Mariana e Ouro Preto – Unidas pela história, orgulhosas da sua riqueza cultural e plenas em tradições, as cidades vizinhas Mariana e Ouro Preto, na Região Central de Minas, assistem agora a situações opostas – com alegria de um lado e frustração do outro. Enquanto Mariana terá inaugurado em 1º de maio um novo cinema, Ouro Preto espera pela volta do Cine-Teatro Vila Rica, que saiu de cena em 2018 e deixou vazio o belo prédio construído no final do período imperial.

 

 




A inauguração do Cine Ritz Mariana no feriado de 1º de Maio, com as exibições de “Garfield – Fora de casa”, da comédia nacional “Os farofeiros 2” e de “Godzilla e Kong: O novo império”, anima os moradores daquela que foi a primeira vila, diocese, cidade e capital de Minas Gerais. Diante do prédio na Rua Wenceslau Braz, número 497, nas proximidades da prefeitura local e da estação ferroviária, moradores param, perguntam sobre o andamento das obras e contam histórias. “Neste local, havia a residência da minha tia, Edite Costa. Era uma casa antiga, depois o terreno foi vendido”, lembra a professora aposentada Maria do Rosário Gomes.


No escurinho...

 

Para a moradora, nada se compara ao prazer de ir ao cinema. “Na televisão, não tem tanta graça, mesmo com vários canais disponíveis. O bom mesmo é sair de casa, chegar à sala de exibição, sentar e assistir ao filme”, diz Maria do Rosário, que não se esquece dos tempos de criança e da adolescência quando estava sempre no cinema da cidade, no Centro Histórico, cujo prédio hoje tem outra ocupação. “Com certeza, virei muitas vezes aqui.”

 

 

Com 180 lugares e adaptações como acessibilidade, sistema de ar-condicionado e tratamento acústico, além da novidade de tela 3D, o Cine Ritz Mariana, da AFA Cinemas, de São Paulo, ocupa o prédio da Orquestra e Coro Mestre Vicente. O contrato do aluguel é por cinco anos, informa o sócio da empresa, Tamar Sanvido, que cuida dos últimos detalhes e da inauguração.

 


“O Ritz Mariana vai funcionar diariamente e exibirá filmes recém-lançados, como poderá ser visto logo na estreia. Há um crescimento de público nas salas de exibição no país, tanto que planejamos outras para Minas”, diz Sanvido, destacando que o estabelecimento terá bomboniere para venda de pipoca, chocolate, refrigerante e guloseimas que fazem a festa “no escurinho do cinema”. Presente em São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, com um total de 80 salas de exibição, a AFA Cinemas tem agora no foco o Rio de Janeiro.


Democratização da cultura

 

Curtir um filme com pipoca e diversão, falar sobre a história e a atuação dos atores é um programa que interessa a todas as gerações. E está sempre em cartaz em muitas cidades. Um dos mais entusiasmados com a inauguração é o vice-prefeito de Mariana, Cristiano Vilas Boas, que já foi secretário Municipal de Cultura. “Apoiamos o projeto por ser mais uma opção de cultura para a população da nossa cidade, e pela possibilidade de democratizar a cultura. É objetivo da prefeitura criar projetos para levar estudantes ao cinema”, diz Vilas Boas, que intermediou os contatos entre a empresa e a Orquestra e Coro Mestre Vicente, presidida por Maria Emília Dutra.

 

 

Segundo Maria Emília, flautista formada pela Universidade Federal de São João del-Rei, não haverá prejuízos para a orquestra e coro. “Temos o teatro, que estava fechado e vai se tornar cinema, e um anexo a ser usado para os ensaios semanais realizados às segundas-feiras”, explica a dirigente. “Passamos a maior parte do tempo cantando nas igrejas históricas da cidade. A Orquestra e Coro Mestre Vicente mantém as tradições religiosas apresentando músicas em latim.”

 

Vila Rica sem fila


Já na ex-Vila Rica, ex-capital de Minas e cidade reconhecida como Patrimônio Mundial, o clima é de frustração, embora haja esperança. Fechado há quase seis anos, o Cine-Teatro Vila Rica, no Centro Histórico, não lembra em nada os tempos em que as pessoas faziam fila na rua para assistir aos filmes novos e antigos. Portas e janelas estão fechadas no imóvel pertencente à Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

 

"Tenho muita saudade daqueles anos. Gostava muito de vir aqui, pois passava bons filmes", afirma o taxista Eduardo Lomas, em frente ao Cine-Teatro Vila Rica, em Ouro Preto

JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS

 

“Tenho muita saudade daqueles anos. Gostava muito de vir aqui, pois passava bons filmes. Sentimos falta desse tipo de diversão”, diz o taxista Eduardo Lomas, há 32 anos no ofício. Ao lado do antigo cinema, há um portão de uso exclusivo dos taxistas, e, passando por ali, é possível ver a lateral do prédio. “Fico preocupado, pois o imóvel está cheio de morcegos... e a gente vê muito rato saindo de lá”, avisa Eduardo.


Linhas neoclássicas

 

Na fachada do cinema, está afixada uma placa com a seguinte informação, em português e inglês: “Cine-Teatro Vila Rica: Construção eclética em linhas neoclássicas do fim do período imperial. Sede do Liceu de Artes e Ofícios de Ouro Preto, na década de 1950 foi adaptada para cine-teatro e hoje pertence à Universidade Federal de Ouro Preto. O arquiteto Lúcio Costa modificou sua fachada, suprimindo a platibanda típica do ecletismo”.

 


Para quem espera ansiosamente pela reabertura do Cine-Teatro Vila Rica, vale não desanimar. De acordo com o pró-reitor de Planejamento da Ufop, Eleonardo Lucas Pereira, a universidade iniciou, em 2020, negociações com o governo de Minas, via Secretaria de Estado da Educação, para reforma e também ações educativas, uma vez que o projeto anterior, acertado com a Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais), foi cancelado.


Reforma e reabertura

 

“Ficou acertado que o governo vai investir R$ 16,5 milhões para reforma total do prédio. Desse montante, foram repassados, em 2023, R$ 6,5 milhões para serviços a cargo da Fundação Gorceix, contratada pela universidade para viabilizar a obra. A Fundação Gorceix já publicou o edital de licitação do projeto executivo, e há empresas interessadas fazendo visitas técnicas ao local. A previsão inicial para a finalização dos projetos e obras é de cinco anos”, informa Eleonardo Lucas.


O pró-reitor de Planejamento ressalta que se trata de “uma edificação tombada isoladamente e inserida em perímetro de tombamento, características que podem por tornar a obra mais demorada”. Ao final da reforma, a sala terá 408 lugares. “Nosso foco é no ensino, pesquisa e extensão, portanto, a finalidade será educativa, o que não exclui exibição de filmes em festivais e em outras oportunidades”, explica Eleonardo. Atualmente, atividades do Cine Vila Rica são realizadas no anexo do Museu da Inconfidência.

 

Diamantina na rota

 

Para os mineiros saudosos das salas de exibição, vai aqui uma boa notícia. A exemplo de Mariana, a empresa AFA cinemas pretende abrir um cinema na cidade que é Patrimônio da Humanidade: o Ritz Ouro Preto. Também Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, contará com um cinema da empresa paulista.

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