Eustáquio Neves diz que, na conversa, deve abordar sua carreira desde o início, com destaque para a decisão de tratar da questão racial -  (crédito:  eustáquio neves/divulgação)

Eustáquio Neves diz que, na conversa, deve abordar sua carreira desde o início, com destaque para a decisão de tratar da questão racial

crédito: eustáquio neves/divulgação

 

O projeto Foto em Pauta completa duas décadas e, para abrir a temporada comemorativa, que se estende ao longo do ano, recebe Eustáquio Neves. Um dos principais nomes da fotografia em Minas Gerais, ele conversa com o público nesta terça-feira (14/5), às 19h, no Cine Santa Tereza. O bate-papo será mediado pelo coordenador do Foto em Pauta, Eugênio Sávio, e vai contar com interpretação em Libras.

 


Durante o encontro com o público, o artista vai repassar, por meio de projeções, seu percurso artístico, desde sempre marcado por uma linguagem experimental e pela manipulação química de negativos e cópias, muitas vezes misturando fragmentos de diferentes registros. No que diz respeito à temática, Neves trabalha com histórias que perpassam o próprio corpo e sua ancestralidade afro-brasileira.

 


Metáfora

Segundo Sávio, sua obra pode ser lida como metáfora do acúmulo de histórias oficiais ou não que se desenvolvem acerca da escravidão, da violência endógena e do racismo de que a população negra é vítima. Em ensaios como “Arturos” (1994), “Futebol” (1998), “Objetivação do corpo” (1999) e “Outros navios” (2022), ele aborda a identidade e a memória afro-brasileiras.

 

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Vencedor do Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte em 1994 e já tendo exposto no 5º Rencontres de la Photographie Africaine, em Bamako (2003), na Bienal de São Paulo-Valência (2007) e na 2ª Bienal do Tokyo Metropolitan Museum of Photography, no Japão (1997), ele considera que dar centralidade e relevância à questão racial foi sua principal conquista nesse percurso de mais de três décadas.

 


Representação preta

“Quando comecei, no início dos anos 1990, não havia uma representação preta na fotografia. Você tinha Walter Firmo, Bauer Sá, uns dois ou três nomes na Bahia, mas não ia muito além disso. Acredito que ajudar a preencher essa lacuna foi algo importante que fiz, trazendo questionamentos justamente por não ver essa representação. Desde sempre reconheço como fotografia de autor o que faço”, afirma.

 

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Ele aponta que, apesar das muitas e profundas mudanças pelas quais a fotografia passou ao longo dos últimos 30 anos, seu modo de trabalhar não sofreu grandes alterações. “Percebo cada nova ferramenta que surge como um elemento a mais, algo que vem para somar, não para se sobrepor. Continuo trabalhando com fotografia analógica, mas não tenho nada contra os registros digitais, inclusive tenho produzido vídeos com câmeras digitais. São mudanças que vêm para somar”, diz.

 


Sobre a participação no Foto em Pauta, Neves adianta que pretenda falar do início de sua trajetória, entre Contagem e Belo Horizonte, dos giros pelo Brasil e pelo mundo, da mudança para Diamantina, onde está radicado, e das abordagens formais e de conteúdo que estabelece com a fotografia.

 

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Eugênio Sávio diz que lhe pareceu natural convidar Neves para a abertura da temporada comemorativa de 20 anos do Foto em Pauta. “Antes de mais nada, trata-se de um gigante da fotografia brasileira, um artista com muito conteúdo, com uma trajetória ao mesmo tempo assertiva, delicada e consistente. Não deve ter sido fácil para ele se estabelecer, então é um exemplo”, afirma, chamando a atenção para os caminhos que o artista, químico de formação e fotógrafo autodidata, resolveu percorrer.

 

“Num determinado momento ele abandonou essa coisa do circuito das galerias e foi para o interior de Minas. Agora, mais recentemente, esteve na Bienal (de São Paulo, em 2023) e em uma grande exposição do Sesc. É uma obra muito consistente, realizada ao longo de 30 ou 40 anos”, aponta.


Futuros trabalhos

Eustáquio Neves conta que esteve recentemente desenvolvendo uma série intitulada “Sete”, que reúne sete imagens criadas a partir de uma foto de sua primeira comunhão, quando tinha 7 anos. Seguindo essa linha, um novo projeto, que retoma a temática trabalhada no fim dos anos 1990, já está em curso. “É uma série que deve se chamar 'Onze', porque é sobre futebol, sobre a exclusão e o preconceito histórico contra o negro no futebol. Devo fechar com 11 imagens”, diz.


FOTO EM PAUTA
Com Eustáquio Neves, nesta terça-feira (14/5), às 19h, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza – 31.3277-4699). Entrada gratuita, sujeita à lotação do espaço. Evento acessível em Libras.