Badi Assad convidou outros músicos para fazerem novos arranjos para as canções e diz que  procurou ousar nas releituras -  (crédito: Gal Oppido/Divulgação)

Badi Assad convidou outros músicos para fazerem novos arranjos para as canções e diz que procurou ousar nas releituras

crédito: Gal Oppido/Divulgação

O novo álbum da cantora, compositora e violonista Badi Assad é fruto de uma viagem no tempo. Ela recuou até 1993, quando um ainda pouco conhecido Lenine lançou, juntamente com Marcos Suzano, o disco "Olho de peixe". Homônimo ao trabalho que projetou definitivamente a dupla no cenário nacional, o rebento que a artista acaba de trazer à luz é também, de certa forma, resultado de uma viagem no espaço.

 


Para gravar o seu "Olho de peixe", em que oito das 11 músicas do título original ganham novas versões, Badi se juntou à Orquestra Mundana Refugi, criada em 2017 por Carlinhos Antunes e que reúne músicos brasileiros, imigrantes e refugiados de diversas partes do mundo, como Palestina, Cuba, Turquia, Irã, Guiné e Congo. Sua formação inclui desde instrumentos tradicionais, como piano, saxofone, flauta e bateria, até outros incomuns na música brasileira, como bouzouki, kanun árabe, alaúde e rebab.

 


Badi explica que o estímulo para revisitar o álbum de Lenine e Suzano foi sua profunda admiração por aquele trabalho e o marco de 30 anos de seu lançamento, completados em 2023. "Não tem segredo: 'Olho de peixe' foi um divisor de águas na minha vida. Quando me dei conta de que já haviam se passado três décadas, pensei que seria sensacional fazer uma releitura dele", diz.

 

 


Ela destaca que partiu do princípio de que deveria fazer algo muito distante do universo do disco original, que conta basicamente com a voz e o violão de Lenine e o pandeiro de Suzano, com poucas e pontuais participações especiais, como a de Carlos Malta ao saxofone na faixa-título.

 


"São registros muito definitivos ali. Reler aquelas músicas não é 'bolinho'. Veio a pergunta: com quem? Sou muito amiga do Carlinhos Antunes. Lancei a ideia e ele topou entrar nessa grande jornada que foi levantar novos arrajos", diz.


Novos arranjos

 

Além de Badi, de Antunes e do produtor Pedro Ito, quatro integrantes da Orquestra Mundana Refugi – Daniel Muller, Danilo Penteado, Maiara Moraes e Rui Barossi – também assinam os arranjos. Ela diz que o objetivo era amalgamar diferentes visões dentro do novo trabalho. "A Orquestra tem músicos de vários cantos do mundo, além de brasileiros, então é um grupo que já traz naturalmente uma interculturalidade absurda", observa.

 


A instrumentação diferenciada abriu margem para a ousadia. "Pedro Ito me mandou uma ideia de arranjo para 'Leão do Norte', mas me soou mais como um cover, muito parecida com a original. Disse isso e ele falou: 'Ah, você quer ousar'. Quando retornou, foi com um arranjo escrito em nove por oito, difícil até de aprender a cantar. Eu estava estudando a música e pensando: criei um monstro, mas maravilhoso", diz. Neste trabalho, ela deixa o violão um pouco de lado – toca só em duas faixas.

 


Para Badi, o álbum de 1993 resultou de um encontro feliz. "Tem essa coisa do Lenine, que na época a gente não conhecia, aquele nordestino que, de repente, chegou com um violão cheio de suingue, tocando de um jeito que eu ainda não tinha ouvido, fazendo percussão vocal, somando com o Suzano, me soou tudo muito impressionante", relata.

 


Ela diz que, para a releitura que acaba de lançar, não chegou a conversar com o músico pernambucano. Precisou, conforme aponta, apenas de algumas liberações de seus parceiros nas músicas.

 


Do repertório do álbum original, três músicas ficaram de fora do "Olho de peixe" de Badi: "Miragem do porto", "Mais além" e "Lá e Lô". Sem rodeios, Badi explica essa peneira: "Financeiramente, não deu para fazer tudo". Ela diz que o projeto foi realizado com recursos do Proac (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo). "Montar esses arranjos, ensaiar, gravar com esse tanto de gente, horas de estúdio, enfim, foi o que deu para fazer. A gente tinha um teto de orçamento."


Show de lançamento 

 

A artista ressalta, ainda, que, como parte do projeto aprovado, tem que realizar um show de lançamento na capital paulista. Ela pontua que uma coisa é gravar, a outra é tocar ao vivo. "São muitos ensaios, porque os arranjos foram escritos com partitura, todo mundo teve que aprender, e levar isso a público requer um mínimo de memorização, requer tempo. Começamos esse processo de escrita dos arranjos no primeiro semestre do ano passado e ainda estamos trabalhando incessantemente", afirma.

 


Apesar das dificuldades e do custo logístico, ela diz que quer levar o show para o máximo de lugares possível. "Claro que trabalhar com tanta gente dificulta a circulação, mas podemos tentar dar uma encolhida na orquestra, para tentar levar, pelo menos, para outras cidades dentro do estado de São Paulo. Eu, particularmente, acho que esse disco ficou muito foda, então adoraria poder apresentar em outras capitais. Vamos ver o que a gente consegue." 


TRAJETÓRIA

 

Badi Assad iniciou sua trajetória musical aos 14 anos, rapidamente dominando o violão e conquistando prêmios em concursos internacionais. Em 1989, lançou seu primeiro álbum, "Dança dos tons". Após se mudar para os EUA, em 1998, lançou o disco "Chameleon", que ampliou seu reconhecimento global.

 

Em meio a desafios, como uma breve interrupção na carreira devido a uma incapacidade neurológica motora, Badi superou obstáculos e retornou ao cenário musical com projetos inovadores, como o álbum "Hatched" (2016) e o documentário sobre sua vida, "Badi" (2017). Além de "Olho de peixe", suas realizações mais recentes são o álbum "Ilha" (2022) e o projeto "Mulheres do mundo" (2024).


“OLHO DE PEIXE”
• Badi Assad e Orquestra Mundana Refugi
• Lançamento independente (8 faixas)
• Disponível nas plataformas de streaming