Entre os itens expostos estão livros, quadros, discos, blocos de desenho e coleções de revistas  -  (crédito: MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS)

Entre os itens expostos estão livros, quadros, discos, blocos de desenho e coleções de revistas

crédito: MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS

Caratinga – As recentes homenagens à memória do chargista, escritor, designer gráfico e jornalista Ziraldo Alves Pinto (1932-2024) iluminam em sua terra natal, Caratinga, na Região Leste de Minas, a trajetória de outro grande nome de expressão nacional. Em local de destaque no Casarão das Artes, equipamento cultural no Centro da cidade, foi recriado o estúdio do carioca Millôr Fernandes (1923-2012), amigo de longa data de Ziraldo.

 

O espaço contém livros, quadros, blocos de desenho, discos de música clássica e MPB, cartazes, coleção do célebre jornal “O Pasquim” e de outras publicações nacionais e estrangeiras, junto a alguns objetos pertencentes ao desenhista, dramaturgo, humorista e escritor.

 

“Recriamos o estúdio que Millôr tinha em Ipanema, no Rio de Janeiro”, conta o professor Cláudio Leitão, um dos proprietários do imóvel vinculado à Fundação Cultural Casarão das Artes e que tem parceria com a Rede de Ensino Doctum, da família Leitão.

 

Espaço Millôr Fernandes


Logo na entrada do Espaço Millôr Fernandes, há um painel com a foto do carioca no estúdio e uma de suas frases antológicas: “Livre pensar é só pensar”. A partir daí, abre-se um universo de palavras, ideias, obras, intimidade e raridades. Sobre uma mesa, vê-se o livro “O mergulhador”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), com a dedicatória, em 1968, a Millôr: “A quem eu persigo com a minha inalterável amizade desde 1946, dos bons tempos de Los Angeles e por tantos, o abraço mais amigo do Vinicius”.

 


Gavetas de madeira acomodam coleção da revista britânica “Punch”, de humor e sátira, publicada de 1841 a 1992 e de 1996 a 2002. Na gaveta ao lado, salta aos olhos a coleção do célebre “O Pasquim”, semanário editado entre 1969 e 1991, reunindo Ziraldo, Millôr, Tarso de Castro, Jaguar, Luiz Carlos Maciel, entre outros.

 

O presidente da Fundação Cultural Casarão das Artes, Américo Galvão Neto, explica que o mobiliário reproduz fielmente o que havia no estúdio carioca. E chama a atenção para a coleção da revista “Pif-Paf” e os livros raros sobre cartografia do Rio de Janeiro.

 

“Consideramos que não há história sem preservar a memória, e a presença do Casarão das Artes é necessária para registrar o pensamento cultural de cada época e suas manifestações artísticas. Nos últimos 12 anos de presença ativa e compromisso cultural, realizamos 2,3 mil eventos, com público de 120 mil pessoas. Somente no ano passado, foram 561 eventos.” 


Persianas vermelhas

 

O acervo existente no Espaço Millôr Fernandes chegou a Caratinga por intermédio de Ziraldo. Em 2013, após a morte do pai, Ivan Rubino Fernandes telefonou para o cartunista mineiro e falou sobre a intenção de doar parte de livros e outros objetos particulares, desde que fossem preservados – a maior parte do acervo público de Millôr Fernandes se encontra no Instituto Moreira Salles, em São Paulo.

 


“Ziraldo aceitou a proposta e me perguntou se poderíamos receber o acervo. Eu disse sim, e ele mandou um caminhão-baú trazer o material doado”, conta Cláudio Leitão. “Recriamos o estúdio dele. Mandamos, inclusive, fazer cópias das persianas vermelhas para compor o ambiente.”

 

Cláudio Leitão informa que o próximo passo será a digitalização de todo o material exposto. Dessa forma, o legado de Millôr Fernandes poderá ser acessado via internet e consultado por pesquisadores e demais interessados na obra do escritor, sem danos às publicações.

 

Para sacramentar a amizade entre Ziraldo e Millôr, que trabalharam juntos, no final da década de 1950, na revista “O Cruzeiro”, dos Diários Associados, há um retrato do mineiro falecido em 6 de abril, na parede.

 

Piano de cauda

 

O imóvel localizado na Rua João Pinheiro, nº 154, perto da Praça Cesário Alvim, onde há um coreto projetado, a pedido de Ziraldo, por Oscar Niemeyer (1907-2012), merece muita atenção, pois se trata do último imóvel do século 19 na cidade, segundo Cláudio Leitão. Entre as joias do patrimônio local, está um piano alemão de cauda de 115 anos.

 


Conhecido popularmente como Casarão Dr. Agenor, o imóvel de três pisos, tombado em nível municipal, foi totalmente restaurado em 2011, mantendo as características originais, principalmente a fachada, e recebendo adequações para galeria de arte, Ponto da Memória/Museu do Povo de Caratinga, Cine Teatro e outros ambientes. O projeto de restauração foi feito pelo arquiteto Sylvio Emrich de Podestá.

 

O nome “Dr. Agenor” se deve ao antigo proprietário Agenor Ludgero Alves (advogado, promotor de Justiça e político) que, no tempo em que morou no casarão com sua família, recebeu e hospedou figuras importantes, a exemplo de João Pinheiro (1860-1908), Arthur Bernardes (1875-1955) e Juscelino Kubitschek (1902-1976).

 


Conforme as pesquisas, durante a Revolução de 1930, “a casa e seu morador ilustre foram alvo da tensão política”. Assim, “dr. Agenor, então eleito deputado federal, foi sitiado no casarão, cercado por homens armados ligados ao grupo político da revolução; uma de suas filhas contou que havia cerca de 40 pessoas armadas dentro da casa e 60 do lado de fora”.

 

O imóvel foi adquirido pela família Leitão e pela Rede de Ensino Doctum em 1997, quando foi colocado à venda pelos herdeiros de Agenor Ludgero Alves.

 

CASARÃO DAS ARTES

 

Avenida João Pinheiro, nº 154, no Centro de Caratinga.

Visitação das 8h às 12h e das 14h às 18h, todos os dias.

Grupos devem fazer agendamento enviando email para casaraodasartesmg@gmail.com.

Entrada gratuita.