Definitivamente, não foi um processo de pesquisa comum o que a atriz e produtora carioca Poliana Carvalho, de 22 anos, encabeçou para conceber o monólogo “Anne Frank, a voz que se tem memória”, que fará apresentação única neste sábado (6/4), no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas.
Em 2016, quando estava com 15 anos e havia acabado de ler “O diário de Anne Frank”, ela ficou tão impactada com a história que iniciou sozinha um périplo pela Europa, no intuito de conhecer o Museu de Auschwitz, na Polônia; e a Casa de Anne Frank, na Holanda. Aproveitou a excursão para conversar com Nanette Blitz Konig, sobrevivente de Auschwitz e amiga de Anne Frank; e com um historiador polonês especializado na invasão de Cracóvia durante o Holocausto.
“Na época, eu estava mais ou menos com a mesma idade que a Anne Frank tinha quando estava no esconderijo (16 anos) e sentia que, na escola, nós estudávamos muito pouco sobre o Holocausto. Era uma coisa muito passageira, não nos aprofundávamos muito em um tema que considero extremamente importante. Isso me fez querer saber mais sobre esse episódio da história”, diz Poliana, que contou com ajuda da comunidade judaica brasileira para sua pesquisa.
O mergulho na vida de Anne Frank e dos judeus que foram para Auschwitz só ocorreu porque, à época, Poliana fazia um curso de teatro com o diretor Leonardo Talarico – o responsável pela direção de “Anne Frank, a voz que se tem memória”. Na etapa final, ela tinha que desenvolver um espetáculo sobre algo que a marcou profundamente.
Poliana não teve dúvida. Nada havia marcado tanto sua vida quanto a história de Anne Frank. Contudo, quanto mais ela se debruçava sobre a biografia e a obra da adolescente vítima do Holocausto, percebia que deveria pesquisar mais sobre o tema, até entender o que foi aquele fenômeno nefasto que ocupou a Alemanha e parte da Europa entre as décadas de 1930 e 1940.
Curso de teatro
Assim, o que era para ser um trabalho final de um curso de teatro acabou ganhando contornos de uma produção profissional. Com a imersão de Poliana na história dos judeus vítimas do Holocausto, o monólogo deixou de se concentrar nos relatos que compõem “O diário de Anne Frank” para abordar histórias de outras pessoas que morreram vítimas dos nazistas.
“Nesse processo de pesquisa, fui entendendo que, na verdade, (no roteiro da peça) a voz é de Anne Frank, mas estou contando muitas outras histórias”, destaca a atriz. “Em cena, eu precisava ir um pouco além do diário. Então, comecei a fazer o roteiro com base em todas as pesquisas que foram feitas.”
Ela, no entanto, só chegou a essa conclusão ao ver a dimensão de Auschwitz. O complexo, localizado na cidade de Oswiecim, conta com cerca de 40 campos de concentração e extermínio onde havia crematórios e campos de trabalho forçado. Somente a área principal, onde hoje está o museu, ocupa 191 hectares, o equivalente a cerca de 190 campos de futebol. E calcula-se que, pelo menos, 1,1 milhão de judeus morreram no local.
“Tem uma parte do museu em que você passa por pares de sapatos que foram deixados lá e também por caixas de alianças de várias pessoas. Foi aí que eu tive a dimensão que tem muita história para ser contada e que eu estou usando a voz de uma menina que queria ter sobrevivido – de alguma forma, a gente pode dizer que ela sobreviveu, porque a mensagem dela ecoa até hoje – naquele contexto violento e cruel”, diz Poliana.
Erros do passado
“Anne Frank, a voz que se tem memória” entra em turnê num momento em que grupos neonazistas despontam, sobretudo nos EUA, e em meio a uma guerra entre Israel e o Hamas, na qual palestinos e aliados enxergam o propósito do governo de Benjamin Netanyahu de promover um genocídio árabe na Faixa de Gaza. O paralelismo inevitável entre realidade e ficção, no entanto, é uma infeliz coincidência para Poliana.
“Nem dá para acreditar no que estamos vendo. O que está acontecendo hoje só prova o quanto a gente esquece das coisas que aconteceram no passado – e olha que é um passado recente! –, fazendo com que nós voltemos a fazer essas mesmas coisas sem aprendermos com os erros”, diz.
“ANNE FRANK, A VOZ QUE SE TEM MEMÓRIA”
Monólogo escrito e apresentado por Poliana Carvalho. Direção: Leonardo Talarico. Neste sábado (6/4), às 21h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos à venda por R$ 120 (inteira), R$ 60 (meia) e R$ 70 (valor solidário, mediante doação de 1 kg de alimento não perecível, exceto sal), na bilheteria do teatro ou pelo site Sympla. Mais informações: (31) 3516-1000.