Márcio Metzker recorre ao realismo fantástico para abordar a crise ecológica e a injustiça social -  (crédito: Outubro Edições/divulgação)

Márcio Metzker recorre ao realismo fantástico para abordar a crise ecológica e a injustiça social

crédito: Outubro Edições/divulgação

 

Durval Ângelo Andrade*


Um poema encantado: este também poderia ser o título do livro “A piracema da iara”, de Márcio Metzker, que será lançado nesta sexta-feira (17/5), das 17h às 21h, na Casa do Jornalista, em Belo Horizonte. É uma obra poética, mágica e provocativa, que sutilmente nos conduz a reflexões profundas sobre como a sociedade contemporânea tem ferido de morte a nossa mãe Terra, os povos originários, o povo empobrecido e oprimido.

 


Grande jornalista, Márcio Metzker tem provado que é também um escritor de muito talento. E com uma boa dose de ousadia. Afinal, tem a coragem de se aventurar pelo realismo fantástico para tratar de temas tão concretos, arriscando-se em um estilo que grandes mestres, como Saramago, Jorge Luis Borges e Chico Buarque, tão bem desenvolveram.

 

 


Na dedicatória que me fez, ao autografar o livro, Márcio já dá indícios dessa ousadia estilística: “Amigo Durval, aqui vai mais um coquetel de realidades entremeadas de fantasia. Espero que se identifique com ambas.”

 


O texto revela muito do Márcio brilhante e engajado que conhecemos. De forma profunda, ele se debruça sobre uma realidade de devastação ambiental e levanta a bandeira da causa ecológica, em especial, da defesa do nosso Velho Chico, revisitando as muitas realidades que interagem com o rio.

 


É assim que nos fala do povo indígena xacriabá e de toda a beleza dos modos de vida dos barranqueiros do Rio São Francisco. E trata de temas tão densos em uma linguagem encantada, que revela a sua imensa capacidade criativa e literária.

 


Sim, eu me identifiquei. E não poderia ser diferente. Márcio me pediu autorização para que um dos protagonistas fosse Frei Durval. O personagem – um frade, leigo, franciscano – foge do convento para procurar a verdadeira face de Deus nos rostos dos humildes e estabelece um compromisso com os mais pobres e esquecidos da sociedade. Embrenha-se por nossas matas, margeando o rio, onde se encontra com o canto da iara.

 


Equilibrando-se entre a fantasia e o real, o autor une um personagem da religião oficial a outro, do folclore brasileiro. Tempera tudo com porções generosas de denúncia social, em uma maravilhosa espiral de sensibilidade humana e compreensão da vida do povo e da sua luta pela sobrevivência.

 

 

Direitos humanos

 

Apesar da inspiração em minha trajetória – em nossa luta pelos direitos humanos –, após ler o livro, constatei: Frei Durval é, na verdade, o alter ego do autor. Sobretudo, “A piracema da iara” é uma expressão do compromisso que ele sempre teve, como jornalista, com as lutas pelos direitos humanos, principalmente os direitos ambientais.

 


Márcio Metzker fez inúmeras coberturas dessas lutas, quando, como deputado, eu presidia a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Lembro-me especialmente de suas reportagens sobre as realidades dos índios xacriabá, das comunidades quilombolas, dos barranqueiros e dos geraizeiros. Por sinal, também estivemos juntos no Nordeste, acompanhando a luta em defesa do Velho Chico protagonizada por dom Luis Cappio, outro personagem emblemático do livro.

 


O escritor norte-americano Paul Auster tinha razão: a literatura “é o único lugar, no mundo, onde dois estranhos podem se encontrar em absoluta intimidade”. Se Frei Durval é a expressão do compromisso e da militância do autor em defesa da vida, o canto da iara representa o encanto dessa luta: o despertar de um mundo mágico que está bem perto de nós.


Parabéns, Márcio! Você acertou na veia.

 

Capa do livro A piracema da iara

"A piracema da iara" será lançado na Casa do Jornalista

Outubro Edições

 


“A PIRACEMA DA IARA”


• De Márcio Metzker
• Outubro Edições
• 182 páginas
• R$ 70
• Lançamento nesta sexta-feira (17/5), das 17h às 21h, na Casa do Jornalista (Avenida Álvares Cabral, 400, Centro). Informações: www.outubroedicoes.com.br

 


* Professor, escritor, ex-deputado estadual, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e vice-presidente do Tribunal de Contas de Minas Gerais