Com aporte financeiro cerca de 30% a 40% superior em relação à edição do ano passado, a Festa da Luz 2024 começa nesta quinta-feira (23/5), com programação que faz dela a maior e mais diversificada desde sua criação, em 2021. Orientado pelo conceito Cidade Floresta, o evento segue até o próximo domingo (26/5) ocupando diferentes espaços do Baixo Centro de Belo Horizonte. O circuito começa na escadaria da estação Central do metrô e vai até as "torres gêmeas", passando pelo viaduto Santa Tereza.
Ao todo, são nove instalações, cinco performances, shows musicais, DJs e uma programação de videomapping com VJs de todo o Brasil. Artistas como Ailton Krenak, Glicéria Tupinambá, Daiara Tukano, Don L, Pigmalião, Grace Passô, Amanda Lobos, Homem Gaiola, Hot e Oreia, Pirilampos do Planeta e Thiago Mazza, entre outros, estão entre as atrações, evidenciando a aposta da Festa da Luz em diferentes formas de expressão.
Idealizadora e diretora artística do evento, Juliana Flores diz que o conceito desta edição surgiu das proposições de Ailton Krenak. Ela explica que, nas pesquisas de curadoria, a equipe se deparou com a palestra em que ele fala do "devir floresta da cidade" para provocar a reflexão no contexto de emergência climática e da vida nos grandes centros urbanos. Durante a Festa da Luz, letreiro com uma frase de Krenak permanecerá instalado no baixio do viaduto Santa Tereza.
Jiboia gigante
"Quando pensamos na Festa da Luz, somos atravessados por questões do nosso tempo. O viver bem é um assunto muito contemporâneo, que passa por essa ideia de como podemos absorver os conhecimentos dos povos originários para conseguirmos, como diz Ailton, 'suspender um céu que está desabando sobre nós'. Ele é a figura simbólica desta edição. Pensamos em como traduzir em estética e arte questões que se relacionam com uma cidade onde tenhamos prazer de viver, com mobilidade e opções de lazer", diz Juliana.
Ela chama a atenção para a presença, na programação, de outros artistas indígenas, como Glicéria Tupinambá e Daiara Tukano, que comparece com uma obra de grandes proporções, a "Cobra arco-íris/ Bo'eda Pirõ", que transforma o viaduto Santa Tereza numa jiboia gigante, colorida e iluminada.
"Simboliza a ponte entre floresta e cidade, entre quem vive nos centros urbanos e as populações originárias e quilombolas. É o mito Tukano da origem do mundo, a grande cobra que navega no rio e voa pelos ares, como um arco-íris", pontua.
A Festa da Luz 2024 repete, dentro da programação, a ação que foi sucesso no ano passado, o MuMa – Música e Mapping, que consiste na apresentação de artistas musicais acompanhados ao vivo por um VJ. Com a Praça da Estação em obras, o palco que recebe essas atrações teve que ser deslocado para o baixio do viaduto Santa Tereza. Entre os artistas confirmados estão o rapper cearense Don L, a dupla Hot e Oreia e a cantora e compositora de origem indígena Katú Mirim.
Bloco da Bicicletinha
Já a programação de performances busca trazer movimento para a Festa da Luz, levando a obra até as pessoas, percorrendo todo o circuito de arte, dialogando com as instalações. O Bloco da Bicicletinha fará o cortejo de abertura desta edição, convidando o público a "pedalar iluminado".
E tem também o "Elefanteatro", espetáculo de rua do grupo Pigmalião Escultura que Mexe, que caminha junto com o público. O boneco que reproduz em tamanho real um elefante, construído com restos de embalagens, circulará com luzes.
Juliana ressalta que o conceito é determinante da programação. Ela pontua que se trata de uma temática muito ampla e, por isso, ganha contornos de subjetividade.
"Thiago Mazza criou um grande inflável em formato de coração com flores pintadas, a partir de novas descobertas da ciência sobre a pulsação das plantas. Glicéria Tupinambá apresenta um céu que remete à constelação do Homem Velho, também relacionada à ideia de origem do mundo. Bia Nogueira faz um show inédito, falando de afrofuturismo. Tudo se conecta", diz.
Correntes iluminadas
Uma das atrações deste ano, o duo Pirilampos do Planeta, formado por Flávio Carvalho e Lula Duffrayer trabalha, desde a pandemia, com a questão da reciclagem. O casal vai apresentar, na Festa da Luz, uma instalação feita com mil metros de correntes iluminadas de plástico reciclável que serão dispostas sobre a fachada do edifício Chagas Dória.
Carvalho conta que é um trabalho que começou quando ele e o marido se mudaram para dentro de uma reserva florestal, o que implicou novos hábitos e uma nova postura.
"Temos um projeto de educação ambiental que surgiu na Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, por meio do qual buscamos formas de dar visibilidade para os profissionais que trabalham na coleta seletiva. Eles fazem um trabalho importantíssimo, mas são ilustres desconhecidos. Percebemos que era necessário mudar o olhar das pessoas em relação a esses profissionais através do encantamento, então transformamos o lixo que a sociedade produz em arte. É um jeito de tocar nesse tema delicado de uma forma agradável.”
Curadora aponta destaques da agenda
Idealizadora e diretora artística da Festa da Luz, Juliana Flores pinçou para o Estado de Minas o que considera, dentro da vasta programação, atrações que merecem atenção especial por parte do público.
A lista começa com o Bloco da Bicicletinha, que amanhã (23/5) vai circular pelo Baixo Centro com as bicicletas iluminadas. A instalação "Cobra arco-íris/ Bo'eda Pirõ", de Daiara Tukano, fica no Viaduto Santa Tereza. "Vai ser algo único, muito incrível, visualmente impactante", diz.
A apresentação do rapper cearense Don L, será domingo (26/5), no baixio do viaduto Santa Tereza. "As pessoas costumam dizer que ele é o favorito do seu MC favorito."
Juliana recomenda o Elefanteatro iluminado, do Pigmalião Escultura que Mexe. Por fim, destaca a vista geral que o Mirante Sapucaí oferece.
"Recomendo muito ver de lá a lua nascer. A gente marca a Festa da Luz na lua cheia não é à toa", comenta a diretora do evento.
FESTA DA LUZ 2024
De quinta-feira (23/5) até o próximo domingo (26/5), no Baixo Centro de Belo Horizonte. Programação completa e gratuita em www.instagram.com/festadaluz.art.