Discípula de Guignard, Maria Helena Andrés diz que continua seguindo a orientação do mestre para buscar o novo a cada dia -  (crédito: Marcos Vieira /EM/DA. Press)

Discípula de Guignard, Maria Helena Andrés diz que continua seguindo a orientação do mestre para buscar o novo a cada dia

crédito: Marcos Vieira /EM/DA. Press

 


Em frente ao lago do Parque Municipal, o grupo de alunas, todas de saia godê, acompanhava o mestre. Era uma surpresa atrás da outra. Em um momento, ele jogava uma pedra no lago e pedia para observarem os círculos que se formavam na água em torno do objeto. Ou então que mirassem o céu de Belo Horizonte e ficassem de olho na formação das nuvens.

 


"Logo que comecei com Guignard, comecei também a descobrir uma 'coisa nova', como ele dizia. Acho que é importante você descobrir, a cada dia, o novo. Por estar sempre me renovando, minha obra é muito diversificada", afirma Maria Helena Andrés.

 


Artista, educadora, pensadora, Maria Helena, aos 101 anos, continua múltipla. Aluna da primeira turma do mestre modernista – em 1944, que deu origem à Escola Guignard – carrega até hoje seus ensinamentos. Sua trajetória de sete décadas dedicadas à arte está documentada em duas publicações que serão lançadas neste sábado (4/5), na Livraria Quixote.

 

Fortuna crítica


"Maria Helena Andrés – Fortuna crítica", organizada pelas historiadoras da arte Marília Andrés Ribeiro (uma de suas filhas) e Nelyane Gonçalves Santos, reúne textos (publicados tanto na imprensa quanto em catálogos de exposições) dos anos 1950 até a atualidade. A divisão se dá por décadas. Já "Maria Helena Andrés – Trajetória artística", da professora de yoga (e também filha) Eliana Andrés Ribeiro, faz uma panorâmica de sua carreira.

 

Acompanhando as autoras, a estrela da festa estará presente, ainda que não por todo o tempo, para não se cansar. A artista fala com entusiasmo dos livros, criados pelo Instituto Maria Helena Andrés. "Há coisas que não imaginava que tinham acontecido. Comecei (a partir dos livros) a me lembrar de tudo, de acontecimentos de 70 anos atrás."


Ainda que a pesquisa tenha sido realizada pelas autoras, a contribuição da homenageada foi enorme. Ao longo da vida, Maria Helena guardou recortes de jornais e outras publicações que tratavam de sua obra. Em 2011, Eliana começou a organizar o arquivo da mãe. "Estava tudo muito bem guardado, engavetado, mas sem visibilidade", conta ela.

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Eliana categorizava as informações, tirava xerox colorido e criava cadernos. "À medida que os anos iam passando, se ela fizesse alguma exposição ou alguma realização interessante, eu acrescentava essa informação. Não tinha a menor expectativa sobre aquilo, mas tinha a intuição de que um dia iria publicar."


O volume sobre a trajetória é prefaciado por Maria do Carmo de Freitas Veneroso. Acompanhada de muitas fotos, a cronologia artística vai de 1943 a 2023, quando houve a individual "Bom dia, senhora Maria Helena Andrés; Bom dia, senhor Almandrade", na AM Galeria, em São Paulo.


Para além da influência e do aprendizado com Guignard, há vários outros pontos relevantes de sua trajetória. Um bom exemplo é a aproximação que Maria Helena tem com o Oriente a partir de uma viagem que fez ao redor do mundo, em 1970. Conheceu o Japão, o Nepal e a Índia. Aprofundou-se na filosofia oriental, descobriu o yoga e a meditação, que pratica desde então. Sua vivência influencia sua obra, que se aproxima de seu próprio mundo interior.


Pesquisa

Marília diz que, a partir da primeira organização feita por Eliana, começou, ao lado de Nelyane, a pesquisar em alguns arquivos o que havia sido escrito sobre Maria Helena. O trabalho foi realizado durante a pandemia, que gerou primeiramente um e-book, agora atualizado para o livro impresso.


A fortuna crítica tem início em 1953, quando Maria Helena entrou no circuito por meio de salões e exposições. Ainda nesta fase, o crítico Frederico Morais atestou que a obra da artista "representa a vanguarda das artes plásticas em Minas". Destacou, em texto publicado em 1958 no extinto "Diário de Minas", que "ser pintora abstrata ou figurativa não tem importância nem tampouco é o fundamental de sua arte". Morais elege a "pesquisa constante" empreendida por ela.


Tal análise, feita 65 anos atrás, permanece válida. Maria Helena assinou pinturas, desenhos, colagens e esculturas. Continua vivendo em sua casa e ateliê, em um condomínio em Nova Lima. Lúcida, com boa saúde, alimentação saudável, em contato direto com a natureza e vista para as montanhas, segue atuante.

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Faz atualmente desenhos, colagens e projetos para esculturas. E ainda se dedica a dois blogs: "Minha vida de artista" (disponível em mariahelenaandres.blogspot.com) e "Memórias e viagens" (disponível em memoriaseviagensmha.blogspot.com).


Neste último, o post mais recente é de 31 de março. No texto, Maria Helena volta exatos 80 anos para descrever sua primeira aula com Guignard, a condução "à linha contínua que trazia a liberdade de expressão". Termina o post com a seguinte frase: "Bom dia, Guignard! Estou com 101 anos de vida e até hoje sigo as suas orientações".


MARIA HELENA ANDRÉS
• Lançamento dos livros "Fortuna crítica" (230 páginas, R$ 50), organizado por Marília Andrés Ribeiro e Nelyane Gonçalves Santos, e "Trajetória artística" (64 páginas, R$ 30), de Eliana Andrés Ribeiro. Neste sábado (4/5), das 11h às 13h, na Quixote, Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi.