É impressionante a quantidade de atividades em que Bruce Dickinson, de 65 anos, se envolve além da música. O lado piloto é o mais conhecido, como comandante do Ed Force One, o Boeing 757 que levou o Iron Maiden em algumas turnês. Aposentado da aviação, continua praticando esgrima. Na quarta-feira (24/4), em Curitiba, onde recebeu o título de cidadão honorário, ele enfrentou Alexandre Camargo, esgrimista da Seleção Brasileira.

 

O cantor e compositor britânico também produz cerveja, é palestrante (foi a estrela do Campus Party MG em 2016, no Expominas), escreveu romances e roteiro para cinema. Diante disso, não é surpresa que “The Mandrake Project” seja um projeto desdobrado em três: é o sétimo álbum solo de Bruce, novela gráfica em formato de série e turnê que o traz novamente ao Brasil.

 



 

Neste domingo (28/4), Dickinson apresenta no Arena Hall o novo show. Na entrevista a seguir, explica como o projeto foi desenvolvido durante o tempo que ganhou durante a pandemia. A atual temporada, que vai levá-lo a sete cidades, é apenas a primeira que ele faz neste ano no país. Em dezembro, estará de volta, com o Maiden, para dois shows em São Paulo da turnê “The future past”.

 

“The Mandrake project” é um álbum, uma turnê e uma novela gráfica. Qual foi o ponto de partida?


Comecei a pensar nisso há pouco mais de 10 anos. Houve uma lacuna grande por causa do câncer (na língua, do qual se curou em 2015), mas durante a pandemia desenvolvi melhor a ideia da história em quadrinhos. Foi quando percebi que tinha de separar a novela do álbum. Cada um tem sua própria história. Ainda que estejam relacionadas, são independentes. Já lançamos dois episódios da novela, e acabei de fazer o roteiro do número quatro. É um projeto contínuo de três anos. Já o álbum tem vida própria e conta uma história que não é literal, mas musical. Começa bem pesado e finaliza com uma sonata. O mundo mudou, você sabe, então é muito triste e lírico, uma grande jornada emocional. Estou muito orgulhoso do que conseguimos fazer no disco, porque ele é um pouco diferente do que se conhece do metal. O Roy (Z, guitarrista e compositor) compôs as duas primeiras músicas do álbum (“Afterglow of Ragnarock” e “Many doors to hell”), que foram nosso ponto de partida. Reexaminamos outras que tínhamos até descobrir o formato do álbum. Não foi algo que sentamos e pensamos com muita lógica, foi mais instintivo.

 

A pandemia mudou sua perspectiva?


Mudou o fato de que passei a ter tempo para pensar. Antes da COVID, estava ocupado correndo por aí: num minuto fazia uma coisa, no outro, algo diferente. Ali não, eu pude pensar. Ou não pensar em nada. Mesmo que aquele período tenha sido difícil, houve uma coisa boa: apreciar o valor do tempo.

 

“The Mandrake Project” é seu primeiro álbum solo em quase duas décadas. O Maiden não te deu tempo para outro?


Realmente, fiquei muito ocupado com o Maiden, mas vi a oportunidade de outro disco uns cinco ou seis anos depois de “Tyranny of souls” (2005). Mas tive câncer e dei uma parada. Quando voltei, tive que ficar com o Maiden por dois ou três anos direto, para compensar o tempo que perdemos. Aí veio a pandemia. Então se passaram muitos anos (entre o disco anterior e o novo), o que nunca foi minha intenção.

 

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A trajetória de “The Mandrake project” no palco começou há pouco. O que você pode dizer sobre o show?


É muita música e uma banda incrível, mas não dá para explicar até que você tenha visto. O tecladista Mistheria tocou em todos os álbuns solo; o baterista Dave Moreno tocou neste e no anterior. Fiz algumas jams em Los Angeles com os dois guitarristas. O sueco Philip Näslund, também compositor e vencedor de um Grammy, é amigo do meu filho (Austin). Foi ele quem me sugeriu o nome. E Chris Declercq, suíço que mora em Los Angeles, gravou comigo o single “Rain on the graves”. São dois guitarristas, porque este disco tem muitas guitarras gêmeas. E tem ainda a baixista Tanya O’Callaghan. O som fica imenso. Vamos tocar muitas músicas de tudo o que já fiz e, obviamente, as novidades do novo álbum.

 

 

O que o fez decidir seguir carreira solo? Houve um ponto de virada?


Foram dois, na verdade. O primeiro foi o álbum “Tattooed millionaire” (1990), meu primeiro solo, que aconteceu de forma acidental. Compus “Bring you daughter...to the slaughter” (feita originalmente para a trilha do filme “A hora do pesadelo 5”, de 1989) e a gravadora me perguntou se teria outras para um disco. Disse que sim, mas era uma grande mentira. Tivemos duas semanas para compor o álbum todo. Mas tudo por diversão, não foi realmente um começo. O que deu início mesmo à carreira solo foi “Balls to Picasso” (1994), quando deixei o Maiden. Por isso os dois primeiros discos soam tão diferentes. “Tattooed millionaire” era uma coleção de músicas que não eram exatamente um clichê, mas soavam parecidas com tudo o que estava acontecendo na época. Já a partir de “Balls to Picasso” e o seguinte, “Skunkworks” (1996), cada disco foi tratado de maneira diferente.

 

Você é um dos grandes vocalistas do rock. Quem te inspirou?


Ian Gillan, do Deep Purple. E também o Arthur Brown, que com a banda The Crazy World of Arthur Brown lançou “Fire” (1968). O vocal é incrível. Foi o primeiro cara para quem fiz “uau”, sabe?

 

 

“THE MANDRAKE PROJECT”


Show de Bruce Dickinson. Neste domingo (28/4), às 20h, no Arena Hall (Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi). Ingressos a partir de R$ 300, à venda no bilheteriadigital.com

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