Léa Garcia, a Serafina de

Léa Garcia, a Serafina de "Orfeu negro" (1959), é homenageada na mostra do Cineclube Mocambo, que reúne 23 filmes no Cine Humberto Mauro

crédito: Tupan Filmes/Divulgação

 

Há 65 anos, a atriz Léa Garcia (1933-2023) entrava para a história do cinema brasileiro ao interpretar a jovem Serafina, em “Orfeu negro” (1959), o primeiro filme em língua portuguesa a ganhar o Oscar (melhor filme estrangeiro), em 1960.


Destaque do longa, a carioca chamou a atenção internacional ao ficar em 2º lugar na categoria de melhor atriz, no prêmio Palma de Ouro do Festival de Cannes. Léa é uma figura fundamental para se pensar a presença negra no audiovisual do Brasil.

 


Vida e obra da atriz são temas da terceira edição da mostra cinematográfica do Cineclube Mocambo, “Léa Garcia – A deusa negra”, que estreia nesta quinta (9/5) e se estende até domingo (12/5), no Cine Humberto Mauro, com algumas sessões comentadas e entrada gratuita.


“Este tema é uma ideia antiga, que a gente sempre teve e que, inclusive, foi comunicada para a Léa, que estava ciente. Originalmente, ela viria, faria uma master class e participaria do evento como um todo, mas não foi possível”, explica Gabriel Araújo, crítico e curador das sessões.

 

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Léa Garcia faleceu em agosto de 2023, aos 90 anos. Para rememorá-la, serão exibidos 23 filmes nacionais e estrangeiros, com e sem a atriz no elenco, e divididos em sete sessões temáticas, com curadoria de Gabriel Araújo, Jacson Dias, Diego Silva Souza, Lorenna Rocha e Victória Morais.


Por meio delas, a mostra propõe a reflexão: “O que muda quando centralizamos o trabalho de uma atriz como uma chave de leitura para se pensar os filmes?”.

 

Representatividade

 

“Muitas vezes, principalmente quando pensamos em cinematografias, tendemos a focar na filmografia de algum diretor. Quando a gente escolhe fazer uma edição voltada para Léa Garcia é também um posicionamento para entender o cinema como uma atividade prioritariamente coletiva e que diversas outras pessoas, que muitas vezes não assumiram a cadeira de direção, também colaboraram para a construção da representação da negritude”, afirma Gabriel Araújo.


A primeira sessão acontece hoje, às 19h, e leva o tema “Arquivos estrangeiros". Nela, serão analisadas as imagens exotizadas que permeiam a história do nosso cinema, por meio da personagem de Léa no – já citado – “Orfeu Negro” (1959), de Marcel Camus, filmado entre a França e o Brasil; e a trama “Moune Ô” (2022), de Maxime Jean-Baptiste, filme belga e francês, com raízes franco-guianenses.

 

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“‘Orfeu negro’ é um filme complexo quando a gente para para pensar que o Camus, que é um francês, veio para o Brasil para registrar o povo. Tem uma certa exotização no que diz respeito ao olhar para o Rio de Janeiro, principalmente durante o carnaval, para as pessoas que estão ali e para as religiosidades afro-brasileiras”, diz o curador.


Ele explica que “‘Moune Ô” discute justamente isso. “(O longa) trata da estreia de um filme que uma pessoa europeia fez no seu país de origem, com a complexidade de como é ter sua imagem roubada, entre aspas, mas também com a possibilidade de imprimi-la com alguma espécie de autoria, de autoridade, que é uma coisa que a Léa fez muito em torno da sua vida. É justamente pegar personagens estereotipados e dar força para eles”, afirma Araújo.

 

Pioneirismo

Entre as quase duas dúzias de produções audiovisuais da mostra, o número de curtas se destaca o que, segundo o curador, “é onde o cinema negro está mais expressivo no dia de hoje”. Diante de tal cenário, Araújo garante: as projeções para o futuro são melhores. Muito, graças ao trabalho de artistas como Léa Garcia. “Olhar para a Léa como pioneira, no momento em que existiam pouquíssimas pessoas negras no cinema, é importante para a gente permanecer lutando, seguir resistindo e continuar pensando em novas formas de criar e reproduzir imagens interessantes e mais criativas do que as que já estão sendo colocadas.”


“LÉA GARCIA: A DEUSA NEGRA”
Mostra do Cineclube Mocambo, no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537 – Centro). Sessões desta quinta (9/5) até domingo (12/5). Entrada franca, mediante retirada de ingressos uma hora antes de cada sessão. Informações: (31) 3236-7400. Programação completa: www.fcs.mg.gov.br.

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro