pocas e Natanael Cano. Papo e Dedé pesquisaram sertanejos raiz, como Milionário e José Rico, Sérgio Reis e Pena Branca e Xavantinho, para desenvolver o corrido à mineira.
A sonoridade criada pela dupla também traz influência do funk de BH, que se destaca na cena nacional, especialmente com WS da Igrejinha e Gordão do PC.
Ponto box
“Sou de Sete Lagoas e na minha infância inteira ouvi clássicos do sertanejo original. Quando eu e o Papo conversamos para ver como juntaríamos os sons, decidimos usar o ponto box, elemento muito comum no funk de BH, que virou uma característica do estilo”, diz Dedé.
“A gente tentou fazer uma coisa com menos metais, porque o modão brasileiro não tem metal como os corridos. Usamos um pouquinho do ponto box para dar a nossa cara, a cara da musicalidade de BH, misturando urbano e viola”, afirma MC Papo.
“No clarão da lua” é o primeiro single do disco “Modão malado”, projeto da dupla em parceria com a produtora mineira O.G.R.A., que está sendo gravado.
“Existem vários tipos de corrido. Os antigos costumavam ser algo que se assemelha ao nosso funk proibidão. Tem também os tombados, como o nosso funk consciente. Outros subgêneros falam de amor e misturam as mensagens”, explica Dedé.
“Nosso álbum tem a pegada diversa do corrido de hoje em dia. Algumas músicas são mais de relacionamento e outras mais conscientes. Tem de tudo um pouco, mas sempre com a linguagem mais jovem”, completa.
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Jovens, mas experientes na arte de mesclar diferentes sonoridades, Papo e Dedé têm anos de pesquisa no currículo e paixão por novas sonoridades.
“Experimentar coisas novas sempre aconteceu de forma muito natural para nós, mesmo sendo cada um no seu canto. A gente percebeu que o corrido tem um potencial enorme e vai agradar pessoas de diferentes idades”, diz Papo, de 34 anos, que iniciou a carreira em 2004, nos bailes funk da zona norte de BH. Em 2006, ele começou a explorar o reggaeton.
Dedé, de 31, é cantor, compositor, produtor e artista audiovisual. Foi premiado com o Grammy Latino na categoria melhor álbum de música de raízes em língua portuguesa, com o disco “Tecnoshow”, de Gaby Amarantos em colaboração com o coletivo mineiro MGDZ, do qual ele participa ao lado de Baka e Cido.
“NO CLARÃO DA LUA”
• Single de MC Papo e Dedé Santaklaus
• Selo O.G.R.A.
• Disponível nas plataformas na próxima sexta-feira (5/4)
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria