Sexto álbum de estúdio de Silva traz o artista cantando em português, inglês e espanhol -  (crédito: Jorge Bispo/Divulgação)

Sexto álbum de estúdio de Silva traz o artista cantando em português, inglês e espanhol

crédito: Jorge Bispo/Divulgação

 

“Abram alas”, a primeira faixa do novo disco do cantor e compositor capixaba Silva, fala sobre uma jornada pessoal em busca do futuro, sobre deixar de lado “gente chata” para recuperar sua conexão com a vida e encontrar o próprio caminho. Em resumo: trata de um reencontro com a essência.

 


Assim foram os últimos anos na vida de Lúcio Silva de Souza, cujo nome artístico é apenas Silva. Ele fez do disco “Encantado” um marco do reencontro com a sua verdade. Na estrada desde 2012, Silva é um dos grandes representantes da nova geração da música brasileira.

 


Ele conta que em 2022 passou por momentos difíceis, em que acabou deixando de lado sua paixão pela música, especialmente pela parte da criação. Embora estivesse com dezenas de shows acumulados pela pausa forçada pela crise sanitária, além de novos contratos surgidos após a flexibilização do isolamento social, Silva se viu distante do que mais gostava de fazer.

 


“Comecei a trabalhar loucamente, uma coisa atrás da outra, muitos shows, muitos projetos… Isso acabou me consumindo muito e me deixou bem afastado dessa minha parte artesanal da música”, conta. “Fiquei bloqueado criativamente e isso que sempre lutei para não perder, acabei perdendo por conta da minha logística de vida. Uma vida muito corrida.”

 


Enfrentando uma espécie de crise existencial, o artista precisou desacelerar. Aceitou menos convites para shows e se dedicou a cuidar mais da mente. Nas palavras dele, foi um momento de “bater mais o pé” por ele mesmo. “Isso acontece com muitos artistas, começar a produzir demais até acabar perdendo o prazer de fazer música. Isso é um perigo porque eu não tenho um plano B. A única coisa que eu sei fazer na vida é a música.”

 


Lugar da criação

Demorou até que ele conseguisse colocar tudo no lugar. Silva diz que é esse o motivo pelo qual “Encantado”, seu sexto disco de estúdio, veio quatro anos depois do anterior, “Cinco”. O número de faixas do projeto (16 ao todo) reflete o gosto do artista pela composição. Ele conta que, no piano que o acompanha desde a infância, foram escritas mais de 30 músicas.

 


“Descobri que não posso deixar de criar. As pessoas falam que você tem que fazer exercício físico pelo menos três vezes por semana. Para mim, a criação tem que entrar nesse lugar”, diz.

 


“Encantado” traz de volta o mesmo Silva que conhecemos por misturar a Bossa Nova, a MPB e o samba. O mesmo Silva de “A cor é rosa” e “Duas da tarde”, por exemplo, só que agora mais seguro de experimentar com batidas eletrônicas, sintetizadores e até uma leve distorção de voz em algumas faixas, como “Arrebol”.

 


“Meu coração todo está nesse álbum, minha cabeça do momento está toda nele”, afirma. Diferentemente de seus trabalhos anteriores, nos quais preferiu não escutar nada para não influenciar no processo de produção das músicas, desta vez ele decidiu se voltar para os músicos que fizeram parte de sua formação artística. As referências vão do indie dos anos 2000, com Los Hermanos e Arctic Monkeys, ao jazz e à música clássica apresentados a ele pela mãe, professora de musicalização infantil.

 


“Acho que o que deixa as coisas interessantes é o elemento surpresa. Tem alguns acordes de jazz mais rebuscados em algumas músicas, ao mesmo tempo que tem um sintetizador mais pop em outras e até uma batida de funk no final como surpresa”, comenta, referindo-se a “Gosto de você”.

 


Ao lado do irmão e compositor Lucas Silva e do amigo e produtor André Paste, o cantor e compositor montou um quebra-cabeças próprio de referências. “Meu álbum acaba sendo uma mistura musical porque é o que eu sou, eu gosto de muitas coisas. Acho muito interessante você como artista conseguir transcender gêneros. É isso que quero fazer com a minha carreira", observa.


Vários idiomas

Outra surpresa é a mistura de idiomas. Silva canta em português, inglês e espanhol. Ele explica que a escolha reflete uma vontade de não ficar restrito ao mercado brasileiro, mas frisa que isso não significa, necessariamente, ser uma “diva pop”. “Quero estar onde minha música pode estar, onde eu caiba na prateleira. O mercado (brasileiro) tem me exigido um tipo de coisa que não sei se quero, não sei se quero só essa coisa de números o tempo todo.”

 


As participações deste disco também dizem muito sobre o estado atual de sua carreira. Conhecido por colaborações com grandes nomes do mainstream, como Anitta, Ludmilla e Ivete Sangalo, desta vez ele escolheu convidar seus ídolos musicais. Estão na lista Marcos Valle, Arthur Verocai, Leci Brandão e o uruguaio Jorge Drexler.


 

“No mercado, os feats são feitos com muita pressa, geralmente porque todas as pessoas têm vidas muito corridas. É uma coisa quase que de duas empresas que se juntam e falam: ‘vamos fazer um produto’. Cansei de fazer música desse jeito”, diz, ressaltando que, mesmo com o tempo curto, sempre fez questão de fazer coisas das quais sentisse orgulho, porque “depois quem vai ter que sustentar e cantar isso no palco é você”.

 


“Foi muito legal trazer pessoas que são meus ídolos. A gente só faz a música que tem hoje no Brasil por causa do trabalho deles. Eles ajudaram a criar o que o mundo inteiro entende e consome como música brasileira”, afirma. “Encantado” está disponível nas plataformas digitais. O show do disco na capital mineira está previsto para 2 de novembro, no Palácio das Artes.

 


“ENCANTADO”
• Silva
• Som Livre (16 faixas)
• Disponível nas plataformas digitais