Quando o homem deixa de se sentir uma criança perdida, é “porque o cinismo lambeu tudo e ele não tem mais uma ponta de alegria do menino que ele tem enterrado no peito”, diz Leo Jaime, ao afirmar que mantém viva sua criança interior.

 
Aos 64 anos, o cantor, compositor, ator e escritor não esconde sua essência de menino travesso e propenso a aforismos, como comprovam muitos de seus hits, como “Rock da cachorra” (“Troque seu cachorro por uma criança pobre”), “Sônia (Sunny)” (“Sônia, não fica me excitando que eu tô de sunga”) e “Solange”, paródia de “So lonely”, da banda britânica The Police.

 




Até quando o assunto é trabalho – seja na dramaturgia, na escrita ou na música –, Leo Jaime encara as coisas como um jogo, seja com o público ou com os colegas de palco – ou set, dependendo do trabalho que está desempenhando.

 

Tudo é jogo


“Gosto de usar a expressão ‘play’ para me referir a todos os trabalhos que faço”, afirma o cantor. “Se estou numa peça, penso que estou jogando com os outros atores e com a plateia. Se estou fazendo um show, vejo como um jogo com os outros músicos e com o público. Da mesma forma, quando estou fazendo algo para a TV. É tudo um jogo, só muda a maneira de jogar.”

 

É um desses jogos que ele vai propor ao público da capital mineira nesta quarta-feira (29/5), em show com a Orquestra Opus, no Cine Theatro Brasil Vallourec. O roqueiro é convidado da orquestra em projeto que objetiva unir música erudita e popular. Para isso, apresentará repertório com seus hits que marcaram o rock nacional dos anos 1980, mas com harmonias desenvolvidas especificamente para instrumentos de cordas, madeiras, metais e percussão.

 


Pelas mãos do maestro Léo Cunha, canções como “A fórmula do amor”, “Rock estrela”, “As sete vampiras” e “A vida não presta”, entre outras, ganharam nova roupagem. Algumas delas, inclusive, incorporaram frases e citações de obras e artistas alheios ao universo do BRock, como The Pretenders, Michael Jackson e Nirvana.

 

“Por mais que a gente procure manter a mesma estrutura da música, ela acaba ganhando outro colorido. E quanto mais o artista está aberto a isso, mais diferente e inusitada fica a canção”, comenta Cunha.

 


Leo Jaime deu carta branca ao xará maestro para desenvolver novos arranjos. “Tenho um show em que toco essas músicas em formato rock n’roll e tenho outro em que as toco num formato mais desplugado, intimista, conversando com a plateia e contando como foi o processo de composição de cada música”, conta o cantor e compositor.

 

“A apresentação com a orquestra, no entanto, é diferente desses dois shows, porque é o olhar de um músico erudito sobre uma música popular. Então ele traz elementos diferentes, o que, para mim, é uma grande novidade”, aponta.

 

A confiança no colega mineiro vem da parceria que o roqueiro mantém com a Orquestra Opus desde meados de 2018, quando tocaram juntos pela primeira vez. De lá pra cá, já fizeram sete apresentações e ainda têm mais duas marcadas para os próximos dias (em Muriaé, no próximo dia 8; e em São Gonçalo do Rio Abaixo, no início de julho).

 


“Também estamos planejando fazer um show diferente de todos os que fizemos até agora, talvez só com músicas que não são de Leo Jaime, tendo-o como intérprete. Mas não posso falar muito para não dar nenhum spoiler”, adianta Cunha.

 

Plataformas digitais

 

Descontente e desmotivado com a indústria da música, mais especificamente “com o lançamento de 2 mil músicas por dia nas plataformas digitais”, Leo Jaime já considera cumprida sua missão de compositor, embora tenha composto canções recentemente, ainda não gravadas.

 

“Nas plataformas digitais, a atenção para um projeto novo é sempre muito pequena. É muito raro você lançar uma coisa e ela realmente chegar ao ouvido das pessoas. Também percebo que, nos shows, as pessoas estão mais interessadas em ouvir as músicas que elas conhecem e gostam do que coisas novas. Eu mesmo, se chegar no show dos Rolling Stones e tiver metade das músicas que eu não conheço, vou ficar chateado”, afirma.

 


“Mas eu continuo escrevendo minhas coisas, mesmo que seja para deixar tudo guardado. Talvez eu lance, na esperança de alguém ter interesse. Mas vivo mesmo com a ilusão de fazer as pessoas se sentirem bem nos meus shows – que ao saírem do teatro estejam um pouco melhor do que quando entraram”, afirma.

 

Convite a Rubel

 

Em paralelo aos shows ao lado de Leo Jaime, a Orquestra Opus vai se apresentar com o cantor e compositor fluminense Rubel, em 5 de julho, no Cine Theatro Brasil Vallourec (os ingressos já estão à venda no site do teatro). A apresentação integra o projeto da orquestra de unir música erudita e popular, que já contou com participações de Milton Nascimento, Nando Reis, Flávio Venturini, Guilherme Arantes, Daniela Mercury, entre outros.


ORQUESTRA OPUS E LEO JAIME


Nesta quarta-feira (29/5), às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315, Centro). Últimos ingressos para plateia superior à venda por R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), na bilheteria do teatro ou pelo site Eventim. Mais informações: (31) 3201-5211.

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