“Vai ser uma lacuna muito grande. Ele vai deixar um legado enorme”. A professora, representante e irmã de Ziraldo, Maria Helena Alves Pinto Nagem, compartilha com o Brasil a dor de perder um dos maiores escritores e cartunistas da história do país, mas sente, especialmente, a falta da figura que a fez, dentro de casa, criar carinho pela leitura e estimulou sua curiosidade por conhecer o mundo. "A obra do Ziraldo ajudou muita gente", destaca.

 

Em entrevista ao Estado de Minas, Maria Helena comentou sobre o legado que seu irmão deixa para o Brasil e recorda como ele refletia em sua obra e vida pública o amor pela literatura que ajudou a disseminar dentro de casa. Ziraldo morreu neste sábado (6/4), aos 91 anos.

 

 



 

 

“É muito difícil expressar tudo que a gente sente. Eu penso naquela frase famosa do Ziraldo em que ele dizia que ler é mais importante que estudar. É uma frase polêmica, mas ele dizia que a leitura abre um espaço para vislumbrar o mundo. Eu me lembro que, quando eu tinha 11 anos, ele me deu O Diário de Anne Frank e aquilo mudou minha vida. Eu conheci um mundo do qual eu não fazia ideia, para nós no interior, em Caratinga, tudo era um grande mistério”, recordou a professora.

 

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Maria Helena é categórica ao falar sobre a relevância do irmão ao longo de toda a vida. “Do alto dos seus 90 anos, tenho certeza que ele poderia fazer ainda mais do que ele fez pelo país”. Além de ícone da literatura infantil, Ziraldo teve sua trajetória marcada pela atuação política e a defesa da democracia, especialmente durante a Ditadura Militar. O escritor chegou a ser preso durante o período de repressão. Ele era um dos autores da revista “O Pasquim”, crítica ao regime, ao lado de nomes como Jaguar, Tarso de Castro, Claudius, Sérgio Cabral, Millôr Fernandes e Paulo Francis.

 

Para a irmã, a obra de Ziraldo já trazia há décadas temas que hoje têm grande relevância na esfera pública. Ela recorda o livro Flicts, lançado no fim da década de 1960. A obra voltada ao público infantil conta a história de uma cor que não se reconhecia nos objetos do mundo e trata sobre a importância da inclusão e aceitação do diferente.

 

“A obra do Ziraldo, queira ou não, ajudou muita gente no nosso país. Eu sou professora universitária também e o exemplo dele como irmão e pessoa pública impactou na minha vida toda. A obra dele gira em torno disso, faz a gente pensar. Estamos vivendo no Brasil um tempo de discutir a inclusão, de ressaltar que somos todos da espécie humana, que é o que Flicts já nos fala há tanto tempo”, destacou Maria Helena.

 

Maria Helena é a antepenúltima irmã dos sete filhos de Zizinha e Geraldo. Ziraldo foi o primeiro filho do casal e foi batizado a partir da junção do nome dos pais. “Ele honrou muito o nome deles. Foi um grande brasileiro, mas hoje eu estou sentindo falta é do meu irmão”, afirmou a professora ao recordar a convivência com o escritor.

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