O Museu Inimá de Paula recebe, a partir desta quarta-feira (17/4), a exposição “Política e vanguarda (1964/85) na coleção Lili e João Avelar”, que reúne aproximadamente 300 obras produzidas durante o período da ditadura militar por diversos artistas.

 

A mostra reúne obras de artistas de diversas partes do país, produzidas em técnicas como desenho, fotografia, pintura e escultura. Há trabalhos de Antonio Dias, Rubens Gerchman, Lygia Pape e Mira Schendel, entre muitos outros.


O curador da mostra e colecionador João Avelar reuniu trabalhos que convergem na tomada de posição frente aos dilemas éticos e sociais contemporâneos, permitindo que o visitante compreenda as nuances e desdobramentos de questões estéticas centrais que marcaram as artes visuais de 1964 a 1985. Ele explica que algumas das obras já participaram de exposições relevantes para a historiografia da arte brasileira, dentro e fora do país.

 




“Muitos museus requisitam uma ou outra obra. Esse processo de empréstimo acontece há muitos anos, mas em conjunto é a primeira vez (que a coleção é exibida)”, diz, acrescentando que a motivação por trás de “Política e vanguarda (1964/85)” foi o desejo de compartilhar com os diletantes da arte o acervo que há 25 anos vem constituindo e mantendo em casa.


O colecionador destaca que o recorte temporal no período da ditadura militar veio a partir da leitura do livro “Anos 60: As transformações da arte no Brasil”, de Paulo Sérgio Duarte, que inflou seu interesse pela produção da época.

 

“Eu já vinha comprando quadros, até o ponto em que percebi que as obras que estava adquirindo não tinham relevância em termos de coleção. Depois que li esse livro, comecei a pesquisar e frequentar galerias, museus e leilões já com esse foco de interesse”, relata.


Trata-se, conforme aponta, de uma produção com uma conotação política muito forte e que, ao mesmo tempo, incorpora a influência da pop art norte-americana. “De 10 anos para cá, o mundo descobriu que aquele período foi um dos mais instigantes da arte brasileira”, afirma. Ele observa que o teor político está presente na mostra de maneira marcante, mas não diz respeito à totalidade


“O próprio nome da exposição resume bem o que é, 'Política e vanguarda'. O viés político está presente, às vezes de forma direta, às vezes de forma subliminar, mas o conjunto também traz obras que romperam com os padrões estéticos da época e apresentaram novos objetos, novas técnicas, porque houve, nos anos 60, uma guinada em relação à arte tradicional, com as instalações, por exemplo, ganhando mais espaço”, aponta.

 


A experiência de artistas que foram presos políticos é contemplada na exposição. Como exemplo, um conjunto de 30 desenhos feitos por Carlos Zilio entre 1970 e 1971, quando esteve preso no Rio de Janeiro; e dois desenhos de Sérgio Sister, também de 1971, feitos no presídio Tiradentes, em São Paulo.

 

A atmosfera de violência e sufocamento no período é expressa em obras de Artur Barrio, Anna Bella Geiger, Antonio Manuel, Antônio Henrique Amaral, Cildo Meireles e Gabriel Borba Filho, entre outros.


Avelar destaca que “Política e vanguarda (1964/85)” tem dois eixos, que são obras criadas por Waldemar Cordeiro e Antonio Dias em 1964 e 1967, respectivamente. Ele diz que, individualmente, são os trabalhos mais relevantes, mas que outros o tocam com igual intensidade.

 

“Os 30 desenhos que o Carlos Zilio produziu quando esteve preso, por exemplo. Da mesma forma, o Sérgio Sister. E tem um quadro da Judith Lauand, de 1969, de que gosto muito, porque representa a condição da mulher naquele período”, aponta.

 

 


O colecionador também chama a atenção para as obras do mineiro Décio Noviello, que terá um destaque especial na mostra, com a exibição de desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e vídeo, incluindo o registro de ação realizada na histórica exposição “Do corpo à Terra”, de 1970, em Belo Horizonte, quando o artista, então capitão do Exército, utilizou granadas de uso exclusivo das Forças Armadas para “pintar” o Parque Municipal e o Palácio das Artes. “Acho que Noviello ainda não foi reconhecido como deveria, nem em Minas nem no Brasil”, diz.


Sobre a escolha do Museu Inimá de Paula para abrigar a exposição inédita, o colecionador explica que se deveu a alguns fatores. “Atualmente, moro em Nova Lima, mas nasci em Belo Horizonte, então teria que ser aqui. O Inimá de Paula fica em frente à Faculdade de Direito da UFMG, onde me formei. E sou um dos conselheiros do Museu. Com a soma desses fatores, me pareceu natural que fosse lá.”


OLHARES FEMININOS

 

A exposição traz um conjunto representativo da produção feita por artistas mulheres. A aquisição, em 2003, de uma obra de Wanda Pimentel, da série “Envolvimentos”, foi disparadora de um olhar atento do colecionador sobre a produção das artistas do período; hoje a coleção conta com obras de grande relevância de Letícia Parente, Amélia Toledo, Claudia Andujar, Cybele Varela, Judith Lauand, Regina Vater, Regina Silveira, Lenora de Barros, Lygia Pape, Mira Schendel, entre outras.

 

Para além das questões relacionadas aos papéis sociais da mulher e da representação do corpo feminino, as obras da coleção iluminam as estratégias experimentais e conceituais adotadas pelas artistas brasileiras no período.

 


“POLÍTICA E VANGUARDA (1964/85) NA COLEÇÃO LILI E JOÃO AVELAR”
Exposição em cartaz a partir desta quarta-feira (17/4) até 18/8, no Museu Inimá de Paula (Rua da Bahia, 1.201, Centro), com horário de visitação terças, quartas, sextas e sábados, das 10h às 18h30; quintas, das 12h às 20h30; domingos e feriados, das 10h às 16h30. Entrada franca

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