Criada em 2011 por um grupo de estudantes recém-formados na Escola de Belas Artes da UFMG com a proposta de ser um núcleo de experimentação, a Casa Camelo funcionou em uma sede própria, no Santa Efigênia, até 2017. Passados sete anos desde o fechamento, o espaço será reinaugurado, em novo endereço, no Sagrada Família, neste sábado (20/4), com a exposição coletiva “Trabalhar cansa”, composta por obras de oito artistas.

 


Em sua nova fase, a Casa Camelo amplia suas atividades com exposições gratuitas, cursos, oficinas, palestras e eventos diversos organizados em parceria com artistas, curadores, professores e pesquisadores das artes visuais. As obras que integram a mostra que marca a reinauguração do espaço poderão ser vistas gratuitamente até 11 de maio.

 



 


Luiz Lemos, um dos idealizadores da Casa Camelo e curador da exposição “Trabalhar cansa”, explica que a antiga sede encerrou as atividades por uma conjunção de fatores. “A gente começou como um coletivo recém-saído da universidade, com aquela energia do início da carreira. O tempo foi passando e a vida foi levando essas pessoas para outros lugares”, pontua.


Mudança de rumos

 

Lemos conta que quando o dono pediu o imóvel em Santa Efigênia, ele estava sozinho na gestão da Casa Camelo. “Decidi que não teria mais um espaço físico, até porque já estava trabalhando em parceria com outras iniciativas, outras instituições e outros artistas. Era um momento em que Belo Horizonte contava com muitos núcleos com propostas similares”, destaca.

 


O que motivou a reabertura de uma sede própria agora, conforme aponta, foi a constatação de um cenário oposto àquele que vicejou na década passada. “Em 2013 ou 2014, existiam diversos espaços autônomos na cidade, autogeridos pelos próprios artistas. Só no Santa Efigênia eram uns quatro. Alguns deles se mantiveram, apesar de todas as dificuldades, como o Mama/Cadela, mas, fora isso, o cenário em BH ficou, a meu ver, engessado ao longo dos últimos anos”, diz.

 

 


Ele observa que existem ainda várias instituições que promovem exposições regularmente, mas o espaço para a experimentação dos artistas diminuiu. “Achamos que era o momento de reabrir com a intenção de movimentar mesmo, conseguir dar vazão a novas propostas, o que foi muito importante para a gente lá atrás”, destaca.


Denúncia em obras

 

Segundo Lemos, o título da mostra que inaugura a nova sede foi inspirado no filme homônimo de Juliana Rojas e Marco Dutra (2011). Ele diz que a intenção, com esse mote, foi nortear a somatória de discursos dos oito artistas reunidos na exposição, que observam e se aproximam de questões relacionadas ao trabalho e aos ofícios em geral.

 


O Coletivo Arado, formado por Luís Matuto e Bruno Brito, apresenta uma parede de cartazes que elogiam e denunciam os processos de trabalho.

 

Camila Lacerda integra a mostra com uma coletânea de pinturas que reelaboram o olhar sobre fachadas de comércios e seus modos de comunicação.

 

Trabalho da artista plástica Camila Lacerda

Camila Lacerda/divulgação

 

Dayane Tropicaos coloca em evidência uniformes de trabalhadores em conjunto com frases poéticas e críticas.

 

Esther Az dedica-se a tecnologias para o descanso, em obras que interpretam o direito ao lazer e ao ócio.


A artista Érica Soter, por sua vez, oferece ao público um complexo vídeo no qual pessoas estafadas sucumbem a crises no ambiente de trabalho. Marcel Diogo apresenta uma série de obras feitas com faixas de comunicação para denunciar as diferenças entre situações e tratamentos dados a trabalhadores e aos “corpos marginais”.

 

Shima expõe vídeos, fotografias e pinturas que tratam do tempo, do envelhecimento e de códigos do trabalho.

 

Lemos, que também integra a exposição com uma obra que foca ferramentas manuais atualizadas em luz neon, explica que o mote conceitual veio antes do convite aos artistas participantes. “Assisti ao filme 'Trabalhar cansa', em 2013, e ele me vem à cabeça toda vez que estou conversando sobre trabalho. O filme é o norte de condução da seleção desses trabalhos que compõem a exposição.”

 

Obras do artista plástico Shima abordam o envelhecimento e o passar do tempo

Shima/divulgação

 


Ele chama a atenção para o fato de que os artistas reunidos na mostra têm atuação multidisciplinar e lidam com diferentes linguagens e suportes – pintura, instalação, desenho, gravura, fotografia, vídeo e performance, entre outros.

 

“Entre os trabalhos do Shima, por exemplo, tem um vídeo em que ele, vestido de terno e gravata, fica cumprimentando outro homem de terno e gravata indefinidamente, cada vez de forma mais efusiva”, aponta.


O que vem por aí

 

Luiz Lemos adianta que a programação da nova Casa Camelo vai incluir uma exposição mensal, sempre acompanhada de bate-papo, batizado Conversa de Boteco – ideia que vinha latente há algum tempo. Para maio, está prevista feira de gravuras; em junho, a ideia é ocupar o espaço com exposição sobre retratos.

 

A partir da reinauguração, o espaço vai contar com sala para cursos ministrados por professores residentes de pintura, desenho, gravura e o que mais eles propuserem.

 

“Também vamos ter oficinas para crianças nos finais de semana, com o intuito de trazer um novo público para dentro desta estrutura que estamos reinaugurando. É para todo mundo vir”, diz Lemos.

 


“TRABALHAR CANSA”


Reinauguração da Casa Camelo em nova sede e abertura da exposição coletiva, neste sábado (20/4), das 14h às 22h, na Rua Santo Agostinho, 365, Sagrada Família. Visitação de quarta a sexta-feira, das 15h às 20h, e aos sábados e domingos, das 14h às 19h. Entrada franca. Informações: https://www.instagram.com/casacamelo/

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