A Sala Minas Gerais recebeu, na manhã desta sexta-feira (5/4), evento para assinatura do acordo de cooperação técnica para gestão compartilhada da Sala Minas Gerais e do Espaço Mineiraria, ambos localizados no Centro Cultural Presidente Itamar Franco, no Barro Preto. O acordo foi firmado pelo Sesi Minas, cuja mantenedora é a Fundação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg-MG), e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig).

 


Secretário de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira falou sobre a importância da parceria. "Ela vai dar para a sala e para a (Orquestra) Filarmônica (de Minas Gerais) maior tranquilidade para a gestão desse espaço, que fica hoje em torno de R$ 4,5 milhões (anuais).”

 


Disse ainda que a gestão compartilhada terá início em julho e que a temporada 2024 da orquestra não será afetada. O acordo terá validade de 60 meses e contempla os três pavimentos de estacionamento localizados no espaço. O secretário acrescentou: "Nada, obviamente, vai ser feito sem a nossa participação”.

 

 



 


Com a entrada do Sesi Minas, a Sala Minas Gerais deverá ser cedida também para apresentações da Orquestra Sesiminas. Está ainda nos planos que o palco da sala de concertos receba produções musicais nacionais e internacionais, espetáculos cênicos, eventos corporativos e celebrações empresariais. “Nós queremos elevar o número de visitantes”, disse o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe.

 


Contrato de gestão

 

 

Na plateia, não havia nenhum membro da orquestra ou do Instituto Filarmônica porque eles não foram informados do evento oficial – souberam da decisão via imprensa, como atestou ao Estado de Minas Diomar Silveira, presidente do Instituto Filarmônica, que administra tanto orquestra quanto sala por meio de um contrato de gestão.

 


Na opinião de Silveira, pelo contrato vigente, firmado entre o IF e o poder público, no caso a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG), nada deve mudar.

 


"O modelo de gestão é de parceria público-privado. A gestão da Filarmônica foi feita entre o estado de Minas Gerais, em que o órgão estatal parceiro é a Secult, e uma organização do terceiro setor (o Instituto Filarmônica, uma organização social). O contrato está vigente desde julho de 2020 (segundo ano da primeira gestão Zema), fruto de um edital público, um chamamento feito pelo governo para organizações não governamentais", comenta ele.

 


Ainda segundo Silveira, o contrato é válido por 20 anos – ou seja, até 2040. "Anualmente se negocia o aditivo deste contrato. Atualmente, ele está válido até dezembro de 2024. Já fiz uma reunião com o secretário (Leônidas Oliveira) para proceder com o novo aditivo para 2025." Os aditivos seriam para "corrigir valores e prazos".

 


No contrato em vigor, o governo, na figura da Secult, deve repassar R$ 19,5 milhões para o IF. Tal valor é responsável por cerca de 80% da folha de pagamento (são 150 funcionários, 90 deles musicistas). "O contrato prevê metas, inclusive do número de concertos e público que temos que colocar na sala, assim como os recursos que temos que captar (para cobrir todos os custos). Ou seja, temos que fazer dinheiro pelos concertos, patrocínio das empresas, estacionamento, utilização da sala de concertos por terceiros. Por isso nos surpreendeu não termos sido informados do acordo."

 


O orçamento deste ano da Filarmônica e da Sala Minas Gerais é de R$ 43 milhões. A Secult arca com R$ 19,5 milhões, sendo que a folha de pagamento é de R$ 27 milhões. Ou seja, o Instituto Filarmônica completa tanto a folha quanto os demais custos para manutenção da sala. "Para realizar tudo, tenho que ter mais R$ 23,5 milhões", diz Silveira. Tal valor é obtido por meio de patrocínios e venda de assinaturas.

 


Em sua fala no evento, Roscoe afirmou ter certeza de que “em um curto espaço de tempo nós teremos muitos eventos vindos até a Sala Minas Gerais". Silveira comenta que a sala foi concebida para concertos. "É uma sala frágil, que não pode ser utilizada para eventos de qualquer natureza. O forro é acústico, fazendo do espaço um local de fruição da música sinfônica."

 


Além disso, como é uma sala de concertos e não um teatro, não está preparada para receber um espetáculo teatral, por exemplo. Não há coxias, o que dificulta encenar uma produção que necessite de cenários, por exemplo.

 


Em seu 16º ano de atividade, a Filarmônica de Minas Gerais se consolida como uma das maiores e mais importantes orquestras do Brasil. Mas Silveira teme pelo futuro.

 


"Temo que a integridade do projeto comece a ser solapada. Esse complexo, sala e orquestra, precisa ter uso adequado. A orquestra precisa do espaço para seu próprio desenvolvimento. Não é só concerto, mas também ensaios. Se ficarmos competindo pelo uso, fica difícil fazer uma programação. Tem que haver muito cuidado para que não se comprometa a qualidade artística. Temo que se torne uma sala de eventos, e não mais uma sala de concertos."

 


A reportagem procurou a Secult-MG para responder aos apontamentos de Silveira. Por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa, a pasta afirmou: “A Sala Minas Gerais é de propriedade da Codemge e cabe a ela, na forma da lei, fazer a gestão do espaço. No entanto, é consenso que a prioridade da sala seja de uso da Filarmônica. O contrato de gestão deverá ser renovado conforme ajustado entre a Filarmônica e o governo de Minas, sob interveniência da Secult-MG”. * Com Lucas Lanna Resende

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