O Festival Abraça faz, nesta quinta-feira (30/5), homenagem às 272 pessoas mortas em Brumadinho no ano de 2019, iniciativa da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão (Avabrum) e do projeto Legado Brumadinho. O espetáculo “Canto negro para Milton Nascimento” será apresentado às às 20h, no Grande Teatro do Sesc Palladium, com entrada franca.
Depois de passar por Sarzedo e Brumadinho, a primeira edição do festival será encerrada pelo cantor e compositor Sérgio Pererê e suas convidadas, a cantora baiana Luedji Luna e as mineiras Nath Rodrigues e Thamiris Cunha.
“Estamos em Minas Gerais, um estado inteiro que sofreu muito em função de sua própria exploração. Quando penso em trazer homenagem a Milton Nascimento, artista que representa Minas, vejo tudo de modo muito intenso no lugar em que a canção serve como alento”, explica Sérgio Pererê.
No repertório, ganham nova roupagem canções capazes de tratar a perda com sensibilidade e transformá-la em exaltação àqueles que se foram. “Cravo e canela”, “Canoa, canoa” e “Cio da terra” estão nesta lista.
“‘Ponta de Areia’ é uma canção que todo mundo ama, porque sua melodia é linda, mas ela fala de algo que se perdeu. O lugar de diálogo que nós queremos trazer não é o da lamentação, mas da saudade”, diz o cantor.
“‘Canção do sal’ e ‘Caxangá’ têm características de protesto também”, ressalta Pererê, referindo-se à tragédia de Brumadinho. “Várias músicas vão dialogar com a causa de modo sutil, mesmo tendo sido feitas antes de tudo o que aconteceu.”
Realizado desde 2021, o espetáculo “Canto negro para Milton Nascimento” nasceu da parceria de Pererê com outros artistas pretos para exaltar a negritude e a relação com a África, conexão presente na discografia do fundador do Clube da Esquina.
Nath Rodrigues e Thamiris Cunha fazem parte dessa parceria. Já Luedji Luna participa pela primeira vez do show. “De cara, 'Ponta de Areia' fala: ‘Da Bahia-Minas, estrada natural’. Então, a presença da Luedji era algo que estava escrito. A banda tem ligação afetiva muito forte, este show vai ser uma celebração, promete Pererê.
“Tenho me interessado muito pela saudade como lugar de poder, penso que ela não tem de estar presa a uma dor, mas pode ser atividade e ação. É da saudade que você canta, toca, escreve e se move”, afirma o cantor.
Arte e luta
Luciana Veloso, coordenadora do projeto Legado de Brumadinho, destaca a importância de valorizar a vida. “O Festival Abraça tem como objetivo principal honrar a memória das vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho e fixar como tema, na agenda da sociedade, o valor da vida, a segurança do trabalho e do meio ambiente, de maneira a não deixar que esses valores sejam sobrepostos pelos interesses econômicos da empresa e do país”, explica.
Utilizar a arte nesse contexto, defende Luciana, “é uma forma de ressignificar a tragédia crime, a dor e o luto, pensando que a cultura é ferramenta capaz de unir e criar conexão entre pessoas, povos e comunidades.”
Mas ela ressalta: “Os afetados foram obrigados a pegar a saudade, colocar no bolso e transformar o luto em luta para garantir que fossem ouvidos de alguma forma. Nada vai apagar o que aconteceu, as pessoas não são números. São 272 vidas, histórias, sonhos e famílias destruídas”, conclui Luciana.
FESTIVAL ABRAÇA
Nesta quinta-feira (30/5), às 20h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Entrada franca. Metade dos ingressos estará disponível na plataforma Sympla, a partir das 12h; o restante pode ser obtido na bilheteria do teatro, no mesmo horário. Retirada restrita a dois pares por CPF. Informações: (31) 3270-8100.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria