Do desejo das atrizes Talita Braga e Andréia Quaresma de realizar um trabalho autoral que colocasse em foco a mulher, nasceu Zula, companhia de teatro fundada em 2010 na capital mineira.
As pesquisas sobre o protagonismo feminino na literatura, no cinema e em textos de dramaturgas fizeram com que as atrizes tivessem acesso a um universo de vastas possibilidades. Diante de tantos caminhos, Talita percebeu que ela própria tinha um relato real e potente dentro da temática que pretendiam tratar. Era a história de Rosângela, sua mãe.
“Após a separação dos meus pais, minha mãe foi embora de casa. Disse que estava indo ao dentista e nunca mais voltou. Ela foi para a rua, se prostituiu e viveu muita coisa durante esse período”, conta a atriz e cofundadora do grupo teatral. “A gente gravou uma entrevista de três horas com ela, e foi a partir dessa conversa que criamos ‘As rosas no jardim de Zula’.”
O espetáculo de estreia do grupo cumpriu temporadas em cidades mineiras, passou por São Paulo, Paraíba e Buenos Aires, na Argentina. Mais de uma década e três peças depois, a companhia comemora seu 13º aniversário com a exibição de todo o seu repertório, a partir deste sábado (4/5) e até 25 de maio, em diferentes espaços de criação artística de BH. Congresso, oficina e workshop também estão na programação.
“A companhia já nasceu, mesmo sem que a gente se desse conta, com uma abordagem do Teatro Documentário, colocando em foco a mulher que está sempre em lugar de julgamento e à margem da sociedade. A partir disso, seguimos abrindo lugares de escuta, encontro e troca com realidades e mulheres diversas”, diz Talita.
Liberdade em foco
Foi em 2016 que Talita, ao lado das também atrizes e professoras de teatro Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer e Mariana Maioline, desenvolveu o projeto A Arte Como Possibilidade de Liberdade, realizado em um complexo penitenciário feminino. A ação tinha como objetivo promover atividades artístico-pedagógicas para mulheres egressas do sistema prisional.
As experiências, trocas e transformações vividas pelas atrizes durante o trabalho na penitenciária deram origem à peça “Banho de sol”. Braga descreve a surpresa dos membros da companhia quando o espetáculo se mostrou grande sucesso de público, esgotando sessões em espaços como o Centro Cultural Unimed-BH Minas e o Grande Teatro do Sesc Palladium.
“‘Banho de sol’ atraiu pessoas da psicologia, medicina, direito, assistência social e sistema prisional. Chegamos a apresentar a peça como atividade do curso de formação de novos juízes. Foi um movimento grande.”
Os temas apresentados em “Banho de sol” também serão discutidos por profissionais de diferentes áreas em um congresso realizado no Galpão Cine Horto. Tópicos como o movimento anti-prisional e encarceramento feminino estarão em pauta. Durante o mês, será ofertado ainda gratuitamente o workshop Mãe, Mulher? e a oficina Teatro documentário e biodrama.
Potência feminina
As peças do grupo têm o caráter de serem construídas a partir da escuta de depoimentos de mulheres reais, em uma troca de experiências com as fundadoras. É o caso de “Mamá”, espetáculo que coloca em evidência conflitos maternos. Para entender o tema, foram realizadas diversas entrevistas, bate-papos e o workshop “Mãe, Mulher?” na casa de Talita e em centros culturais periféricos de BH.
“Mamá” é o único espetáculo a não ser apresentado ao vivo durante a mostra, mas estará disponível para exibição virtual gratuita a partir deste sábado (4/5) pelo link divulgado no Instagram da companhia (@zula_teatro).
“Temos o cuidado de não ir ao encontro das mulheres simplesmente como documentaristas, as vendo como meros objetos do nosso trabalho e da nossa pesquisa”, diz Talita. “Nos misturamos com elas e também damos os nossos depoimentos, falando das nossas inquietações e o motivo de querermos colocar suas questões em cena.”
O traço autobiográfico do grupo também pode ser observado no seu trabalho mais recente, “CASA”. A peça parte das vivências das atrizes-criadoras Talita Braga, Andréia Quaresma, Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer e Mariana Maioline, e divide o público presente em cinco grupos que assistem separadamente aos monólogos das atrizes em cada cômodo de uma casa. A proposta é discutir temas femininos, ressignificando o espaço doméstico.
“Após nos encontrarmos com tantas mulheres, queríamos trazer também as nossas biografias. Trouxemos as nossas histórias e as coisas que nos afetam para povoar uma casa e continuar o movimento de potência do feminino”, reforça Talita.
“MOSTRA ZULA 13 ANOS”
Deste sábado (4/5) a 25 de maio. Ingressos para todos os espetáculos: R$ 30 (inteira), à venda no Sympla. Programação completa: zulaciadeteatro.com.br.
“AS ROSAS NO JARDIM DE ZULA”
Amanhã, às 19h, e domingo (5/5), às 18h, na ZAP 18 (Rua João Donada, 18, Santa Terezinha)
“BANHO DE SOL”
Temporada 1 em 11/5, às 19h, e 12/5, às 18h, na , Casa – Centro de Arte Suspensa e Armatrux (Rua Himalaia, 69 – Vale do Sol, Nova Lima). Temporada 2 em 18/5, às 19h, e 19/5, às 18h, no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3613 – Horto)
“CASA”
Em 24/5, às 20h, e 25/5, às 19h, na Fazendinha Dona Izabel (Avenida Arthur Bernardes, Barragem, 3.120 – Santa Lúcia)
OUTRAS ATRAÇÕES
>>>“A última sessão de Freud”
Peça que retrata o encontro fictício de Sigmund Freud (Odilon Wagner) e C.S.Lewis (Marcello Airoldi), “A última sessão de Freud” chega ao Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244 – Lourdes) em três sessões. O espetáculo, dirigido por Elias Andreato e traduzido por Clarisse Abujamra, é inspirado no livro “Deus em questão”, de Armand M. Nicholi Jr. O pai da psicanálise e o escritor cristão debatem, entre outros temas, a existência de Deus, a natureza humana e o sentido da vida e da morte. Nesta sexta e sábado (3 e 4/5), às 20h, e no domingo (5/5), às 19h. Ingressos: R$ 120 (inteira), à venda na bilheteria local ou pelo Sympla.
>>>“Abba the show”
Sucesso da música pop, “Abba the show” será apresentado nesta sexta (3/5), às 21h, no Arena Hall (Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi). A turnê comemorativa dos 50 anos de “Waterloo” pelo Brasil terá participação de membros da Orquestra Sinfônica Nacional de Londres. Inteira: R$ 720 (dancin queen), R$ 660 (mamma mia) e R$ 460 (gimme gimme gimme), à venda na bilheteria local ou pelo Sympla. Arquibancada esgotada.
>>>Filarmônica de MG
A Filarmônica de Minas Gerais apresenta “Ópera italiana, alegria e paixão”, neste sábado (4/5), às 18h, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto). Do humor de Rossini à tragédia incontida das óperas de Verdi, a orquestra quer mostrar a riqueza e diversidade dessa arte tão singular. A regência é do maestro Fabio Mechetti. Os ingressos estão à venda no site www.filarmonica.art.br e na bilheteria local a partir de R$ 39,60 (inteira, mezanino) até R$ 180 (inteira, camarote).
* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro