“Para mim ele é a maior figura da música popular brasileira de todos os tempos”, afirmou Caetano Veloso em entrevista à jornalista e cineasta Daniela Broitman para o documentário "Dorival Caymmi – Um homem de afetos", em cartaz em salas do UNA Cine Belas Artes e do Centro Cultural Unimed BH Minas.


Com roteiro feito a partir de uma filmagem inédita de Dorival Caymmi (1914-2008) realizada em 1998, quando ele tinha 84 anos de idade, o longa de Broitman revela o que está por trás do sentimentalismo de um dos maiores nomes da história da música brasileira.

 




“Era uma coisa importante pra mim ter materiais inéditos no filme. É mais fácil ir em arquivos de TV e fazer uma varredura nessas imagens. Acho que seria um caminho mais fácil, mas não era o filme que eu queria fazer (...) Queria realmente que fosse um filme cinematográfico, com todo cuidado, com todo tratamento artístico, visual e sonoro, para levar uma imersão para a sala de cinema. A vida e obra do Caymmi merecem essa imersão”, afirma a diretora.


Dorival Caymmi foi para o Rio de Janeiro no final da década de 1930 tentar carreira na música. Em 1939, estourou pela primeira vez com “O que é que a baiana tem?”, sucesso na voz de Carmen Miranda. Como cantor, foi reconhecido através dos versos “Quem não gosta de samba bom sujeito não é/ É ruim da cabeça ou doente do pé”. Depois do lançamento de “Samba da minha terra”, teve inúmeras canções marcantes que seguem de geração em geração.


Inspiração no mar

 

O segundo protagonista do filme é o mar. Grande fonte de inspiração do compositor baiano, as águas de Ilhéus aparecem para costurar as imagens do documentário, que vão de arquivos do músico a entrevistas com a família e amigos


Desde sempre fascinado pelo balanço, pelo som e até pelo cheiro das águas, ao longo da carreira Caymmi escreveu várias músicas com a temática, como é o caso da canção “O mar”. Assim, soa irônico o fato de que ele não sabia nadar, nem muito menos pescar. A revelação foi feita em uma biografia escrita por sua neta, Stella Caymmi. “Mas isso não tem muita importância. Eu busco o mar fora do mar. Aí entram a imaginação e também a observação”, confidenciou à neta.


Compositor do cotidiano e do universo da Bahia, ele foi o responsável por consagrar sua terra no exterior. Como afirmou o produtor Guto Burgos, depois das letras de Dorival Caymmi, “todo mundo queria saber o que é a Bahia”.
Por se tratar de um filme sobre afetos, o núcleo familiar do cantor não poderia ficar de fora. Estão presentes depoimentos dos três filhos do artista – Danilo, Dori e Nana Caymmi, que também seguiram carreira musical. Um dos grandes destaques são as falas da ex-cozinheira e confidente Cristiane de Oliveira, que esteve ao lado do artista até o momento de sua morte.


Caymmi influenciou a geração de músicos que vieram depois dele e abriu caminhos para grandes movimentos como a Bossa Nova e a Tropicália. “Enquanto eu existir, existirá Caymmi. Eu sou fluxo decorrente dele tô na água desse rio, ele é um rio que continua correndo”, afirmou Gilberto Gil, em uma cena do documentário.

 

Filho de Xangô

 

O filme traz ainda referências da espiritualidade do artista que, embora não fosse religioso praticante, se dizia filho de Xangô, e era devoto ao candomblé, além de detalhes sobre seu relacionamento com a mineira Stella Maris, companheira e mãe de seus filhos. O longa teve estreia na última quinta-feira (25/4) em comemoração a semana em que Dorival Caymmi completaria 110 anos.

 

“DORIVAL CAYMMI – UM HOMEM DE AFETOS”?
(Brasil, 2020, 93 minutos). Direção e roteiro: Daniela Broitman. Com depoimentos de Dori, Nana e Danilo Caymmi, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ana Terra, Gabriel Caymmi, Guto Burgos e Cristiane de Oliveira. Em cartaz no Una Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581 – Lourdes) e no Centro Cultural Unimed BH Minas (Rua da Bahia, 2.244 – Lourdes).

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