Na adolescência, Maria de Fátima conheceu Marku Ribas, seu conterrâneo de Pirapora. Quando tinha 21 anos, começou a namorar com o músico, em 1976, e menos de dois anos depois se casaram. A união durou três décadas e meia, até a morte do autor de “Zamba Ben”, em 2013, gerando dois frutos: Júlia Ribas, que seguiu a carreira musical, e Lira Ribas, que abraçou as artes cênicas. Nesta família de artistas, Fatão, como é conhecida por parentes e amigos, ficou na retaguarda.

 


Assistente social ao longo de mais de quatro décadas, atuando na área de urbanização de vilas e favelas, ela deu suporte para a caminhada do marido e das filhas pelas veredas da expressão artística. Agora, aos 69 anos, Fatão debuta formalmente nos palcos em “Marku musical”, espetáculo idealizado pela família do cantor, compositor e ator em cartaz no CCBB-BH, onde permanece até 10 de junho, antes de rumar para São Paulo e Rio de Janeiro.

 



 


“300 morros”

 


Reservada, apesar de muito falante, conforme reconhece, ela diz que prefere “subir 300 morros” a estar em cena diante da plateia. Ainda assim, topou o desafio de integrar o elenco da montagem que celebra vida e obra de Marku, ao lado das filhas, de Alexandre Massau (ator e músico, ex-integrante do Berimbrown) e do nigeriano Ìdòwú Akínrúli, músico radicado em Belo Horizonte.

 


Utilizando elementos ficcionais e documentais, o espetáculo entrelaça teatro, música e cinema, baseado na autobiografia que Marku Ribas vinha escrevendo e não teve tempo de publicar, bem como em memórias familiares e apreciações estéticas do legado do artista. O caráter documental “exigiu” a presença de Fatão no palco, interpretando a si mesma. A ideia partiu de Lira e de Ricardo Alves Jr., que dividem a direção da montagem. Júlia e Marcelo Dai respondem pela direção musical.

 

Cena de "Marku musical", em cartaz no CCBB-BH até 10 de junho

Pablo Bernardo/divulgação

 


“É um projeto em que as meninas vêm trabalhando há muito tempo. Lira e Ricardo chegaram a essa ideia, puseram no papel o projeto, que foi aprovado, e disseram que tinha chegado a minha hora. Eu não podia 'afinar', até porque Marku não era disso”, conta Fatão. Os idealizadores do espetáculo lhe garantiram que não a exporiam em momento algum. Sua presença em cena se presta a revolver as memórias familiares.

 


Porém, em algumas cenas, ela tem de “incorporar” a atriz. “Falo dos primeiros anos do nosso relacionamento, depois vem o beijo no Alê (Massau, que faz o papel de Marku). Ele fica me dirigindo o tempo inteiro: 'Fatão, não precisa ficar com medo'. No final do espetáculo, tem o momento em que danço com as meninas, e aí é interpretação mesmo – música maravilhosa, com as luzes todas em mim. Elas dizem que tenho veia artística”, comenta.

 

 

Marku Ribas foi um dos pioneiros do "samba suingue" no Brasil

Maria Tereza Correia/EM/6/9/2004

 


À vontade

 


A “Matriarca”, como a equipe de produção se dirige a ela, diz que mesmo depois de seis meses de preparação, o frio na barriga foi inevitável na pré-estreia de “Marku musical”, em 9 de maio. Passado o primeiro fim de semana em cartaz, Fatão se diz mais tranquila e mais à vontade no palco. “A equipe me dá total apoio, é todo mundo muito junto.”

 


Apesar de nunca ter se considerado artista, ela pontua que se apresentar diante do público não é propriamente uma novidade. Antes de trabalhar como assistente social, Fatão foi jogadora de vôlei dos13 aos 22 anos, assim como a filha Lira, antes de enveredar pelo teatro e pelo cinema.

 


“Marku era fã de esportes. Dizia que aquilo era um show, um espetáculo. É verdade, porque tem a preparação, o treino, tem a troca com seus pares e tem o público. Também dá frio na barriga na hora de entrar (na quadra)”, comenta.

 


Fatão destaca que, como assistente social, sempre trabalhou na instância do lúdico. “Apresentava nas comunidades peças de teatro relacionadas com datas comemorativas, como Páscoa ou são-joão. Escrevia o texto, cuidava da montagem. Também fiz algumas figurações em projetos audiovisuais, a convite do Ricardo (Alves Jr.), mas nada disso se compara ao que está acontecendo agora, estar formalmente no palco”, ressalta.

 


Lira Ribas diz que o espetáculo é pautado “no Marku de casa” – ou seja, em Marco Antônio Ribas, o homem por trás do artista.

 

Leia também: Filhas de Marku Ribas lutam para manter vivo o legado do pai

 


Mas quem foi esta figura importante da MPB na intimidade do lar, entre os seus?

 


Marido e pai muito carinhoso e zeloso, apesar de, na esfera artística, aparentar um temperamento “brigão”, de acordo com Fatão.

 


Se o Marku dos palcos tinha como marca registrada a inquietude, a energia e a agitação, longe dos holofotes Marco Antônio era perfeitamente capaz de relaxar e aproveitar os momentos de sossego lendo jornal ou assistindo a um filme.

 

“Era uma pessoa muito caseira, muito família, por menos que parecesse. Marku era apaixonado por mim, pelas meninas e pelos amigos. Só não tinha filtro, não tinha papas na língua. Mas prefiro pessoas assim, que dizem o que tem de ser dito”, conclui Fatão.

 

Os Ribas: Lira, Fatão, Marku e Júlia

Acervo de família

 

Bate-papo em família

 

No próximo domingo (26/5), o público terá a oportunidade de participar, às 17h, de bate-papo com Lira, Júlia e Fatão sobre vida e obra de Marku Ribas. Serão discutidos temas e acontecimentos relatados pelo músico em sua autobiografia, além de memórias afetivas trazidas pelas filhas e pela viúva. O bate-papo ocorrerá também em 2 e 9 de junho, com tradução em Libras.

 

“MARKU MUSICAL”


Em cartaz até 10 de junho, no Teatro 1 do CCBB-BH (Praça da Liberdade,450, Funcionários). Sessões de sexta a segunda-feira, às 20h30. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada), à venda pelo siteccbb.com.br/bh e na bilheteria da casa. Informações: (31) 3431-9400.

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