A notícia da extinção do BDMG Cultural chegou na véspera da abertura da exposição “Todas as coisas são infinitas coisas”, de Iago Marques, que marca o início do Ciclo de Mostras 2024 da instituição, com nomes selecionados por meio de edital.

 



Diante do anúncio, artistas ligados ao Fórum da Música de Minas Gerais começaram a articular, imediatamente, manifestação para esta quinta-feira (25/4), às 19h – mesmo horário do vernissage, que, segundo a assessoria do BDMG Cultural, está mantido.


A ideia é chamar a atenção para o fim de uma das principais fomentadoras dos fazeres artísticos no estado, especialmente nas áreas de música e artes visuais. Integrante do Fórum – que reúne mais de 400 artistas mineiros –, o cantor, compositor e instrumentista Makely Ka disse que um chamamento à manifestação segue aberto.


“Na discussão do Fórum, pensamos em aproveitar a inauguração da exposição. Encampamos essa ideia e jogamos para os artistas. Nos sentimos convidados a participar desse processo e estamos ajudando a convocar. Essas coisas não podem passar e, se a gente não diz nada, elas passam. A rádio Inconfidência e a TV Minas passaram da cultura para a comunicação e ninguém falou nada”, afirma.

 

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Ele aponta um projeto de desmonte da cultura pelo governo Romeu Zema (Novo). “Uma coisa importante de lembrar sempre é que o Partido Novo foi o único que votou contra as leis emergenciais de apoio à cultura, tanto na Câmara quanto no Senado”, diz. “O que se fala é que os programas desenvolvidos pelo BDMG Cultural passariam a ser conduzidos pela FAOP (Fundação de Artes de Ouro Preto), onde já estudei. Ela não tem a menor condição, não tem expertise para assumir isso”, afirma.


Makely Ka observa que “havia a promessa de se criar um prêmio para a canção, nos moldes do BDMG Instrumental, que é fundamental. Todo ano a gente conta com essas ações na agenda. Se você fomenta a música instrumental, você fomenta a cena da música como um todo, porque são os instrumentistas participantes que tocam com a gente”.


Surpresa

Iago Marques diz ter recebido com surpresa a notícia do fechamento do BDMG Cultural. “É bem impressionante, não esperava por isso. Belo Horizonte ainda tem uma carência grande de espaços para novos artistas mostrarem seus trabalhos, o que vale, principalmente, para nós, das artes visuais. A Galeria de Arte do BDMG Cultural é um polo muito importante para a cena local”, disse.


Em “Todas as coisas são infinitas coisas”, ele reúne 25 obras produzidas ao longo do ano passado, de dimensões variadas, que incluem desenhos, colagens, pinturas em acrílica e técnica mista. A exposição tem como ponto de partida o Trabalho de Conclusão de Curso do artista na Escola de Belas Artes da UFMG e é marcada pela abstração e pela utilização de cores fortes e vibrantes, que buscam ressignificar o cotidiano.

 

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“No meu TCC, pesquisei processos artísticos, de ateliê mesmo, com foco na colagem e no desenho e, a partir deles, me aprofundei em temas que vinha desenvolvendo ao longo da graduação”, explica. Ele aponta que esses temas convergem numa dimensão poética do sentido da vida e são atravessados por um quê de espiritualidade e religiosidade. Para o artista, a inspiração vem de situações do ser humano na lida cotidiana.


“Gosto de filosofia oriental, de textos religiosos e da transcendência, de um modo geral. Tenho lido o 'Baghavad Gita', que fala sobre a vida e sobre a destruição da vida. Tem autores que me inspiram, como Ailton Krenak, com o livro 'A vida não é útil', que discorre sobre o sentido moderno da existência. O título da mostra, 'Todas as coisas são infinitas coisas', se refere a isso”, ressalta.


Fragmentos de tudo

Ele salienta que busca expressar essas referências por meio dos elementos básicos da arte – a cor, a forma e a composição. Marques destaca, ainda, que ideias como a não linearidade e a efemeridade da vida, o desgaste e a urbanidade atravessam o conjunto das obras que integram a mostra. “É um trabalho que surge de fragmentos que vou recolhendo com o tempo, de fotografias, pinturas, textos e imagens, em geral, reunindo tudo no meu ateliê”, comenta.


A oportunidade de expor na Galeria de Arte do BDMG Cultural é “muito valiosa”, conforme aponta. “A arte tem o potencial de gerar dúvidas, gerar questões e instigar pesquisas. Esse edital pelo qual fui selecionado é de uma importância enorme, já revelou muitos artistas interessantes, que passaram pela Galeria de Arte do BDMG Cultural e hoje estão no mundo. É uma presença forte no circuito cultural de Belo Horizonte”, diz.


“TODAS AS COISAS SÃO INFINITAS COISAS”
Abertura da individual de Iago Marques, nesta quinta-feira (25/4), das 19h às 22h, na Galeria de Arte do BDMG Cultural (Rua Bernardo Guimarães, 1.600, Lourdes). Em cartaz até 2/6, com horário de visitação das 10h às 18h, diariamente, exceto às quintas-feiras (das 10h às 21h). Entrada gratuita.

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