Filho de Chico Mário  (1948-1988), Marcos Souza (E) fez contato com o Quarteto Kalimera 
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Filho de Chico Mário (1948-1988), Marcos Souza (E) fez contato com o Quarteto Kalimera para apresentar "Dança do mar"; projeto Sesc Partituras seguirá para outros estados

crédito: Daniel Ebendinger/Divulgacao

 

Nos idos de 1987, o violonista e compositor Francisco Mário, o Chico Mário (1948-1988) tinha consciência de que não havia tempo a perder. Em um curto período de tempo, gravou três discos. Até então dedicado à música popular, decidiu que escreveria para um quarteto de cordas. Ouviu pelo menos uma centena de discos do repertório clássico para chegar à “Dança do mar”.

 


Gravou os sete movimentos com o Quarteto Bosisio em dezembro de 1987. Pouco depois, foi internado e não deixou mais o hospital até morrer, em 14 de março de 1988, aos 39 anos. Hemofílico como os irmãos Henfil (1944-1988) e Betinho (1935-1997), havia, como eles, contraído o vírus HIV em transfusões de sangue.

 


Chico Mário não viu “Dança do mar” pronto – o LP foi lançado quatro meses após sua morte, com um concerto na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, e a participação de grandes artistas como Raphael Rabello, Antonio Adolfo e Mauro Senise. Em 1997, ganhou uma edição em CD. E a partir desta terça (14/5) inicia outra história, com novos arranjos do Quarteto Kalimera.

 


O Teatro de Bolso do Sesc Palladium recebe nesta noite a estreia do projeto dedicado à obra de Chico Mário, dentro do programa Sesc Partituras. A cidade onde o filho de Dona Maria nasceu será a primeira a ver o recital – depois, ele segue para unidades do Sesc do Pará, Piauí e Mato Grosso do Sul.

 


Discípulo e mestre

Foi o primogênito de Chico Mário, o compositor Marcos Souza, quem teve a ideia. Também diretor de projetos da Petrobras Sinfônica, viajava de ônibus com a orquestra quando iniciou uma conversa com o violinista Tomaz Soares, fundador do Kalimera. “Você não quer ouvir a ‘Dança do mar’, que meu pai gravou com o Quarteto Bosisio?”, perguntou. O musicista começou a ouvir e Souza logo percebeu quão emocionado ele estava.

 


“A música, além de linda, é tocada pelo meu mestre”, foi o que Soares disse a Souza. Nascido em Uberlândia, o violinista, na adolescência, deixava de ônibus o Triângulo Mineiro com direção ao Rio. Viajava exclusivamente para ter aulas com Paulo Bosisio, professor de violino de meio mundo na capital carioca.

 


O Kalimera foi criado em 2018 e hoje conta com Soares, Luísa Castro (violino), Daniel Albuquerque (viola) e Daniel Silva (cello). Soares concebeu novos arranjos para os sete movimentos de “Dança do mar”. “Meu pai fez a escrita só para o quarteto. A parte dele, ao violão, nunca escreveu”, conta Souza.


Emoção

Chico Mário concebeu o álbum, disponível nas plataformas digitais, inspirado por pinturas de Lobianco, que foram reproduzidas no encarte da edição do LP. Os quatro primeiros movimentos foram nomeados com cada uma das estações do ano e os três últimos são chamados “Calmaria”, “Amanhecer” e “Tempestade”.

 


Souza tinha 16 anos quando o pai adoeceu. “Me lembro que ele ficou realmente empolgado com ‘Dança do mar’. No último dia que conversei com ele, me disse que não sabia o que fazer se melhorasse. Eu disse: ‘Outro disco clássico’. Ele começou a chorar e disse que seria isto que iria fazer. Não dá para não se emocionar ouvindo ‘Dança do mar’”, finaliza.


QUARTETO KALIMERA
Apresentação nesta terça (14/5), às 19h30, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046 – Centro). Entrada gratuita, com ingressos retirados pelo Sympla ou na bilheteria local.