O quarteto vocal se dissolveu em 2021, devido a diferenças políticas entre os músicos, mas decidiu retomar a carreira no ano passado -  (crédito: Leo Aversa / divulgação)

O quarteto vocal se dissolveu em 2021, devido a diferenças políticas entre os músicos, mas decidiu retomar a carreira no ano passado

crédito: Leo Aversa / divulgação

 


O Boca Livre viveu um período intenso nos últimos anos, em todos os sentidos: o grupo se separou em 2021, em razão de divergências políticas e ideológicas, ganhou um Grammy internacional no ano passado (por um álbum gravado em 2011), o que motivou uma reaproximação, e agora, numa espécie de fechamento de ciclo, lança "Rasgamundo", álbum predominantemente de inéditas, que sucede "Viola de bem querer" (2019).

 


Logo de saída, ficou decidido que no novo disco haveria pelo menos uma composição de cada um dos integrantes do grupo. Quatro faixas levam a assinatura de Zé Renato – "Rasgamundo" (com Lourenço Baeta), "O canto em nós" (com Zeca Baleiro), "Rio Grande" (com Nando Reis) e "Sentimentos nus" (com Erasmo Carlos, a partir de letra que o artista morto em novembro de 2022 havia guardado).

 


Além de coautor da faixa-título, Baeta comparece também com "Dois oceanos", respondendo por música e letra. David Tygel contribui com "Povo do sol", em parceria com Márcio Borges; e Maurício Maestro é o autor de "Prayer", que fecha o repertório. Zé Renato observa que o Boca Livre é muito conhecido como um quarteto vocal, de intérpretes, e que, às vezes, o lado autoral fica "meio escondido". Ele diz que, após a retomada das atividades, brotou o desejo compartilhado de evidenciar a verve criativa dos integrantes.

 


"Achamos interessante isso de poder valorizar esse lado que sempre existiu no grupo, do trabalho de composição, mas que nem sempre foi muito evidente. Pensar o álbum já com esse direcionamento foi estimulante; Lourenço, por exemplo, não fazia música há muito tempo. É bom que as pessoas saibam que o Boca Livre é um grupo de cantores, instrumentistas e compositores", diz.


Parcerias no disco

"Rasgamundo" traz uma música feita por Guilherme Arantes especialmente para esse trabalho, "Toda felicidade", e duas releituras: de "O vento", do Los Hermanos, e "Mesmo se você não vê", de Tim Bernardes. Zé Renato destaca o trabalho do produtor Marcus Preto na costura das parcerias e na formatação do repertório.

 


"Marcus me cutucou, dizendo para eu enviar uma música para Nando Reis. Numa bela madrugada – porque faço as coisas mais de madrugada – me veio essa melodia, totalmente inspirada na própria trajetória do Boca Livre. Mostrei para o Marcus, que mandou para o Nando. Rapidamente, ele escreveu a letra e enviou de volta", diz, sobre a feitura de "Rio grande", lançada como single, em novembro passado.

 


"Com relação ao Los Hermanos, ele (o produtor) não indicou uma música especificamente; sugeriu que a gente tentasse escolher alguma coisa do grupo, porque achava que poderia dar liga. Eu já conhecia o trabalho deles, mas fui reouvir, tendo em mente isso de regravar e cheguei nessa canção do Rodrigo Amarante. Acho que conseguimos trazê-la um pouco para o universo do Boca Livre", diz.

 


Outro produtor envolvido na realização de "Rasgamundo" foi Zé Nogueira, que também toca em todas as faixas e que morreu logo depois de terminar o trabalho, em abril deste ano, vítima de problemas cardíacos. "Ele era um amigo muito próximo, então é uma tristeza que a gente ainda está vivendo. O disco é dedicado a ele, uma forma de homenageá-lo", afirma Zé Renato. "Ele esteve com a gente até o último dia de gravação. Foi um baque muito grande", comenta David Tygel.

 


Diferenças superadas

O racha que houve em 2021 foi motivado pelo alinhamento de Maurício Maestro com Bolsonaro e pela postura antivacina que adotou. Tygel ressalta que as diferenças foram superadas em prol da música e que as gravações de "Rasgamundo" ocorreram em harmonia. Ele diz que os integrantes já estavam com vontade de retomar a "relação maravilhosa" que sempre tiveram e que a conquista do Grammy reforçou esse desejo.

 


"Além de parceiro de grupo, Maurício é meu companheiro na composição de trilhas para cinema e teatro, então a gente não ia deixar uma questão dessa, essa terrível divisão que aconteceu em toda a sociedade, acabar com um trabalho tão bonito como é o do Boca LIvre, que conta com tantos fãs no Brasil e no exterior. A expressão que define é convergência musical. Sempre tivemos uma sintonia muito forte. O processo de gravação foi muito bonito, muito íntegro e muito solidário", diz.

 


Belo Horizonte será a primeira cidade a receber a turnê de lançamento de “Rasgamundo”, no próximo dia 31, no Sesc Palladium. Tygel diz que a escolha da cidade foi muito apropriada. "Metade do Brasil acha que nós somos mineiros, inclusive nós. Minas sempre foi fundamental para nossa música, já fizemos turnês incríveis pelo estado inteiro", diz.

 


Projeto de documentário

A diretora Susanna Lira ("Clara estrela") propôs ao Boca Livre, em 2023, a realização de um documentário. Tygel, que habitualmente desenvolve trilhas para os trabalhos da cineasta, conta que ela entrou em contato dizendo que tinha sonhado com o grupo.

 

O projeto está em andamento e deve ser inscrito em algum edital ou lei de incentivo para ser viabilizado. "Temos 45 anos de muito trabalho, então já era o momento disso acontecer. Temos um material riquíssimo de fotos, filmes, gravações de shows e de estúdio", afirma.


BOCA LIVRE
Show de lançamento do álbum "Rasgamundo", em 31/5, às 21h, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro - 31.3270-8100). Ingressos para a plateia 2 a R$ 250 (inteira) e R$ 125 (meia) e para a plateia 3 a R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia); para a plateia 1 os ingressos já estão esgotados e para a plateia 2 é oferecida a promoção Pacote Família, pela qual na compra de três ingressos cada um sai a R$ 130. À venda na bilheteria e no Sympla.