Há cerca de 20 anos, o ator e diretor Tuca Andrada se deparou, em um livraria, com a antologia "Torquália", organizada por Paulo Roberto Pires, que reúne a obra completa de Torquato Neto (1944-1972) – poeta, jornalista, agitador cultural, compositor, cineasta, ator e um dos ideólogos da Tropicália. Desde então, a cada nova releitura do volume, ele ficava imaginando como levar ao palco a vida e a obra do multiartista que tirou a própria vida aos 28 anos.

 




"Eu achava que poderia dar um espetáculo, mas não sabia como fazer, até que, durante a pandemia, resvolvi meter a mão na massa e criar alguma coisa com o material que eu vinha acumulando sobre Torquato", diz Andrada. O resultado é o solo "Let's play that ou vamos brincar daquilo", que estreia nesta sexta-feira (24/5) em Belo Horizonte e fica em cartaz até 24 de junho, no CCBB.

 


Tuca Andrada divide a direção com Maria Paula Costa Rêgo. Para a produção da montagem, que é um híbrido de recital de poesia, show, jogo, aula, debate e stand-up, foram convidados os músicos Caio Cesar Sitônio, que assina a direção musical, e Pierre Leite, que responde pela sonoplastia, com o intuito de realçar o lado compositor de Torquato, autor de letras de músicas para Caetano, Gilberto Gil e Edu Lobo, entre outros. 


Conhecimento superficial

 

O ator e diretor explica que uma das motivações para realizar "Let's play that ou vamos brincar daquilo" foi a constatação de que poucas pessoas hoje sabem quem foi Torquato Neto. "No geral, o conhecimento que se tem dele é superficial – o cara ligado à Tropicália. A imagem que vem, comumente, é a do "vampiro noturno" (personagem que interpreta em "Nosferato no Brasil", de Ivan Cardoso, de 1970), do sujeito alcoólatra, viciado, que suicidou tão jovem", afirma.

 


O ator diz que um olhar mais atento vai revelar um artista multifacetado. "Lendo a obra, você percebe que era um cara absolutamente lúcido. Tem desespero, dor, sofrimento, coisas comuns na obra de qualquer criador, mas tem uma mensagem luminosa muito forte sobre o país, o que é meio jogado para escanteio. Com relação a essa mensagem, tem a coisa de não se render nunca – e o paradoxal é ele ter cometido suicídio", comenta.


 

O fato de sua obra seguir atual é outro ponto que chama a atenção de Andrada. "O que ele pensava sobre arte, cultura, política ou sociedade é perfeitamente cabível nos dias de hoje", diz. Em cena, Andrada diz cumprir mais o papel de um contador de histórias do que propriamente de intérprete de um personagem.

 


"Ao me tocar que as pessoas não conhecem a história de Torquato, me propus a contar, mas sem ser aquela biografia careta que é levada ao palco. O que fiz foi pinçar dentro da obra dele coisas que me permitissem falar de sua vida”, afirma. “Quando cito a obra de Torquato, faço uma costura com meu próprio texto, de forma a aproximá-lo de mim, falando de minhas impressões e, ao mesmo tempo, contando sua história de vida."

 


A partir de um determinado momento do espetáculo, Tuca Andrada convoca o público a interagir, como numa roda informal de conversa. "Torquato está sempre estilhaçando a própria obra para poder reconstruí-la. 'Let's play that' mesmo é um poema reescrito de formas diferentes dentro de vários outros poemas dele”, observa o ator.

 


“Convidar o público a participar é um truque que uso para levar isso para a cena. Lá para o final, pergunto se as pessoas têm alguma dúvida ou se, pelo contrário, sabem de algo que eu não tenha dito, de maneira que um espetáculo nunca é igual ao outro."

 


"LET'S PLAY THAT OU VAMOS BRINCAR DAQUILO"


Monólogo com Tuca Andrada, em cartaz a partir desta sexta (24/5) até 24/6, com sessões de sexta a segunda, sempre às 19h, no Teatro 2 do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários - 31.3431-9400). Ingressos a 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria e no site do CCBB. Classificação indicativa: 16 anos. Em 15/6 haverá sessão em libras e bate-papo com Tuca Andrada após o espetáculo.


Outros espetáculos


>>> “A TROPA”

A premiada peça "A tropa", com que o ator Otávio Augusto circula desde 2016, chega a Belo Horizonte para três apresentações, nesta sexta (24/5) e sábado (25/5), às 20h, e no domingo (26/5), às 17h, no Teatro Feluma (Alameda Ezequiel Dias, 275, Centro).

 

Na peça, um pai doente recebe a visita de seus quatros filhos no hospital. O que seria apenas um encontro familiar se revela um acerto de contas, permeado de humor e revelações, tendo como pano de fundo os últimos 50 anos de história brasileira.

 

Otávio Augusto, que está comemorando 60 anos de carreira, faz o pai, um ex-militar viúvo e autoritário que, no leito de hospital, vê as relações veladas da família serem descortinadas. O elenco tem ainda Alexandre Menezes, Daniel Marano, Alexandre Galindo e André Rosa, com direção de César Augusto e texto de Gustavo Pinheiro. Ingressos a R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), à venda no Sympla e na bilheteria do teatro.

 


>>> “A GRANDE ÓPERA”

Originalmente intitulado "Ópera massacre" e agora rebatizado como "A grande ópera", o espetáculo escrito e dirigido por Gustavo Des retorna aos palcos neste fim de semana – sexta (24/5) e sábado (25/5) às 20h, e domingo (26/5), às 19h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315, Centro).

 

Na trama, uma família problemática tem de lidar com a volta da matriarca, que foi dada como morta, num estado de vulnerabilidade extrema. O desconforto com o retorno da mãe, num momento de partilha de bens, acentua o conflito familiar e expõe os sentimentos de indiferença e ganância. Ingressos a R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).

 


>>> “A PRISÃO DE BACH”

O Teatro da Biblioteca Pública Estadual (Praça da Liberdade, 21, Funcionários) recebe nesta sexta (24/5) e sábado (25/5), às 20h, o espetáculo cênico-musical "A prisão de Bach", com a Orquestra 415 de Música Antiga e a Companhia 415 de Teatro.

 

A orquestra éespecializada em música barroca com instrumentos de época. Ingressos a R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), à venda pelo site www.luanovacultural.com/ingressos.

compartilhe