Ilustrador Régis Luiz prestigiou ontem a performance de quadrinhos na Praça Sete, onde deixou sua marca registrada -  (crédito: Leandro Couri/EM/DA.Press)

Ilustrador Régis Luiz prestigiou ontem a performance de quadrinhos na Praça Sete, onde deixou sua marca registrada

crédito: Leandro Couri/EM/DA.Press

 


Na manhã desse sábado (18/5), o Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ BH) convidou 14 artistas para realizar uma performance com criação em tempo real de quadrinhos. O evento, que marca o início das atividades desta edição do festival, ocupou a Praça Sete, no Centro de BH, e também contou com exposição de produtos e música ao vivo.

 


Realizada ao lado da banca de revistas Glória, famoso ponto de venda de HQ’s e mangás na cidade, desde 1982 administrada pelo seu Joaquim, a movimentação chamou a atenção de pedestres e moradores da capital.


É o caso de Ida Guerra, de 85 anos. Natural de Belo Horizonte, Ida conta que a paixão pela arte sequencial vem desde a infância e foi, inclusive, repassada aos filhos. “Desde criança, sempre gostei muito de ler e, na época, o que estava ao meu alcance eram as revistas em quadrinho, então eu lia todas. Gostava tanto de ler que ficava louca para sair as novas (...) meu sonho de infância era ter uma banca”, conta a aposentada, que também se lembra de usar os gibis da Turma da Mônica como ferramenta na alfabetização dos filhos.


Olhar plural

 

A 12ª edição do festival acontece de 22 a 26 de maio, no Minascentro, e chega com o tema “Onde cabem os quadrinhos?”. Elaborado pelos curadores Amma e Lucas Ed, o recorte propõe lançar um olhar para questões que cercam os quadrinhos e seus espaços.


Para a Secretária Municipal de Cultura, Eliane Parreiras, a ideia é explorar as diversas possibilidades que os quadrinhos têm na vida das pessoas. “Queremos mostrar como o quadrinho, a arte sequencial, está presente no nosso cotidiano, no nosso dia a dia e até dentro das outras linguagens do audiovisual”, afirma.


Nascido a partir de uma programação do centenário de BH em 1997, o FIQ se tornou um festival bienal em 1999, e hoje é tido por lei como um programa da Prefeitura de Belo Horizonte como uma forma de reconhecimento da importância que os quadrinhos têm para a construção de uma identidade cultural.

 


Na programação gratuita desta edição, estarão presentes expoentes das HQs, vindos de 22 estados do Brasil (e Distrito Federal) e de mais seis países. Além disso, mesas-redondas, feira de quadrinhos, oficinas, exposições, exibição de filmes, sessão de autógrafos, debates, rodadas de negócios e até um duelo de HQs, inspirado no duelo de MC’s, irão compor a agenda do evento.


Sem tabus

 

Katia Schittine e Fabiana Signorini são duas das artistas que estiveram presentes na performance de ontem. A amizade entre a dupla nasceu no curso de cinema de animação da UFMG e se desdobrou na criação do estúdio Senhoritas de Patins, especializado na criação de quadrinhos e ilustrações independentes.


Ao lado de ilustradoras de outras regiões do país, o duo inova ao trazer para os gibis temas que são considerados tabus sob o ponto de vista da mulher. “Existe esse olhar de que a mulher só gosta de coisas ‘fofinhas’. A gente veio para quebrar isso e falar que a mulher também gosta de quadrinhos de terror e eróticos”, explica Schittine ao falar sobre a série “Gibi de menininha”. “Assim, nós não objetificando o corpo dela e, no terror, não a colocamos como vítima da situação, mas como protagonista dessas histórias”, completa.

 


Essa é a quarta participação de Katia e Fabiana no FIQ. “É um evento muito significativo e satisfatório porque coloca BH no mapa mundial dos quadrinhos. A gente vem no festival desde a sua fundação, quando ainda éramos crianças. Isso nos ajudou a prosseguir na ideia de fazer quadrinho, então é sempre uma satisfação estar aqui”, afirma Signorini.


Quem também passou por lá foi o ilustrador mineiro Régis Luiz, formado em design gráfico. Entusiasta dos quadrinhos, cinema e animação, ele não perdeu tempo e deixou a sua marca na prancheta.


Ziraldo homenageado

 

A abertura oficial do festival acontece na próxima quarta-feira (22/5), a partir das 17h. Durante os cinco dias de programação, mais de 400 artistas estarão em contato direto com o público, entre eles o franco-brasileiro Matthias Lehmann, sobrinho de Roberto Drummond e autor de “Chumbo”, HQ publicada pela Nemo, que ilustra a vida de uma família de Belo Horizonte durante o período da ditadura militar. Ele participa da mesa “Ditadura nunca mais! Quadrinhos e os 60 anos do golpe civil militar”, no sábado (25/5), às 19h.


Outro destaque da edição é uma homenagem a Ziraldo, morto em abril deste ano, aos 91 anos. O mineiro de Caratinga, na Região Leste do estado, ganhou um auditório batizado em sua homenagem, além disso os espaços do festival serão decorados com cenários interativos de sua obra de maior sucesso, “O Menino Maluquinho”.

 

 

Realizado por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, neste ano o FIQ estabeleceu uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação que distribuirá vales-livro para mais de 3 mil alunos e professores da rede pública de educação. A iniciativa tem o objetivo de ampliar o acesso ao universo dos quadrinhos, além de incentivar a formação de novos leitores.


Ing Lee

 

A identidade visual do projeto ficou a cargo da mineira Ing Lee. Artista visual de descendência coreana, Ing é uma pessoa surda oralizada, conhecida por ilustrar a capa do livro best seller “Amêndoas”, de da Won-pyung Sohn, sucesso entre o público jovem. Ela também é autora da HQ “Karaokê box”.

 


FESTIVAL INTERNACIONAL DE QUADRINHOS (FIQ) DE BH – 12ª EDIÇÃO
De 22 a 26 de maio, no Minascentro (Rua Guajajaras, 1.022 – Centro). De quarta a sexta-feira, das 8h às 20h; sábado, das 9h às 21h; e domingo, das 9h às 19h. Entrada gratuita. Programação completa: portalbelohorizonte.com.br/fiq.