O filme usa imagens de arquivo e também registros atuais de Adriana Varejão, de seu processo de trabalho e de suas obras -  (crédito: Pedro Prado/Divulgação)

O filme usa imagens de arquivo e também registros atuais de Adriana Varejão, de seu processo de trabalho e de suas obras

crédito: Pedro Prado/Divulgação

 

Com estreia nesta terça (7/5), no canal Curta!, "Adriana Varejão — Entre carnes e mares", de Andrucha Waddington e Pedro Buarque, é o primeiro documentário de vulto dedicado à artista plástica carioca, expoente há muito da produção brasileira contemporânea.

 


São carnes, mares e outros tantos mundos que habitam sua obra: a China, o barroco, as saunas, os craquelês. Cada temática da obra de Adriana ganhou um episódio no longa – mas todos os temas que constituem seu processo produtivo estão interligados. Vida e obra da artista não podem ser desvinculados.

 

O projeto foi iniciado há mais de uma década, quando Buarque, marido da artista, começou a captar algumas imagens. Não sabia o que viria dali. "Fomos captando material e guardando. Depois de cinco anos, sentamos para pensar no roteiro. O que estava claro (desde o início) era que não queríamos dar ao conteúdo um tom tradicional", diz ele.

 

 

 


Buarque e Waddington são sócios na Conspiração, que produziu o longa. Os filmes "Eu, tu, eles" (2000) e "Casa de areia" (2005) foram realizações conjuntas de Buarque como produtor e Waddington como diretor.

 


O produtor, na verdade, nunca havia dirigido um filme. Resolveu abrir esta exceção "porque entendi que tinha que haver uma conversa mais profunda sobre o processo dela. A ideia não era (que o filme) fosse apenas um espectador do trabalho, era necessário um conhecimento das artes". Buarque é filho da professora e ensaísta Heloisa Teixeira e do marchand Luiz Buarque de Hollanda.

 


Narração em off

 

"Entre carnes e mares" pode ser visto como uma biografia artística. Adriana é quem faz a narração em off, comentando os temas, seu método de trabalho e as questões que norteiam sua obra. Há ainda participação (a maior parte delas também em off) de curadores e intelectuais, como Lilia Schwarcz e Adriano Pedrosa.

 


Os temas são apresentados sem se preocupar com uma cronologia. São eles que vão ditar a narrativa, que por vezes ganha nuances biográficas. Mas mesmo que exista uma divisão temática, a linha divisória é muito tênue, e os assuntos acabam "conversando".

 


Adriana completa 60 anos no próximo dia 11 de novembro. Nascida no Rio de Janeiro de uma família que não tinha relação alguma com as artes – o pai era piloto da Aeronáutica; a mãe, nutricionista – mudou-se, em 1968, para Brasília, onde viveu por alguns anos.

 


Acompanhava a mãe no trabalho na cidade-satélite de Sobradinho, onde descobriu a mistura de raças que havia no país. Veio também da infância a descoberta da arte, que se deu por meio da coleção de fascículos "Mestres da pintura".

 


Até aquele momento, arte era algo que impactava Adriana, mas estava fora do alcance. No início dos anos 1970, a família retorna para o Rio. E ela, a partir da década de 1980, começa a estudar arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, que vivia a efervescência da época e formou vários nomes da chamada Geração 80.

 


Foi nesse período que a artista teve contato com questões que foram determinantes para sua obra. O professor Charles Watson, um pintor escocês, lhe apresentou as artes marciais chinesas. Adepta do tai chi, ela chegou a estudar mandarim e passou a se aprofundar mais e mais na cultura daquele país.

 


Ao mesmo tempo, conheceu, ainda nos anos 1980, Ouro Preto. Hospedada em uma república, ela admite no filme que teve uma epifania na cidade histórica. A artista diz que reconheceu nas igrejas barrocas – visitou todas já na primeira viagem àquela cidade – elementos chineses da arquitetura e da pintura. O barroco virou um de seus grandes temas, assim como a China.

 


Tais passagens são apresentadas com imagens de época, muitas delas feitas pela própria Adriana. "Fizemos um trabalho enorme de pesquisa, digitalizamos tudo. Tinha coisas que nem ela se lembrava", diz Buarque.

 


Inhotim

 

Inhotim, é claro, está presente no documentário – em imagens tanto antigas quanto atuais, feitas para o longa. Em 2008, foi inaugurado em Brumadinho o Pavilhão Adriana Varejão, que está entre os cinco mais visitados da instituição. Ali estão obras como "Celacanto provoca maremoto" (que dá nome a um dos episódios do documentários) que une azulejaria barroca ao mar, e também "O colecionador", uma das obras da série "Saunas".


Para falar sobre as saunas, o documentário apresenta uma obra de forma imersiva, com trilha vinda de países (Turquia, Japão) que a influenciaram nesta série. "Na verdade, as saunas são feitas em 3D no computador antes de serem pintadas. Nossa ideia foi mergulhar de fato no processo", conta Buarque.


Mesmo que a direção de "Entre carnes e mares" seja uma exceção em sua atuação no audiovisual, Buarque afirma ter a intenção de realizar outros documentários sobre artistas brasileiros. "Existe o desejo, mas não que seja fácil fazer um trabalho profundo. Acho relevante fazer uma abordagem do pensamento de um artista. E não só para o agora, mas para o futuro, para que daqui a 20, 30 anos se possa estudar a arte do passado", afirma.


“ADRIANA VAREJÃO – ENTRE CARNES E MARES”
Documentário de Andrucha Waddington e Pedro Buarque. Estreia nesta terça (7/5), às 22h30, no canal Curta.! Reprises na quarta (8/5), às 2h30 e 16h30; quinta (9/5), às 10h30; sábado (11/5), às 16h30; e domingo (12/5), às 22h30. Também na quarta o filme estará disponível no streaming CurtaOn – Clube de Documentários.