Criado em 1978 e extinto em 2015, o Uakti faz

Criado em 1978 e extinto em 2015, o Uakti faz "uma leitura da música erudita muito brasileira", como diz o diretor do filme

crédito:  Vera Godoy - 21/9/1987/EM/D.A.Press

 

Um longo histórico de colaborações e o pendor para a experimentação aproximam o Uakti – que se notabilizou pelo uso dos inusitados instrumentos inventados por seu fundador, Marco Antônio Guimarães – e o cineasta Eder Santos, um dos pioneiros da arte multimídia no Brasil.

 


Essa relação justifica o convite feito a Santos pelo canal Curta! para que assumisse a direção do documentário que estreia nesta segunda-feira (10/6), na faixa "Segundas da música", com foco na trajetória do grupo, iniciada em 1978 e encerrada em 2015.

 


Para contar a história e as inovações trazidas pelo Uakti ao cenário musical, o filme usa imagens de arquivo e atuais; entrevistas com Guimarães e com os demais integrantes ( Paulo Sérgio Santos, Arthur Andrés e Décio Ramos), além de músicos parceiros.

 


"Júlio Worcman, fundador do canal Curta!, que é meu amigo, me chamou, com minha produtora, a Trem Chic, para desenvolver esse projeto. Fomos atrás do acervo relativo ao Uakti e, quando vi, tinha muita coisa que eu mesmo tinha filmado", diz Eder Santos.

 

 

Ele destaca o clipe para a versão do "Bolero", de Ravel, executado pelo grupo com cabaças percutidas dentro de bacias com água. Esse trabalho ganhou o mundo, conforme diz. "O 'Bolero' foi definitivo para minha trajetória na videoarte", comenta.

 


Ele também fala da importante relação com o Grupo Corpo, para o qual Marco Antônio Guimarães compôs e o Uakti tocou trilhas de espetáculos, com destaque para "21" (1992). "Muitos registros dessa colaboração fui eu que fiz", observa. O diretor sublinha, ainda, sua parceria com Paulo Santos. "Temos um monte de coisas juntos; já fiz vídeo para música dele, ele já fez trilha para longa meu, quer dizer, são anos de parceria."

 


Uma das passagens do documentário focaliza a relação do Uakti com Milton Nascimento, de quem o grupo caiu nas graças logo no início de seu percurso, participando do disco "Sentinela" (1980). A parceria rendeu a primeira apresentação pública do Uakti, no Museu de Arte da Pampulha (MAP).

 


"A partir de 'Sentinela', a gente participou de diversos trabalhos do Milton e fez turnê com ele. O Milton foi um cara fundamental para a consolidação do grupo", diz Arthur Andrés no filme. Eder Santos estava na plateia no MAP. " Jamais imaginei que iria trabalhar com eles alguns anos mais tarde, a partir de 1985", conta.

 


Embora fosse próximo do grupo, Santos diz ter se surpreendido com informações novas na feitura do filme. “Primeiro tem ali (no documentário) uma coisa quase didática, com os integrantes, nas entrevistas, falando do jeito de tocar. E essa coisa de que, no início, os instrumentos inventados pelo Marco Antônio não tinham notas afinadas, algo que só veio mais adiante, para a colaboração com o Milton, eu só descobri isso agora, fazendo o documentário."

 


As entrevistas com os integrantes foram realizadas entre o final de 2023 e o início deste ano. "Pegamos todo mundo agora, é um material fresquinho. Eles não se encontravam há muito tempo, mas parece que sim, porque todo mundo fala de todo mundo e as histórias que contam são muito alinhadas. Achei o Marco Antônio tão diferente, ele fez uma operação de catarata e parou de usar óculos, o que, para mim, sempre foi quase que uma marca registrada", observa.

 


Além dos integrantes do Uakti, Berenice Menegale, Rufo Herrera, Ione de Medeiros e Tavinho Moura falam para as lentes de Eder Santos. São pessoas que, de alguma forma, se vinculam aos primórdios do grupo. "O Uakti meio que surgiu da Fundação de Educação Artística e do grupo Oficcina Multimédia, o que justifica a presença de Berenice, Rufo e Ione de Medeiros no documentário. E Tavinho foi quem os colocou em contato com Milton Nascimento", explica.

 


Registro importante

 

Paulo Santos diz que ficou muito feliz com o resultado do documentário. "Ninguém além do Eder poderia fazer isso, porque ele participou da nossa vida desde o início e tem um olhar artístico diferente. 'Bolero' foi uma virada para todos nós. Foi o primeiro clipe de música instrumental feito no Brasil, antes não tinha isso, e foi um passo importante, inclusive para fora do país", afirma.

 


Para Eder Santos, o que mais chama a atenção na história do Uakti é o fato de o grupo não ser muito mais conhecido no Brasil e no mundo. "É uma coisa que foi inventada aqui, uma leitura da música erudita muito brasileira, que só existe aqui. O Uakti foi uma criação essencial para a música mundial, então não consigo entender como é que não teve uma projeção maior. No meu entendimento, não podia nem ter acabado", afirma.

 


"Uakti"

Documentário dirigido por Eder Santos. Estreia nesta segunda-feira (10/6), às 21h, no canal Curta.! Duração: 97 minutos. Classificação: livre. Reexibições: terça (11/6), à 1h e às 15h; quarta (12/6), às 9h; sábado (15/6), às 14h15; e domingo (16/6), às 21h15