A mineira Maíra Baldaia vai se apresentar acompanhada por uma banda só de mulheres -  (crédito: Gunga Minas Festival / divulgação)

A mineira Maíra Baldaia vai se apresentar acompanhada por uma banda só de mulheres

crédito: Gunga Minas Festival / divulgação

Em 2016, o produtor cultural e pesquisador pernambucano Afonso Oliveira veio a Minas Gerais estudar as guardas de congo formadas nos quilombos de Brumadinho. O trabalho acabou se desdobrando em ações como o Festival Canavial, em 2017, pelo qual ele levou para apresentações em seu estado o Grupo de Congo e Moçambique Nossa Senhora do Rosário de Sapé e Marinhos, formado pelas duas mais antigas comunidades quilombolas da cidade situada na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

 

Em 2022, Oliveira realizou o projeto Maracacongo, que promoveu o encontro de guardas de congo e nações de maracatu em cinco cidades mineiras e cinco pernambucanas. Dessa iniciativa, surgiu a ideia do Gunga Minas Festival, que, a partir desta quarta-feira (29/5), oferece uma ampla programação com grupos e artistas de Minas e de Pernambuco, com apresentações em Belo Horizonte, Brumadinho e Ouro Preto. A ideia, segundo o produtor, é celebrar as culturas populares dos dois estados.

 


“Com base no que tinham visto no Festival Canavial, os mestres e mestras que participaram do Maracacongo sugeriram a realização, em Minas Gerais, de um evento naqueles moldes”, diz, explicando que gunga é o chocalho usado nos tornozelos pelos brincantes que dançam o moçambique. A abertura do Gunga Minas Festival será às 14h, nos jardins do Memorial Vale, com uma roda de mestres e representantes de expressões da cultura popular de Recife, Salvador, Goiás e Minas Gerais.

 

Congo e Moçambique

 

A programação do evento prevê a apresentação de guardas de congo e moçambique de Brumadinho (Moçambique de Santa Isabel, Moçambique e Congo Nossa Senhora do Rosário de Sapé e Marinhos e Moçambique de Santa Efigênia), Mário Campos (Irmandade de Nossa Senhora Aparecida) e Ouro Preto (Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia e Congo de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia).

 
Além disso, as três cidades que integram o circuito receberão shows da Velha Guarda do Salgueiro (RJ), do Trio Nordestino (BA), de Maíra Baldaia (MG), Maciel Salu (PE), Afonjah (PE), grupo Surreal (MG) e Maracatu Estrela de Ouro de Aliança (PE), além de quadrilhas juninas e apresentações do espetáculo “Gunga” e do teatro de bonecos “Caminhos de São Saruê”, com Chico Simões (GO), entre outras atrações.

 


Depois da abertura em Belo Horizonte, a programação segue, amanhã, na sexta e no sábado, para Brumadinho, no Teatro Municipal e na praça de eventos, e Ouro Preto, no Largo do Cinema. No domingo, as atrações retornam para a capital, para o encerramento com um cortejo do Moçambique de Nossa Senhora do Rosário de Sapé e Marinhos na Praça da Liberdade e apresentações no Memorial Vale.

 

Apresentação de maracatu

O Maracatu Estrela de Ouro de Aliança é uma das atrações do Festival, que vai até domingo

Hans von Manteuffel / divulgação


Afonso Oliveira observa que o Gunga Minas Festival se concentra nas culturas populares de Minas e de Pernambuco, mas não se limita a elas. “Eu queria alguma coisa de samba, por exemplo. Já tinha levado a Velha Guarda da Mangueira para Recife e queria, há algum tempo, promover um show com a Velha Guarda do Salgueiro”, diz.

 

“Queríamos uma representação feminina, então chamamos Maíra Baldaia, que é uma mulher de terreiro também, com uma banda só de mulheres. O Maracatu Estrela de Ouro é um patrimônio vivo de Pernambuco. Surreal é uma banda de Brumadinho. Maciel Salu é hoje o grande nome da cultura popular pernambucana contemporânea e está em turnê pelo Brasil com o show de lançamento do novo álbum, 'Ogum', que é maravilhoso”, afirma.

 


Ele aponta que o Trio Nordestino, formado em 1957, e as quadrilhas foram incluídos na programação em razão da chegada do mês de junho. “O Trio Nordestino guarda a herança de Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Com relação às quadrilhas, fiquei muito impressionado com a movimentação em torno dessa expressão que existe em Minas. São coisas de chão, de terreiro e de palco. Temos toda a diversidade cultural brasileira nesse segmento da cultura popular”, diz.

 

Ele diz que "é preciso que o restante do Brasil olhe para o congo e o moçambique mineiros, porque é uma manifestação riquíssima e ainda pouco valorizada". Apesar do caráter religioso dessas irmandades, elas se inserem num contexto cultural e artístico, como é o caso do próprio Gunga Minas Festival. "Vamos continuar trabalhando para o reconhecimento e o fortalecimento desses grupos, bem como dos maracatus em Pernambuco e dos afoxés baianos", diz.

 

Para o produtor, o que mais aproxima as culturas de Minas Gerais e de seu estado é a matriz africana. "Alguns estudiosos falam que o maracatu nação vem da coroação dos reis do congo que tem em Minas. Existe uma força na cultura de matriz africana nos dois estados que é muito grande e que se encontra não só pelo rio São Francisco, mas também pelo oceano Atlântico. São junções que acontecem naturalmente", ressalta.

 

PROGRAMAÇÃO EM BH

 

Nesta quarta (29/5)
•14h - Roda de mestres e mestras de expressões da cultura popular de Minas Gerais, Pernambuco e Bahia nos jardins do Memorial Minas Gerais Vale


Domingo (2/6)
•10h - Cortejo do Moçambique de Nossa Senhora do Rosário de Sapé e Marinhos (MG), na Praça da Liberdade
•11h30 - Espetáculo "Gunga", com participação do Moçambique de Nossa Senhora do Rosário de Sapé (MG), Maracatu Estrela de Ouro de Aliança (PE), Maciel Salú (PE) e Afonjah (PE)