Nara Leão (1942-1989) completaria 80 anos em 2022. A intérprete que marcou época ficou conhecida por romper paradigmas, pela luta por liberdade e pela coragem de se posicionar contra a ditadura militar. Além disso, ganhou fama pelas gravações de sucessos como “Diz que fui por aí”, “Carcará” e “Chega de saudade”.
Também em 2022, Zezé Polessa se dedicava à pesquisa que, com a ajuda de Miguel Falabella, deu origem ao musical “Nara”. Protagonizado pela atriz e com direção de Falabella, a montagem tem sessão nesta sexta (7/6), às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec.
Zezé, idealizadora do projeto, conta que a vontade de interpretar Nara surgiu durante a leitura da biografia “Ninguém pode com Nara Leão”, de Tom Cardoso. No processo de criação, ela ouviu todos os discos da cantora, assistiu a shows e entrevistas e também pesquisou sobre o contexto político da época. Foram três anos de preparação até a estreia do musical, em fevereiro, no Rio de Janeiro, depois de a atriz encerrar as gravações da novela “Amor perfeito” (TV Globo).
Em cena, Zezé Polessa interpreta diferentes momentos da vida da cantora, sem uma cronologia linear. São abordados fatos importantes, como a apresentação de “A banda”, ao lado de Chico Buarque, em 1966; o casamento com o cineasta Cacá Diegues; e os embates com os militares.
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Nara também esteve presente na criação de dois dos movimentos mais importantes da música brasileira: a Bossa Nova e o Tropicalismo. Nascida no Espírito Santo, ainda no primeiro ano de vida se mudou com a família para um apartamento em frente à praia de Copacabana.
Por lá, reunia os amigos da música que futuramente vieram a formar, juntos, a Bossa Nova. Alguns anos depois, aderiu ao Tropicalismo.
Singularidade
Zezé Polessa destaca a singularidade de Nara Leão como artista: aos 22 anos de idade, ela já cantava os versos “Podem me prender/ Podem me bater/ Podem até deixar-me sem comer/ Que eu não mudo de opinião” (“Opinião”, de Zé Kéti).
“Ela já tinha essa característica de querer cantar o que ninguém cantou, cantar de um jeito próprio dela. Nara era muito fiel a si mesma”, elogia a atriz, que credita a criação livre e respeitosa da cantora como fator determinante para sua coragem e sensibilidade. “Ela e a irmã (Danuza Leão) são realmente duas mulheres excepcionais.”
Segundo Zezé, a preparação para o papel se inspirou na leveza e suavidade da personagem. “Ela falava as opiniões dela sobre coisas contundentes e sérias de maneira muito doce, sem levantar a voz, mesmo que o que ela falasse pudesse ter consequências. Acho isso de extrema inteligência”, observa.
Assim, a Nara de Polessa não é interpretada de maneira mimética, mas a partir das nuances da sensibilidade da cantora capturadas pela atriz durante seu processo de pesquisa.
Voz, o desafio
A interpretação das canções foi um desafio para a atriz, que, apesar de conhecer as músicas desde a infância, tem mais do dobro da idade de Nara quando a cantora fez sucesso. O trabalho para alcançar as notas se deu com a ajuda de profissionais.
“Foram três anos ouvindo as músicas, me preparando, fazendo fono e cuidando da voz. Ela tem canções de harmonias muito sofisticadas e letras muito poéticas. Você não pode perder aquele recado que a música tem que dar. Continuo treinando, porque a preparação é um trabalho que não para”, observa Zezé.
Nara Leão morreu aos 47 anos, vítima de um tumor cerebral. Viveu intensamente, sempre carregando a urgência em descobrir coisas novas. Nara ajudou a revolucionar a música brasileira, abrindo caminhos para as mulheres que vieram depois dela.
“NARA – MUSICAL”
Com Zezé Polessa. Direção: Miguel Falabella. Nesta sexta-feira (7/6), às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Avenida Amazonas, 315 – Centro). Ingressos: R$ 80 (inteira), à venda na bilheteria local e no Eventim.