A referência imediata é "Only murders in the building", a deliciosa comédia que colocou Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez como detetives amadores que solucionam assassinatos por meio de um podcast de true crime.
Partindo de uma premissa semelhante – um trio que não estaria junto numa situação normal – "Bodkin", recém-chegada à Netflix, carrega na ironia (com um pouco de drama também) para acompanhar uma investigação para um podcast.
Série irlandesa-americana (uma das produtoras é a Higher Ground, de Michelle e Barack Obama), "Bodkin" é ambientada na (fictícia) cidade homônima, um lugar perdido na Irlanda. Seu trio de protagonistas é formado pelo americano Gilbert Power (Will Forte), a irlandesa Dove Maloney (Siobhán Cullen) e a inglesa Emmy Sizergh (Robyn Cara).
Cada um tem sua própria agenda para despencar naquele lugar para investigar o desaparecimento de três pessoas em um festival 20 anos atrás. Gilbert tem uma empresa de podcasts e precisava urgentemente emplacar um campeão de audiência. O sorriso sempre no rosto, as frases feitas e o bom humor a toda prova são mais do que suficientes para irritar a introspectiva Dove, que entrou obrigada no projeto.
Repórter investigativa
Ela é uma repórter investigativa do "The Guardian" que vive há muito em Londres e não tem a menor saudade de seus tempos na Irlanda. Mas tem que sair do radar porque sua fonte para uma matéria sobre um escândalo sobre o Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra se matou. Por fim, Emmy, a produtora, é uma millennial que idolatra Dove e quer ser levada a sério na profissão.
Eles têm esqueletos no armário, assim como a animada população de Bodkin. Todo mundo se entope de Guinness e whisky, termina suas noites no pub local e não deixa de festejar nem mesmo em velório. Todos os estereótipos irlandeses estão representados nos personagens, como o taxista Sean (Chris Walley), contratado pelo trio; sua mãe, a Sra. O'Shea (Pom Boyd), a dona da pousada onde eles se hospedam; o pescador Seamus Gallagher (David Wilmot); o amigável fazendeiro Darragh (Pat Shortt).
Na superfície, não passam de um bando de caipiras. Só que todos têm alguma relação com os acontecimentos do passado. Até mesmo uma congregação de freiras que recebe os turistas para um improvável spa. Logo, logo, coisas estranhas começam a acontecer e os personagens descobrem que ali existe uma história muito maior do que o que lhes foi vendido.
"Bodkin" não é o tipo de série que pega o espectador no primeiro episódio. O início é um tanto confuso, e são tantas personagens que leva um tempo para que entendamos onde a história está querendo ir. Mas já a partir do segundo a narrativa começa a se desenrolar com mais facilidade. As conexões entre os personagens e entre passado e presente se tornam mais claras.
Mais interessante para além da investigação do desaparecimento é ver a interação do trio de protagonistas mudar com o tempo. Gilbert ganha nuances mais sombrias, deixando o bom-mocismo de lado e percebendo que para ter um sucesso em mãos tem que fazer mais do que requentar um velho mistério. Dove vai ter que prestar contas ao passado – e abrir a guarda, inclusive para a própria Emmy.
“BODKIN”
• A série, em sete episódios, está disponível na Netflix.