Thriller distópico dirigido por Afonso Poyart, “Biônicos” é a nova produção original brasileira da Netflix, com estreia na próxima quarta-feira (29/5). Com trama futurista cheia de efeitos especiais e cenas de ação, o filme aposta numa linguagem em que o país não tem tradição. Enveredar por esse caminho praticamente inexplorado foi, de acordo com o cineasta, o maior desafio para a realização do longa.
A história se passa em 2035, no mundo transformado pela tecnologia, focada em duas irmãs que disputam salto em distância. Maria, atleta que dedicou a vida a treinar incansavelmente em busca do pódio, se ressente com a ascensão das próteses biônicas, que trouxeram nova realidade para o esporte. A situação se torna mais complexa quando a caçula Gabi ganha os holofotes como atleta biônica.
A rivalidade leva a dupla a um caminho sinistro, marcado por ambição, dilemas morais e conflitos familiares. Tudo se desenrola no cenário cyberpunk que evoca produções internacionais clássicas e contemporâneas da ficção científica.
Maria e Gabi são interpretadas, respectivamente, por Jessica Córes e Gabz. O elenco conta também com Bruno Gagliasso, Christian Malheiros, Klebber Toledo, Paulo Vilhena e Danton Mello.
Oscar Pistorius
O argumento de “Biônicos” surgiu num bate-papo de Poyart com Cris Cera, que assina o roteiro do longa com ele, Josephina Trotta e Victor Navas. O assunto era o sul-africano Oscar Pistorius. Nas Olimpíadas de Londres de 2012, ele se tornou o primeiro paratleta a disputar em igualdade de condições com não portadores de deficiência, classificando-se para as semifinais dos 400 metros rasos.
“O embrião do filme é baseado na vida real. Muitos atletas falaram que as próteses não só ajudavam Pistorius a andar, mas potencializavam sua performance na corrida. Foi a sementinha de 'Biônicos', que a gente acabou extrapolando para um mundo futurista com próteses robóticas”, diz o diretor.
Poyart quis testar a viabilidade de um longa futurista com muitos efeitos especiais, por isso produziu o curta “Protesys”, estrelado por Cauã Reymond e pelo atleta paralímpico Flávio Reitz, lançado em 2020.
“Foi o balão de ensaio, um curta que a gente fez para desenvolver tecnologia e avaliar nossa capacidade de aplicar efeitos visuais. Já tínhamos a ideia de 'Biônicos', 'Protesys' foi a gênese, o experimento para ver se era possível fazer um longa de ficção sem ficar tosco. Nos meus filmes anteriores – “Dois coelhos” (2012), “Presságios de um crime” (2015) e “Aldo – Mais forte que o mundo” (2016) – tem bastante presença de efeitos visuais, então eu já intuía todos os desafios.”
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Poyart revela que quando exibe o trailer ou trechos do filme para as pessoas, a reação é de incredulidade quanto ao fato de ser produção nacional. De acordo com ele, a equipe é predominantemente brasileira e o país tem a “total capacidade” para desenvolver projetos do gênero.
Investimento da Netflix
A questão financeira tem grande peso, admite o diretor, informando que a Netflix financiou 100% do projeto. “Eles participaram da parte criativa, mas sendo muito respeitosos com nossa visão. A Netflix sabe o tipo de conteúdo que funciona para ela, mas entende que precisa dar espaço ao autor para que o produto não fique um negócio genérico. Tem de liberar o artista para que ele possa dar seus tiros de criatividade”, ressalta.
A plataforma bancou o desenvolvimento de todos os efeitos especiais, processo que demandou cerca de um ano. A parte técnica foi o maior desafio, diz Poyares.
“Este filme é a prova de que a gente consegue fazer efeitos em grande escala com qualidade, mas tem de quebrar muita pedra. É uma questão de vontade de fazer, de não ter medo de errar. Porque se tiver medo, você não faz nada.”
Marca brasileira
O diretor destaca a preocupação de fazer um filme “com a cara do Brasil”, direcionamento adotado desde a pré-produção. “Não queria imitar 'Blade Runner', que talvez seja a referência maior de distopia urbana. Quis uma cidade futurista sul-americana, filmando em São Paulo e imaginando a distopia nesse cenário. Era importante ter o grafite, ter a cara da metrópole, com painéis meio defeituosos e carros antigos. Carros que ficaram velhos, como se vê em Cuba”, comenta.
Afonso Poyart se inspirou em outras referências além de “Blade Runner”, filme de Ridley Scott. Uma delas é o diretor e roteirista sul-africano Neill Blomkamp (de “Elysium” e “Distrito 9”).
“Filmes dele misturam coisas mecânicas e coisas realistas. Os efeitos visuais estão inseridos num contexto meio documental”, diz.
Outra influência veio de Dennis Villeneuve, diretor de “Duna” e “Blade Runner 2049”. “Não quis mimetizar nada, quis fazer uma coisa brasileira, do nosso jeito”, pontua Poyart.
“BIÔNICOS”
Direção: Afonso Poyart. Com Jessica Córes, Gabz, Bruno Gagliasso e Christian Malheiros. Estreia quarta-feira (29/5), na Netflix