Entre as figuras icônicas do humor brasileiro, há um objeto: um banco. Nele, senta-se Carlos Alberto de Nóbrega, de 88 anos, o anfitrião de um dos programas humorísticos mais populares do Brasil, o “A praça é nossa”, exibido nas noites de quinta, no SBT/Alterosa.
Apresentador, ator, roteirista e humorista, Carlos Alberto celebra 70 anos de carreira em 2024, dos quais 37 deles dedicados ao humorístico na emissora de Silvio Santos. Dono do famoso bordão: "Ah, que pena! Não tem importância, quinta-feira estaremos de volta novamente. Eu aqui no meu velho e querido banco, e vocês aí, em todo o Brasil, porque ‘A praça é nossa!’”, o fluminense, nascido em Niterói, chegou à emissora paulista em 8 de maio de 1987.
Antes, o filho do radialista Manoel de Nóbrega (1913-1976) começou sua trajetória na Rádio Nacional, escrevendo quadros humorísticos para o programa que levava o nome de seu pai. “Há 70 anos, em 1º de maio de 1954, eu entrava na Rádio Nacional e, do telhado, ouvi uma voz: ‘Carlos Alberto, passa lá na minha sala'. Era Luiz Ramos, o dono da emissora e casado com a Hebe (Camargo). Eu vi um papel na mesa e ele disse: ‘Você está sendo contratado’”, conta Carlos Alberto, em material enviado à imprensa.
Golias, o irmão
Na televisão, o humorista iniciou sua carreira no programa “Zilomag show”, na TV Paulista (atual TV Globo São Paulo), em 1956. Lá, conheceu Ronald Golias (1929-2005), com que formaria uma dupla de comediantes. “Golias, meu grande amigo, o irmão que eu não tive. Viajamos juntos pelo Brasil inteiro, capotamos no Rio de Janeiro, parou um motor de avião no Amazonas, fizemos muitas brincadeiras, e ele é inesquecível. Porque, sem querer desmerecer ninguém, ele foi o maior comediante que eu vi na minha vida.”
Na TV Paulista, Nóbrega firmou de vez sua carreira no humor e participou de outros programas, como “Golias show”, “Espetáculo tamoyo”, “Escolinha do Golias” e “Praça da alegria”, no qual atuou ao lado de seu pai, que também foi o criador da atração.
Depois, migrou para a extinta TV Rio, no fim da década de 1950. Em 1963, foi em busca de novos ares e se mudou para São Paulo. Lá, começou a trabalhar na TV Record, na qual ficou por cerca de 10 anos. Trabalhou com Jô Soares e foi o redator principal do Troféu Roquette Pinto, para profissionais da rádio e televisão brasileira.
Os Trapalhões
Grande marco da carreira, Carlos Alberto foi para a TV Tupi de São Paulo para redigir o clássico “Os Trapalhões”, entre 1975 e 1976. Quando o programa migrou da emissora para a TV Globo, o humorista migrou junto. Ficou no comando escrevendo e dirigindo a atração por 10 anos, entre 1977 e 1987, inclusive atuando nos episódios.
Tentou reviver o “Praça da alegria”, também na Globo, mas não conseguiu. Ainda em 1987, foi para a Rede Bandeirantes (Band) e apresentou um programa de formato parecido, o “Praça Brasil”.
Poucos meses depois, desembarcou no SBT e começou a escrever o “A praça é nossa”, um programa seu, que teve como fórmula de sucesso todas suas experiências com o humor na TV.
Senor Abravanel
Quando se recorda dos 37 anos na emissora paulista, fala com gratidão e cita Silvio Santos: “Depois que eu vim para cá, em 8 de maio de 1987, quando nós assinamos o contrato, você (Silvio Santos) mudou a minha vida. Você me tornou uma outra pessoa dentro da televisão”, declarou Carlos Alberto.
Do final da década de 1980 até agora, Carlos Alberto não parou de se reinventar. Sentado no banco, o anfitrião do “A praça é nossa” recebe personagens famosos. Entre eles, o deputado João Plenário que, vira e mexe, conta tudo sobre as tramoias de Brasília, interpretado pelo mineiro Saulo Laranjeira.
Outra personagem que ainda vive na memória dos brasileiros é a Velha Surda. Criada por seu intérprete Roni Rios em 1960, a idosa tinha sérios problemas de audição e criava confusões ao interpretar do seu jeito o que lhe era dito. Após a morte de seu intérprete Roni Rios, em 2001, a direção do programa decidiu não reviver a personagem com outro ator.
Ao fazer um balanço da carreira, Carlos Alberto não deixou de citar o pai, Monoel de Nóbrega. “O homem que criou a ‘Praça da alegria’, que me ensinou a viver, vencer, perder e foi a pessoa que acreditou em mim”. E ele não tem planos de parar. No comando do “A praça é nossa”, que vai ao ar todas as quintas, a partir das 23h, logo após o “Programa do Ratinho”, no SBT/Alterosa, o humorista agradece: “Fazer 70 anos de carreira, aos 88 anos de idade, é um presente de Deus.”
* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro