Obra de Ricardo Aleixo abrange poesia, prosa, antropologia, música, radioarte, artes visuais e vídeo, entre outras linguagens -  (crédito: Rafael Motta/Divulgacao)

Obra de Ricardo Aleixo abrange poesia, prosa, antropologia, música, radioarte, artes visuais e vídeo, entre outras linguagens

crédito: Rafael Motta/Divulgacao

O escritor e multiartista Ricardo Aleixo, de 63 anos, foi eleito nesta segunda-feira (20/5) para a Academia Mineira de Letras.

 

Ele vai ocupar a cadeira nº 31, que pertencia a Rui Mourão, morto em fevereiro deste ano. Disputou com 13 candidatos e obteve 31 votos no colégio eleitoral formado por 33 acadêmicos.


A obra de Aleixo abrange poesia, prosa ficcional, filosofia, etnopoética, antropologia, história, música, radioarte, artes visuais, vídeo, dança, teatro, performance e estudos urbanos.

 

 


“Entre as coisas que mais me alegram está perceber que, ao longo desse tempo todo em que tenho dedicado todos os dias da minha vida à literatura, nunca traí o propósito do menino que aos 18 anos decide se tornar escritor”, afirma Aleixo.

 

“Tenho uma missão definida ao longo de uma vida inteira e vou continuar fazendo isso aonde quer que esteja, inclusive na Academia Mineira de Letras.”

 

De acordo com ele, sua chegada à AML significa a inclusão de um artista que não se restringe à relação costumeira da literatura com a palavra.

 


“Ocupar a cadeira 31 é levar junto comigo todos os artistas e todas as artistas que aqui em Belo Horizonte, em Minas, no Brasil e no mundo inteiro se dedicam à difusão da possibilidade de inter-relação entre as artes”, diz.

 


“Não venho sozinho para a Academia, estão entrando comigo pessoas que nem sabem que existo, pessoas que eu não conheço, mas que também trabalham em favor da troca entre os campos artísticos e os campos de conhecimento também”, observa.

 

Conceição Evaristo e Ailton Krenak

 

Recentemente, a AML empossou Conceição Evaristo e Ailton Krenak, respectivamente, a primeira mulher negra e o primeiro indígena a integrarem a instituição. O fato é considerado de suma importância por Aleixo.

 


“Pluralidade é movimento. Como diz a música muito famosa do Milton Nascimento em parceria com Fernando Brant, é o gesto de raspar as cores para o mofo aparecer. Acho muito importante isso”, afirma Ricardo. “Tem um mofo na sociedade brasileira. Desde o início, ela se afeiçoou muito ao conservadorismo, ao arcaico e à impossibilidade de mudanças”, observa.

 

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“Quando escuto você falar o nome do meu irmão Ailton Krenak, sinto o movimento. Converso muito com Ailton à distância – e não é distância por celular, é mentalmente. É ori com ori. Esse tipo de movimento que não depende da presença física é algo que nós temos sabido construir no Brasil como resistência aos diversos tipos de violência que sofremos desde a fundação”, diz.

 

Leia o discurso de posse de Conceição Evaristo na Academia Mineira de Letras

 

Festival de Arte Negra

 

Produtor cultural, Ricardo Aleixo foi um dos criadores da primeira edição do Festival de Arte Negra (FAN), em 1995. O evento bienal apresenta programação gratuita dei shows, rodas de conversa e exposições, entre outros, e é espaço importante voltado para a promoção da diversidade e da herança cultural africana.

 

“Ricardo Aleixo é uma das vozes mais potentes e originais da poesia contemporânea. Ao aliar o ritmo do corpo ao da fala obtém resultados de um rigor poético destacável, o que se mostra presente também em sua prosa. Seu ingresso na Academia Mineira de Letras é por nós todos com alegria celebrado”. afirma Jacyntho Lins Brandão, presidente da AML, em comunicado à imprensa.

 

Aleixo tem 20 livros publicados, entre eles “A roda do mundo” (1996, com Edimilson de Almeida Pereira); “Quem faz o quê?” (1999); “Trívio” (2001); “A aranha Ariadne” (2003); “Máquina zero” (2004);  “Modelos vivos” (2010), com o qual foi finalista dos prêmios Portugal Telecom e Jabuti 2011; e “Antiboi” (2017), finalista do Prêmio Oceanos. 

 

Nascido em Belo Horizonte, o escritor morou grande parte da vida na Zona Norte da capital. Registrou suas memórias no Bairro Campo Alegre no livro que integra a coleção “BH: A cidade de cada um” (Conceito, 2022).

 


Ainda na infância, Aleixo iniciou sua formação artística como músico. Aos 17 anos, começou a compor, o que marcou seu primeiro contato com a poesia. O livro de estreia, “Festim: um desconcerto de música plástica”, foi publicado em 1992.

 

Hónorio Saber



Em 2021, o escritor recebeu da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) o título de Notório Saber. Professor visitante da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e casado com a pesquisadora Natália Alves, vive atualmente em trânsito entre Salvador e Belo Horizonte.

 


O casal deve se mudar em setembro para os Estados Unidos, onde vai se dedicar a estudos sobre performance na Universidade de Nova York (NYU).