A polícia interrogou o ator francês Gérard Depardieu e o manteve sob custódia policial temporária, nesta segunda-feira (29/4), no contexto das acusações de agressões sexuais feitas por duas mulheres que trabalharam com ele na França.
O Ministério Público de Paris anunciou em seguida que "Gérard Depardieu recebeu uma convocação para comparecer ante o tribunal por agressões sexuais provavelmente cometidas em setembro de 2021 em prejuízo de duas vítimas durante a filmagem do filme Les volets verts" e acrescentou que ele irá a julgamento em outubro.
Uma das denúncias foi feita em fevereiro por uma cenógrafa que trabalhou na produção de "Les volets verts" (2022), de Jean Becker, e que o acusa de tê-la agredido sexualmente em 2021, durante as filmagens.
Denúncia de cenógrafa
A cenógrafa declarou ao site Mediapart que o ator fez comentários indecentes e depois a "agarrou brutalmente" e "esfregou sua cintura, a barriga, até os seios".
Não lançado no Brasil, “Les volets verts” gira em torno da história de um famoso e prestigiado ator, já em um momento avançado da vida e da carreira, contrapondo o sucesso profissional com o fracasso da vida privada do astro. No elenco estão outros grandes nomes do cinema francês, como Fanny Ardant e Benoît Poelvoorde.
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"É um alívio [a notícia do julgamento]", declarou Carine Durrieu-Diebolt, advogada que representa a cenógrafa. "Sem dúvida, há outras vítimas. Até agora, entre 20 e 25 mulheres denunciaram incidentes que vão desde o menosprezo à violência de gênero, passando pelo assédio e pela agressão sexual. É o momento que seja julgado", acrescentou a advogada, que também defende uma mulher que denunciou o ator por supostos crimes ocorridos em 2014.
A outra denúncia envolvendo o set de "Les volets verts" não foi divulgada.
A denúncia referente a 2014 foi feita por uma ex-assistente de direção, que relatou atos semelhantes, ocorridos naquele ano. Segundo a emissora BFMTV, a suposta agressão ocorreu durante as filmagens do curta-metragem "Le magicien et les siamois", de Jean-Pierre Mocky.
A denunciante, que tinha 24 anos no momento da agressão, apresentou queixa no dia 9 de janeiro. Ela acusa Depardieu de utilizar "palavras indecentes" em sua mansão, em Paris.
Carta aberta
Em uma entrevista ao jornal regional Le Courrier de l'Ouest, em fevereiro, a mulher, que deseja permanecer no anonimato, também citou as mãos do ator "por todo o corpo" durante as filmagens.
A atriz Charlotte Arnould o acusa de tê-la estuprado duas vezes, em sua casa, em Paris, em 2018. Em dezembro de 2020, a acusação foi aceita pela Justiça.
"Nunca abusei de uma mulher", afirmou o ator, em uma carta aberta publicada em outubro de 2023 pelo jornal Le Figaro, em referência às acusações de Charlotte Arnould.
No final de dezembro, a Justiça arquivou a queixa da atriz Hélène Darras, que o acusou de tê-la agredido sexualmente durante uma filmagem em 2007, por prescrição dos fatos.
Denúncia de jornalista
A jornalista e escritora espanhola Ruth Baza anunciou que denunciou o ator na Espanha por estupro, que supostamente ocorreu em Paris, em 1995, quando ela foi entrevistá-lo.
Quase 20 mulheres o denunciaram à imprensa ou à Justiça por supostas agressões sexuais. Segundo o Mediapart, Depardieu tocou os "seios e nádegas" de outra mulher durante as filmagens do filme de Becker.
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A atriz Anouk Grinberg, que participou do filme de Becker, afirmou que os produtores sabiam do comportamento de Depardieu."Quando produtores de cinema contratam Depardieu para um filme, sabem que estão contratando um agressor", disse.
Ela afirma que o diretor de "Les volets verts "se atreve a dizer nos jornais que minhas palavras são escandalosas e que, obviamente, se Depardieu tivesse agido mal, teria falado entre homens".
"Sabiam perfeitamente que duas mulheres haviam sido gravemente agredidas. E para encobrir sua covardia, sua incapacidade para proteger as mulheres, [Jean Becker e os produtores] me acusam de mentir."
Relato de ameaças
Durante a filmagem havia uma profissional encarregada de evitar casos de assédio, mas Grinberg afirma que nunca a conheceu. "Em alguns filmes com Depardieu, a equipe alertou antes de rodar: 'Se houver algum problema, calem-se. Se falarem, serão demitidos'", afirma.
Em dezembro do ano passado, um vídeo vazado mostra o ator fazendo comentários misóginos e obscenos. O vídeo foi gravado há cinco anos, durante uma visita do ator à Coreia do Norte.
Veja o trailer de "Les volets verts" (em francês):
"As mulheres adoram andar a cavalo. Seu clitóris roça no punho da sela. Elas gostam muito, são grandes vadias", diz Depardieu na gravação, enquanto assiste a um treino de hipismo. Em seguida, o ator sexualiza uma criança que pratica o esporte. "Isso mesmo, minha garota, continue", diz.
Declaração do presidente
As acusações contra Depardieu se tornaram uma frente de guerra cultural na França, dividindo o mundo do cinema e colocando grupos feministas contra os defensores do ator.
O presidente francês, Emmanuel Macron, se posicionou a favor do ator, afirmando que ele foi objeto de uma "caçada humana" e classificando-o como um "ator imenso" que deixou a França "orgulhosa".