Leandro Garcia diz que a correspondência de autores brasileiros revela os bastidores da criação literária  -  (crédito: Maria Clara Garcia / divulgação)

Leandro Garcia diz que a correspondência de autores brasileiros revela os bastidores da criação literária 

crédito: Maria Clara Garcia / divulgação

 

O professor Leandro Garcia é o convidado do projeto Livro do Mês, da Academia Mineira de Letras (AML), nesta quinta-feira (16/5). Com 25 anos de dedicação ao estudo da epistolografia de escritores e intelectuais, ele vai ministrar a palestra “O que dizem as cartas?” e lançar o livro “Cartas que falam – ensaios sobre epistolografia” (Relicário Edições, 2024), em que reúne estudos, ensaios e artigos que publicou sobre o tema a partir de sua tese de mestrado.

 


“Nos últimos 25 anos, esse é o foco das minhas pesquisas na universidade. Produzi muitos textos, muitos ensaios publicados em revistas, e o livro compila isso. A palestra é um pouco para contar sobre esse percurso e falar da importância do assunto carta, correspondência”, diz Garcia, que leciona teoria literária na Faculdade de Letras da UFMG.

 


Ele explica que a epistolografia ajuda a compreender aspectos da cultura brasileira e, mais especificamente, a obra de determinados autores. O estudioso considera que as cartas dizem muito, na medida em que a produção epistolar de diferentes autores da literatura brasileira é atravessada por áreas do saber que vão da história ao memorialismo, passando pela sociologia, filosofia, teologia e biografismo.

 


Bastidores da criação

 

“Todo o meu trabalho é em cima de arquivos literários de escritores e intelectuais, então são correspondências que dizem sobre a obra de quem as escreveu. Lúcio Cardoso e Drummond, por exemplo, quando você pega as cartas que trocaram, elas são, em boa medida, sobre as respectivas produções, porque se correspondiam com esse intuito. Drummond fazia muito isso, discutia a própria obra com seus interlocutores por meio de cartas. Elas são os bastidores da criação literária”, diz.

 


Ele afirma que sua área de interesse é a literatura, mas pontua que a epistolografia é transdisciplinar por natureza. As áreas do conhecimento passíveis de serem abordadas vão depender de com qual correspondência se está trabalhando, conforme aponta. “Tenho um ensaio sobre as cartas que Frei Betto escreveu enquanto estava preso, no período do regime militar, então o assunto é literatura, mas também teologia e história do Brasil.”

 


Destacando as várias possibilidades hermenêuticas que esse campo de estudo oferece, Garcia cita outro exemplo: “Jorge de Lima, poeta alagoano, aborda muito a questão do regionalismo em sua produção, então tem muito de cultura popular nordestina em sua correspondência”.

 

Escritor de cartas


O professor conta que, na juventude, foi um grande escritor de cartas e chegou a integrar os antigos Clubes de Correspondência. “Nos anos 1990, era uma forma de se fazer intercâmbio, com trocas de cartões-postais, fotografias e recortes de jornais”, comenta. No âmbito da academia, ele enveredou por esse campo de pesquisa a partir do mestrado, que cursou na mesma época em que foi lançado o livro que trazia as correspondências entre Mário de Andrade e Manuel Bandeira.

 


“Foi uma obra que me fez perceber que existia uma outra narrativa da literatura brasileira, de bastidores. Um dos capítulos da minha tese foi sobre 'Macunaíma', que é debatido em mais de 30 cartas nessa correspondência entre Mário de Andrade e Bandeira. A criação de 'Macunaíma' está explicada ali. Identificar essa outra narrativa me levou à epistolografia”, afirma.


Leandro Garcia entende que cartas são coisa do passado. Ele diz que, em tempos de comunicação digital, abordar o assunto é “falar de uma espécie de museu da grafia”. O estudioso observa que a prática epistolar demanda um tempo que hoje não existe mais e que não tem como competir com a velocidade do e-mail ou do WhatsApp. “Você escrevia e enviava rezando para não extraviar. Era de pelo menos um mês o prazo entre o envio e a recepção. Hoje, o ritmo da vida não permite mais isso”, pontua.


“O QUE DIZEM AS CARTAS?”
Palestra de Leandro Garcia e lançamento do livro “Cartas que falam – ensaios sobre epistolografia”, nesta quinta-feira (16/5), às 19h30, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes – 31.3222-5764). Acesso gratuito.